"O que acaba acontecendo é que, políticos, os dirigentes estão sempre prontos para atender as demandas do torcedor. Aí você contrata cinco, seis, dez atletas, que não são os atletas que precisam ser contratados, que não tem o perfil do treinador. Daqui seis meses, você manda o técnico embora e fica com um elenco inchado. Este erro na gestão do esporte é o maior e o que mais levou os clubes às situações que estão hoje. O futebol brasileiro é muito arcaico na sua forma de investir", afirmou.
Exemplos não faltam para ilustrar a fala de Grafietti. Na atual temporada, por sinal, dois dos clubes com maior receita no país já passaram por problemas de gestão esportiva como os citados.
Detentor da segunda maior receita de 2018, o Flamengo contratou o técnico Abel Braga no início do ano, junto a um pacotão estrelado de reforços (Bruno Henrique, Gabriel, Arrascaeta e Rodrigo Caio). No fim de maio, Abel foi demitido, o português Jorge Jesus chegou, fez seus pedidos à diretoria e, assim, as contratações continuam (Rafinha, Gérson, Pablo Marí).
Com o São Paulo, terceiro no ranking de receitas, não foi diferente. O Tricolor começou 2019 com o treinador André Jardine, antes interino, efetivado. Mesmo com várias peças novas (Hernanes, Pablo, Volpi, Léo, Igor Vinícius, Biro Biro e Willian Farias), a queda foi cedo, ainda em fevereiro, logo após a eliminação na pré-Libertadores. Cuca foi o escolhido para assumir a equipe e, logo que chegou, também fez seus pedidos à direção. Além das dispensas (Jucilei, Bruno Peres e Nenê), exigiu mais reforços (Alexandre Pato, Tchê Tchê, Vitor Bueno, Raniel e Marquinhos Calazans).
Se clubes considerados bem estruturados, para os padrões nacionais, cansam de enfrentar este tipo de problema, clubes com receitas menores, então, nem se fala. Ano após ano, os casos são inúmeros, e a perspectiva de melhora, com o aumento de custos e de endividamento, continua pequena, tal como evidencia o estudo divulgado pelo Itaú BBA. Para César Grafietti, de nada adianta uma boa gestão administrativa, se a gestão esportiva continuar com as mesmas deficiências.
"Na Europa, você tem um diretor técnico, que é responsável por contratar um treinador, que, junto com a equipe de análise de desempenho, vai montar o elenco, vai vender e vai contratar, dentro de um orçamento definido. No Brasil, você ainda tem um diretor de futebol, que normalmente é um cara sem especialização, que acha que conhece de futebol por ter visto mais treinos do que os outros. Falta tecnologia, uma estrutura profissional, falta controle financeiro", completou.
O que é a Análise Econômico-financeira do Itaú BBA:
A Análise Econômico-financeira dos Clubes Brasileiros é um balanço anual realizado pelo Itaú BBA, que engloba, há uma década, informações públicas das contas dos maiores clubes do país (no balanço de 2018, a exceção foi o CSA). O estudo é baseado nas receitas e nos gastos totais das instituições ao longo de um ano, as quais permitem ao torcedor entender melhor a estrutura financeira de seu respectivo time, dos rivais e dos demais, em meio ao cenário nacional.