Fora de 2016, Palmeiras tem bronze no judô e testemunha de Munique 1972 - Gazeta Esportiva
Fora de 2016, Palmeiras tem bronze no judô e testemunha de Munique 1972

Fora de 2016, Palmeiras tem bronze no judô e testemunha de Munique 1972

Gazeta Esportiva

Por Bruno Ceccon

26/03/2015 às 10:00

São Paulo, SP


Henrique Guimarães, ganhador de uma medalha de bronze no judô, e o ex-halterofilista Luiz Gonzaga de Almeida, com duas Olimpíadas como atleta no currículo, integram a sociedade esportiva do Palmeiras. O anúncio das sedes do futebol nos Jogos do Rio de Janeiro 2016 frustrou a dupla, já que o estádio Palestra Itália acabou descartado em detrimento da arena do Corinthians.


Veja fotos da visita ao estádio


O torneio olímpico de futebol inclui sete estádios de seis cidades. Além do Rio de Janeiro (Maracanã e Engenhão), foram escolhidas São Paulo (Itaquerão), Belo Horizonte (Mineirão), Brasília (Mané Garrincha), Salvador (Fonte Nova) e Manaus (Arena da Amazônia). A exemplo da capital fluminense, São Paulo também poderia ser contemplada com dois campos, o que chegou a animar os palmeirenses.


A convite da Gazeta Esportiva, Henrique Guimarães e Luiz Gonzaga de Almeida visitaram o novo Palestra Itália, reaberto em 2014. Eles ainda trabalham no clube e, juntos, somam cinco Olimpíadas como atletas. A dupla abusou das fotos no celular durante o trajeto que passou por vestiário, beirada do gramado e anel superior do novo estádio.


Henrique Guimarães, levado ao Palmeiras por seu primeiro treinador, defendeu o clube de forma ininterrupta de 1982 a 1998. Nos Jogos Olímpicos de Atlanta 1996, conquistou o bronze e é até hoje o único medalhista da agremiação em esportes individuais. O ex-judoca não perdeu as esperanças, já que o Corinthians ainda negocia detalhes financeiros para receber partidas do torneio de futebol em 2016.


“Eu vi que o rival não está querendo muito... Espero que a situação mude e os jogos venham para o Palmeiras. O estádio também fica em São Paulo e é muito moderno. Nada mais justo do que promover um evento de grande porte aqui, um clube com tradição olímpica e no futebol”, afirmou Henrique, munido de seu reluzente bronze, com o cordão na cor verde.

Nos Jogos de Atlanta 1996, Henrique Guimarães ganhou a única medalha do Palmeiras em esportes individuais
Nos Jogos de Atlanta 1996, Henrique Guimarães ganhou a única medalha do Palmeiras em esportes individuais - Credito: Djalma Vassão/Gazeta Press
Então com 10 anos, ele passou a treinar na categoria pré-infantil do Palmeiras e, financiado pela agremiação, disputou suas primeiras competições internacionais. Três meses antes dos Jogos Olímpicos de Atlanta 1996, o judoca recebeu uma proposta do tradicional Pinheiros, devidamente coberta por Mustafá Contursi, presidente do clube alviverde na época.


“Naquele tempo, fazer esporte no Brasil era muito difícil e o judô não tinha tanta tradição. Na verdade, a gente pagava para competir. Eu era de família muito pobre, quase não tinha dinheiro para vir treinar. O Palmeiras foi o clube que acreditou em mim, que me deu uma oportunidade, mesmo com as dificuldades financeiras que também enfrentava”, recordou Henrique.


O judoca participou do ciclo para os Jogos de Barcelona 1992, mas não conseguiu se classificar. Pela televisão, vibrou com o ouro conquistado pelo compatriota Rogério Sampaio na Espanha e avisou sua então namorada (atual esposa): “Para a próxima Olimpíada, quem vai sou eu”. Quatro anos depois, como representante do Brasil e do Palmeiras, subiu ao pódio em Atlanta 1996.


“Em momentos como esse, passa o famoso filme na cabeça. No esporte, você jamais ganha sozinho, sempre tem várias pessoas e entidades que te ajudam, e o Palmeiras contribuiu decisivamente com meu pódio olímpico”, disse Henrique, que mantém o bronze exposto no hall de sua casa. “Nos momentos difíceis da vida, olho para a medalha e ganho segurança.”

Depois de competir na Cidade do México 1968 e em Munique 1972, Luiz Gonzaga de Almeida foi técnico Seul 1988
Depois de competir na Cidade do México 1968 e em Munique 1972, Luiz Gonzaga de Almeida foi técnico Seul 1988 - Credito: Djalma Vassão/Gazeta Press
Durante sua carreira no Palmeiras, Henrique Guimarães costumava encontrar na musculação Luiz Gonzaga de Almeida. Nascido na Bahia, ele migrou para São Paulo e passou a trabalhar em um circo como trapezista, carreira que foi encerrada após uma queda na rede de proteção. Em seguida, acabou contratado como garçom em um restaurante nas imediações do clube.


Famoso por seu sucesso no braço de ferro, Gonzaga foi desafiado pelo halterofilista Bruno Barabani, fã das vitaminas do restaurante. “Ele disse: ‘Vem aqui, vamos ver se você é forte mesmo’. Eu nem sabia o que era halterofilismo, mas ganhei. Minha natureza sempre foi muito forte”, recordou, com o peito estufado. Dias depois, por intermédio de outro cliente do estabelecimento, chegou ao halterofilismo do Palmeiras, nos anos 1950.


“Eu fiz alguns testes no clube, fui bem e o treinador mandou me apresentar na quarta-feira da semana seguinte. Compareci na data marcada, e estou aqui até hoje, meu filho”, disse Gonzaga, que chegou a deixar o clube para defender o Pinheiros, mas acabou retornando. O ex-trapezista ganhou o bronze nos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg 1967 e disputou as edições da Cidade do México 1968 (13º) e de Munique 1972 (15º) das Olimpíadas.

















Foto: Divulgação
ARQUEIRA É ESPERANÇA PARA 2016

Embora seu estádio não tenha sido escolhido para receber partidas do torneio olímpico de futebol em 2016, o Palmeiras deve estar representado nos Jogos do Rio de Janeiro. Sarah Nikitin, arqueira, é a principal esperança do clube.


A atleta do Palmeiras e da Seleção vem conseguindo resultados expressivos no tiro com arco, como a medalha de prata nas duplas mistas ao lado de Marcus Vinícius D’Almeida na etapa da Colômbia da Copa do Mundo 2014, feito inédito para o Brasil.


O mesatenista Hugo Hoyama, que participou de seis Olimpíadas como atleta, hoje treina a chinesa naturalizada Lin Gui no São Bernardo/Palmeiras. A equipe usa o escudo alviverde, mas não há vínculo contratual com o clube.



Na Alemanha, o atleta palmeirense testemunhou a maior tragédia das história dos Jogos Olímpicos. Em Munique, menos de 30 anos após o final da Segunda Guerra Mundial, 11 integrantes da delegação de Israel foram assassinados por terroristas do grupo Setembro Negro. Joseph Romano, um dos mortos no ataque iniciado na Vila Olímpica, era halterofilista.


“A gente treinou junto um dia antes!”, lembrou Gonzaga, com o olhar perdido no rumo do gramado. “Quando chegamos na Vila Olímpica, vimos toda aquela confusão. Estava cheio de polícia e tivemos dificuldade para entrar. Soube que um atleta do halterofilismo foi morto e fiquei apavorado. O atentado estragou tudo. Na verdade, a partir dali, a tranquilidade dos atletas olímpicos acabou”, completou.


Na época, Luiz Gonzaga de Almeida trabalhava na empresa de halteres de Bruno Barabani, o fã de vitaminas que também representou o Palmeiras nas Olimpíadas. Como o esporte era amador, ele não pôde abandonar seus afazeres para participar da edição de Montreal 1976. Assim, os traumáticos Jogos de Munique 1972 marcaram a despedida do evento como atleta.


Atualmente, Henrique Guimarães e Luiz Gonzaga de Almeida trabalham na Sociedade Esportiva Palmeiras – o primeiro é professor e coordenador do judô e o segundo, técnico do levantamento de peso. Em suas respectivas modalidades, os antigos competidores sonham com a possibilidade de formar novos talentos olímpicos no clube.


“O pouco que tive na minha carreira, devo ao Palmeiras e sou muito grato ao clube. Por isso, tento retribuir trabalhando aqui hoje. Nossa categoria de base é muito forte e já tivemos alguns atletas na Seleção Brasileira. Espero que esses judocas consigam chegar aonde eu cheguei ou até mais longe”, projetou Henrique.




















ATLETAS CONVIVERAM COM ÍDOLOS DO FUTEBOL
Halterofilista Luiz Gonzaga de Almeida conheceu ídolos da Academia. Foto: Djalma Vassão/Gazeta Press

Frequentador do Palmeiras desde os anos 1950, o ex-halterofilista Luiz Gonzaga de Almeida conviveu com os ídolos da Academia de Futebol. Henrique Guimarães, ganhador de uma medalha de bronze no judô em Atlanta 1996, também se acostumou a cruzar com os boleiros, na década de 1990.


“Como na época o Palmeiras não tinha CT, os jogadores treinavam no Parque Antártica mesmo. Quando chovia, eles faziam musculação. Então, convivi com Djalma Santos, Dudu, Ademir da Guia, Leivinha. O Roberto Carlos, nos anos 1990, também treinava comigo. ‘Posso fazer uma perninha?’, ele perguntava”, lembrou Gonzaga.


O sucesso de Henrique Guimarães no judô coincidiu com a retomada do clube no futebol. Palmeirense de coração, ele costumava torcer nas arquibancadas pelos jogadores com quem cruzava no departamento médico e em eventos promocionais de uma marca de material esportivo.


“Eu era patrocinado pela empresa que fornecia chuteiras a alguns jogadores, como o Rivaldo. Então, às vezes nos encontrávamos em eventos. Na época, o departamento médico ficava embaixo do gramado do Parque Antártica. Você cruzava com Zinho, Mazinho... Era legal ver os caras se tratando lá, junto conosco”, recordou.


 

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