A trajetória do maior campeão do futebol brasileiro começou no dia 24 de janeiro de 1915. Cinco meses após sua fundação, com um grupo de jogadores que defendeu o Corinthians no ano anterior, o Palestra Itália venceu o Sport Club Savoia por 2 a 0 em Votorantim, então distrito de Sorocaba.
Inspirados pelas recentes excursões ao Brasil de Torino e Pro-Vercelli, Luigi Cervo, Vicente Ragognetti, Ezequiel Simone e Luigi Marzo idealizaram a criação de um clube de futebol para representar a colônia italiana em São Paulo, projeto concretizado em 26 de agosto de 1914.
Nos cinco meses anteriores ao primeiro jogo do time de futebol, o Palestra Itália procurou recrutar jogadores. Alguns clubes que surgiram no mesmo período acabaram desaparecendo de forma precoce após derrotas consecutivas nas partidas iniciais, algo que a nova agremiação queria evitar.
Elenco formado, o Palestra seguiu de trem para Sorocaba com a finalidade de estrear contra o Savoia, mais um clube de imigrantes italianos, fundado em 1900. Nos dias que antecederam a partida, disputada no antigo Campo dos Castelões, a Taça Savoia ficou exposta na vitrine de uma loja de calçados de Votorantim.
A comitiva que partiu de São Paulo, formada por jogadores e dirigentes palestrinos, além de jornalistas, foi recebida efusivamente em Sorocaba. O grupo visitou a redação do jornal Cruzeiro do Sul e, em seguida, participou de um farto almoço no hotel, oferecido pelo Savoia.
Como de costume na época, o jogo entre os segundos quadros antecedeu a atração principal. Luigi Cervo, mentor da criação do Palestra Itália, entrou em campo e participou da derrota por 4 a 0 que seria vingada pela equipe de cima minutos depois.
Curiosamente, na primeira partida de sua história o Palestra Itália contou com cinco jogadores que defenderam o Corinthians em 1914, ano em que o clube foi campeão paulista. Fúlvio, Police, Américo, Amílcar Barbuy e Bianco usaram calções brancos e camisas verdes (com as letras PI entrelaçadas no peito) em Votorantim.
Como o Corinthians não disputou partidas oficiais em 1915 por problemas políticos, seus jogadores defenderam outros clubes e, na época, a rivalidade atual não existia. Nos anos seguintes, Bianco Spartaco Gambini virou ídolo palestrino e Amílcar Barbuy também fez história no time.
Imparato e Imparatinho, que jogariam pelo Palestra Itália no futuro, vestiram a camisa do Savoia no dia 24 de janeiro de 1915. Com gols em cobranças de pênaltis, assinalados pelo árbitro Sílvio Lagreca e convertidos por Bianco e Alegretti, a equipe visitante ganhou por 2 a 0. Valle atuou como capitão e também fez as vezes de treinador.
Após a partida, em sua sede, o time local entregou ao Palestra a Taça Savoia. Na ocasião, Luigi Cervo, mentor da criação do clube e derrotado no segundo quadro, discursou em agradecimento. O jornal Fanfulla, voltado aos imigrantes italianos, noticiou com entusiasmo o triunfo da equipe em sua edição de 25 de janeiro de 1915.
“Uma soberba afirmação do Palestra Itália!”, titulou o periódico. “Os valores vencedores foram agarrados, beijados e levados em triunfo para os vestiários. Registramos com viva satisfação o sucesso obtido pelo time nesta estreia, na qual se revelou sua excelente organização e os ótimos elementos que o compunham”, descreveu o Fanfulla.
FICHA TÉCNICA:
SPORT CLUB SAVOIA 0 X 2 PALESTRA ITÁLIA
Local: Campo dos Castelões, em Votorantim (SP)
Data: 24 de janeiro de 1915
Árbitro: Sílvio Lagreca
Gols:
PALESTRA ITÁLIA: Bianco e Alegretti
PALESTRA ITÁLIA: Stillitano; Bonato e Fúlvio; Police, Bianco e Valle; Cavinato, Américo, Alegretti, Amílcar e Ferré
SPORT CLUB SAVOIA: Colbert; Dindino e Silvestrini; Gigi, Zecchi e Fredrich; Imparato, Cardoso, Ferreira II, Imparatinho e Pinho
