Após confusão, presidente do Santos pede mais alto por Caju, que tenta contornar - Gazeta Esportiva
Após confusão, presidente do Santos pede mais alto por Caju, que tenta contornar

Após confusão, presidente do Santos pede mais alto por Caju, que tenta contornar

Gazeta Esportiva

Por Lucas Musetti Perazolli

14/07/2019 às 06:00 • Atualizado: 14/07/2019 às 09:33

Santos, SP

Peres registrou boletim de ocorrência contra empresário (Foto: Djalma Vassão/Gazeta Press)


A possibilidade de negociar Caju parecia um assunto comum no Santos, mas ganhou grande repercussão, com direito a caso policial.

O jogo duro do presidente José Carlos Peres para liberar o lateral-esquerdo ao Braga (POR) irritou o empresário Anderson Franciscon. Como a Gazeta Esportiva antecipou, o agente perdeu a cabeça em discussão e acabou empurrando o dirigente na Rua Princesa Isabel, em frente à Vila Belmiro, na última quinta-feira. Um boletim de ocorrência foi registrado na sexta por "extorsão" (veja os detalhes abaixo). 

Em contato com a reportagem, Anderson confirmou o atrito com o presidente e se justificou. O empresário vê falta de respeito de Peres no mercado.

"Os fatos não se deram conforme consta no boletim de ocorrência, tendo o próprio presidente desmentido esse conteúdo na imprensa. Infelizmente o descaso e falta de respeito é uma constante nessa gestão, cabendo-nos resguardar tão somente os interesses do atleta e do próprio clube na falta de quem deveria assim proceder. São recorrentes os relatos do descaso que muitos têm sofrido seja este empresário ou até mesmo treinadores durante essa gestão. Daqui para frente meu advogado cuidará do caso. Ele está por dentro de tudo que aconteceu desde o início das tratativas", disse o empresário, antes de comentar sobre a negociação.

"Pessoalmente, seria melhor que o Caju assinasse um pré-contrato com o Braga. A ideia inicial do Braga era o pré-contrato mesmo. Eu ganharia parte das luvas, eu não sou empresário rico, resolveria minha vida. Mas não queremos fazer as coisas erradas, Caju quer deixar algo para o Santos, sair pela porta da frente e poder começar a temporada na Europa. O Santos teria dinheiro agora, ganharia depois e deixaria de pagar até o fim do ano. Nós podemos assinar um pré-contrato, mas conseguimos uma compensação financeira que ele queria, depois pediu mais, e aí pediu um percentual de venda futura", completou.

Nas contas dos representantes de Caju, o Santos teria economia milionária na liberação de Caju, além do dinheiro pela rescisão do contrato com validade até dezembro. O Peixe deixaria de pagar R$ 1,5 milhão em salários e encargos, receberia 200 mil euros (R$ 850 mil) agora e outros 300 mil euros (R$ 1,3 mi) quando o Braga negociar o lateral no futuro, um total de quase R$ 4 milhões.

O presidente Peres, porém, parece irredutível. E a discussão com o empresário só faz com que o mandatário queira ainda mais pela liberação imediata - valores diferentes aos registrados no B.O.

"O Santos não é mais a casa da Mãe Joana. O Santos não pode perder sua soberania. Eles (Braga) queriam pagar 200 mil euros. O Santos quer 1 milhão de euros (R$ 4,2 mi) mais 30% dos direitos econômicos", disse Peres, à Gazeta Esportiva. 

Caju tenta contornar situação com o presidente (Ivan Storti)


Boletim de ocorrência

O presidente José Carlos Peres registrou o documento na manhã da última sexta-feira, no 14º Distrito Policial, em Pinheiros, São Paulo, com "extorsão" como natureza.

Peres se dispôs a fazer exame de constatação de lesão corporal junto ao Instituto Médico Legal para dar início à investigação. Veja o texto abaixo, na íntegra.

"Relata o Sr. José Carlos que exerce o mandato de Presidente do Santos Futebol Clube e, há alguns dias, vem enfrentando problemas com o empresário de um dos jogadores. Isso vem ocorrendo porque o jogador conhecido como CAJU, de nome Wanderson de Jesus Martins, possui um contrato de trabalho com o Santos Futebol Clube que se encerra no dia 31 de dezembro de 2019, porém, em razão do interesse mostrado por um time de futebol europeu de contratá-lo, surgiu a possibilidade da negociação de seu vínculo contratual.

Deste modo, o Sr. José Carlos, defendendo os interesses do Santos Futebol Clube, buscou solucionar essa situação com o empresário do mencionado jogador, de nome ANDERSON DA SILVA FRANCISCON, a fim de chegarem a um acordo consensual de interesse de todos. Neste sentido, sempre respeitando os valores comumente estabelecidos pelo mercado de jogadores, fez uma proposta ao empresário em que se comprometia a liberar o atleta, pedindo, como contrapartida, o pagamento de duzentos mil euros no ato da liberação, mais 30% (trinta por cento) das futuras negociações do jogador. Contudo, apesar de, como já dito, a proposta oferecida pelo Sr. José Carlos estar conforme os valores estabelecidos no mercado de atletas, o empresário do jogador, desde o início dessa negociação, que se dá há aproximadamente uma semana, vem adotando uma postura irredutível e deveras agressiva, uma vez que deseja que a sua contraproposta seja aceita nos exatos termos em que ele propôs, sem chance de negociação, o que, evidentemente, é prejudicial às finanças do Santos Futebol Clube.

Neste sentido, não havendo acordo para liberação do vínculo contratual do atleta, o seu empresário, Sr. ANDERSON, vem importunando e ofendendo não apenas o Sr. José Carlos, presidente do clube, como também o Sr. Pedro Felipe Gomes da Silva, gerente jurídico da agremiação, o qual também se faz presente nesta unidade policial, informando que, desde a última quarta-feira, dia 10 de julho de 2019, vem sendo ofendido pelo aludido empresário, o qual, conforme relatado, deseja, a qualquer custo, que a negociação do jogador seja feita nos termos que ele quer.

Como se não bastassem as importunações e ofensas feitas pessoalmente e por telefone, no dia de ontem, 11 de julho de 2019, por volta das 14h15min, quando o presidente do clube, Sr. José Carlos Peres, e o seu gerente jurídico, Sr. Pedro Felipe Gomes da Silva, saíam das dependências do clube para irem almoçar, foram abordados pelo Sr. Anderson da Silva Franciscon, o qual já estava tocaiando-os, e, ao se aproximar, já se mostrava visivelmente alterado e passou a vociferar: "PRESIDENTE, TEM QUE RESOLVER O NEGÓCIO LÁ! TEM QUE RESOLVER A SITUAÇÃO DO CAJU!".

Como o empresário do atleta já chegou gritando, se aproximou rapidamente e gritava com o dedo em riste, o Sr. José Carlos Peres pediu a ele que se acalmasse, contudo o Sr. Anderson mostrava-se irredutível e continuou a bradar que iria solucionar aquela situação naquela hora, nos seus termos, ao que o presidente, então, disse que pretendia resolver tudo, mas que faria tudo calmamente, conversando. Apesar de o Sr. José Carlos ter mostrado interesse em dar solução àquele impasse, porém depois da devida negociação, o Sr. ANDERSON, irritado ao ver que as coisas não seriam feitas nos seus termos, aproveitando-se do seu tamanho avantajado e de sua força física, investiu contra o presidente do clube, pessoa idosa, colocando uma das mãos em sua boca e a outra em seu peito, desferindo um empurrão na sequência, fazendo com que ele caísse sobre uma motocicleta que estava estacionada no local.

Na sequência, em razão do empurrão, um dos seguranças do clube imediatamente se aproximou e conteve o Sr. ANDERSON, a fim de evitar novas agressões, afastando-o do local. Vale dizer que, enquanto era afastado pelo segurança, o empresário do atleta continuava a bradar impropérios e a proferir ameaças, dizendo frases como: "FILHO DA P..., VAGABUNDO! SE VOCÊ NÃO LIBERAR O JOGADOR, EU VOU TE PEGAR! VOCÊ VAI LIBERAR! VOCÊ VAI VER O QUE VAI ACONTECER! NÓS VAMOS NOS ENCONTRAR AINDA!".

Em virtude do ocorrido, que se deu em via pública, nas portas da Vila Belmiro, o fato chamou a atenção da imprensa, que deu repercussão a tudo, fazendo com que o Sr. José Carlos concedesse uma entrevista coletiva, na qual, com o intuito de minimizar o acontecimento a fim de preservar a imagem do clube e dar solução ao caso apenas nas instâncias competentes, afirmou que houve apenas discussão e provocações.

Por outro lado, o Sr. ANDERSON DA SILVA FRANCISCON, ao ser procurado pelos órgãos de imprensa, de maneira bastante arrogante e insolente, confirmou a agressão como se tivesse orgulho em ter batido um idoso, e, não obstante, ainda aproveitou a oportunidade para realizar novas ameaças, uma vez que, segundo os jornalistas, ele disse que "se não fossem os seguranças, tinha ficado pior mesmo. Não fossem os seguranças, ia sair coisa pior. Eu vou lá para a porta da Vila Belmiro e vou ficar lá de novo, até aparecer gente para resolver o problema. Ou se sair alguém de lá que resolve, eu vou pegar e vou para cima de novo para resolver.

Em face do exposto, tendo em vista a intenção econômica do agente, que se dá mediante violência e ameaças, registra-se o presente sob a natureza de extorsão para adoção das medidas cabíveis, expedindo-se, desde já, requisição ao Instituto Médico Legal para que seja realizado competente exame de constatação de lesão corporal".

Conversa com Caju

Diante do impasse entre o presidente José Carlos Peres e o empresário, Caju aposta em sua participação para resolver a situação e poder jogar no Braga já neste semestre.

O lateral-esquerdo busca reunião com Peres para explicar suas motivações, revelar o desejo de sair pela porta da frente e não ficar até dezembro recebendo e sem estar nos planos, casos semelhantes aos de Robson Bambu e Léo Cittadini.

Uma conversa estava previamente marcada para a última sexta, mas não ocorreu. O papo deve ocorrer na segunda-feira. Se não houver acordo, o caminho deve ser a assinatura do pré-contrato com o clube português, que não pensa em aumentar os valores envolvidos.

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