Controle de recursos no Internacional poderia dificultar desvios por meio de governança corporativa - Gazeta Esportiva
Controle de recursos no Internacional poderia dificultar desvios por meio de governança corporativa

Controle de recursos no Internacional poderia dificultar desvios por meio de governança corporativa

Gazeta Esportiva

Por Redação

25/03/2024 às 17:37

São Paulo, SP

O ex-presidente e o vice de finanças do Sport Club Internacional foram condenados, em primeira instância, por Crimes de Organização Criminosa e Lavagem de Dinheiro, no início deste mês (4/3). As penas foram de 10 a 19 anos. Caso tivesse efetivamente adotado práticas de governança corporativa, o Inter teria melhores ferramentas para monitorar a gestão dos recursos do clube, pois a governança envolve um conjunto de práticas que visam voluntariamente prestar informações verdadeiras, tais como a origem e a aplicação dos recursos, analisa Gisélia Silva, conselheira de empresas e especialista em governança corporativa.

Com a criação da lei da Sociedade Anônima do Futebol (SAF), em 2021, a equipe migra para o formato SAF passa a ser tratada como empresa, podendo receber investimentos externos e até passar por aquisições.


Alguns times de futebol possuem um faturamento maior do que empresas listadas na B3. Entretanto, relatório da consultoria Ernest Young mostrou que os times de futebol brasileiros encerraram o ano de 2022 com dívidas somadas de R$ 11 bilhões.

Os desvios de recursos ocorreram no período em que o Internacional foi rebaixado à segunda divisão. Além de atingir a instituição, os crimes repercutiram profundamente nos torcedores, pois o futebol faz parte da sua identidade. "Esse caso nos remete a um tema central na atualidade: a sustentabilidade. Como nos ensina a boa governança, práticas sustentáveis não estão associadas exclusivamente à preservação de recursos naturais", explica Gisélia.

Como definido pelo Código das Melhores Práticas do IBGC, "a governança corporativa é um sistema formado por princípios, regras, estruturas e processos através do qual organizações são dirigidas e monitoradas, visando à geração de valor sustentável para si, seus stakeholders e a sociedade em geral", afirma a especialista.

Ela faz a seguinte indagação: "Se a sociedade espera que as empresas tenham um sistema de governança e dentro dele um programa de compliance visando prestar contas aos seus stakeholders, como são chamados os investidores, clientes, fornecedores, empregados, etc, as entidades esportivas, que gerem recursos significativos, não deveriam também ter processos transparentes, que pudessem prevenir que dirigentes se sentissem à vontade para praticar esse tipo de crime?"

Felizmente os clubes que avançaram na conscientização e começaram a investir em governança estão colhendo frutos. Também os patrocinadores buscam aportar recursos naqueles que já deram esse passo em direção à adoção dos princípios de transparência e prestação de contas e que não agregam um fator de risco à sua reputação.

"Além disso, os dirigentes dos clubes de futebol devem respeito ao sócio torcedor, que compra ingressos, que veste a camisa oficial, vai ao estádio e acompanha o time nos bons e maus momentos. Ele é um investidor que aplica seus recursos financeiros, mas principalmente aporta um investimento emocional”, explica Gisélia, que também é membro independente do Comitê Gestor do Rating Integra, do qual fazem parte Instituto Ethos, Comitê Olímpico Brasileiro, Comitê Paralímpico do Brasil, Pacto pelo Esporte e Comitê Brasileiro de Clubes.

Em 2023, o governo inglês publicou um “White Paper” (A Sustainable Future - Reforming Club Football Governance: Consultation Response) a partir de uma consulta às partes interessadas (os chamados stakeholders) no futebol, buscando informações e demandas para embasar a criação de um órgão independente de regulação.



"Na Inglaterra, assim como no Brasil, o futebol é uma paixão nacional, e o governo está atento à governança, ou seja, o conjunto de práticas que asseguram a sustentabilidade desse negócio milionário chamado esporte", afirma Gisélia.

Afinal, para que o show possa continuar, é necessário que todos os times “concorrentes” estejam saudáveis financeiramente, pois sem competição não há espetáculo.

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