Gazeta Esportiva

Após cinco anos, Inter vê ídolos do bi da América virarem carrascos

Há cinco anos, o Sport Club Internacional erguia a taça da Copa Libertadores da América pela segunda vez. Sob o comando de Celso Roth, a equipe gaúcha abriu a decisão contra o Chivas Guadalajara com vitória por 2 a 1 longe de seus domínios e confirmou o título com um sofrido 3 a 2 no Beira-Rio. Os gols da virada no jogo de volta saíram pelos pés de Rafael Sóbis, Giuliano e Leandro Damião. Meia década depois, contudo, os atletas que se consagraram ídolos do bicampeonato vestem as camisas dos principais carrascos da má fase que atravessa o time de Porto Alegre.

Revelado pelo Inter e protagonista da primeira conquista da América em 2006, o gaúcho Sóbis virou um dos líderes do Tigres, mexicano que eliminou o Colorado na semifinal da Libertadores no mês passado e deu início à crise no clube.

O sistema de rodízio de Diego Aguirre, tão efetivo no início da temporada, nas disputas do Campeonato Gaúcho e da Libertadores, não teve o mesmo efeito no Campeonato Brasileiro, disputado simultaneamente com o mata-mata do torneio continental. O então comandante não escondia o fato de priorizar a busca do tri. “Ninguém gosta de ficar tão embaixo na tabela. Não abrimos mão do Brasileiro, apenas focamos na coisa mais importante que vem pela frente, que é a Libertadores”, disse o uruguaio às vésperas do duelo decisivo com o Tigres.

Em cinco anos, Sóbis passou de herói do bicampeonato para algoz do tri (fotos: Alexandre Lops/Inter e AFP)

Após a vitória sobre o Santa Fe nas quartas de final, o Inter teve quase 40 dias para se dedicar exclusivamente ao Brasileirão e à preparação para o jogo contra o time de Sóbis, pois a Libertadores foi paralisada para a realização da Copa América. Empolgada com a perspectiva de se tornar o clube brasileiro tricampeão no menor intervalo de tempo, a comissão técnica poupava os titulares apoiada por uma diretoria que tentava minimizar os resultados negativos chamando atenção para o torneio continental. O presidente Vitório Piffero chegou a declarar que havia “aberto mão” da Série A para focar exclusivamente na semifinal.

Todos os esforços não impediram a frustração de ser eliminado pelo antigo ídolo, que ainda desperdiçou um pênalti no jogo de volta em Monterrey. Sóbis só não faturou a terceira taça antes do Inter porque o Tigres foi derrotado pelo River Plate na decisão. E não foi a primeira que vez o ex-camisa 11 colorado esteve em uma formação que tirou o clube da Libertadores. O atacante pertencia ao Fluminense que despachou o Inter nas oitavas de final em 2012.

A derrota para os mexicanos fez com que a melancolia se abatesse sobre o vestiário colorado. Sem Nilmar e Aránguiz, vendidos a clubes europeus, as exibições seguintes à queda se limitaram a dois empates sem gols com Ponte Preta e Chapecoense. Sob a premissa de melhorar a atmosfera do time para buscar a reabilitação no Gre-Nal 407, a diretoria decidiu demitir Aguirre a três dias do clássico na Arena. Foi quando Giuliano, contratado pelo Grêmio no ano passado, apareceu para aumentar o tormento da torcida alvirrubra.

No fim do primeiro tempo, o meio-campista aproveitou uma falha da defesa e abriu o placar com um golaço de fora da área. Desestabilizado e comandado pelo auxiliar Odair Hellmann, o Inter viu os arquirrivais aumentaram a vantagem com dois de Luan, um de Fernandinho e um contra de Réver e cravarem a maior goleada tricolor dos últimos cem anos.

Meia década depois de fazer a festa dos colorados, Giuliano calou a torcida ao abrir o placar na goleada histórica no Gre-Nal 407 (fotos: AFP e Lucas Uebel/Grêmio)

As únicas vezes em que a formação do Beira-Rio perdeu por diferença superior a cinco gols foram no início do século passado: 1909 (10 a 0), 1910 (5 a 0), 1911 (10 a 1) e 1912 (6 a 0). Desde então, a pior derrota havia sido em 1977, quando o Grêmio venceu um Inter todo vestido de vermelho por 4 a 0 e fez o clube abandonar o novo uniforme. Embora o Gre-Nal 406, válido pela final do Gauchão, tenha coincido com a Libertadores no início de maio, Aguirre comandou o triunfo por 2 a 1 diante da torcida e assegurou o 44º título estadual. “É verdade que a prioridade é a Libertadores, mas não posso não pensar no Grêmio”, disse o uruguaio antes da decisão, reconhecendo a importância do clássico gaúcho.

Ainda impactado pela humilhação, o Colorado amenizou um pouco a pressão ao vencer o Fluminense pelo placar mínimo na última quarta-feira, mas o resultado não foi suficiente para fazer a equipe subir na tabela. No dia seguinte ao triunfo, a diretoria anunciou Argel Fucks como novo treinador. O primeiro desafio do gaúcho foi contra o Cruzeiro, no Mineirão, onde o Inter reencontrou o último de seus heróis do título de cinco anos atrás.

Diferentemente dos ex-companheiros, Leandro Damião não foi ativo contra seu antigo clube, mas contribuiu indiretamente para afundar o Inter na sua pior campanha de primeiro turno na era dos pontos corridos. O atacante entrou aos 24 do segundo tempo no lugar de Vinícius Araújo e tomou parte na formação que segurou um empate sem gols.

Menor dos carrascos, Leandro Damião viu Inter fechar pior primeiro turno da história do clube (fotos: AFP e Washington Alves/LightPress)

O resultado estacionou os gaúchos na 11ª posição, com 25 pontos e 43,9% de aproveitamento, concretizando a campanha mais fraca do clube na metade inicial do certame. Desde que o Brasileiro passou a ter 20 clubes, em 2006, o pior desempenho havia sido em 2008, quando Abel Braga e Tite levaram o time a fechar o primeiro turno em 10º lugar, com 26 unidades.

Enquanto isso, o rival Grêmio vai abrir a segunda metade do torneio consolidado na zona de classificação para a Libertadores, em terceiro lugar com 36 pontos.

Na tentativa de recuperar o moral na semana de aniversário de dois dos seus principais títulos (a Libertadores 2006 foi conquistada no dia 16 de agosto), o Inter volta suas atenções para a Copa do Brasil. Os comandados de Argel Fucks abrem as oitavas de final nesta quinta-feira diante do Ituano, no Beira-Rio. O jogo de volta será na próxima semana.

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