“Coisa linda. Boas recordações”. Assim reagiu Rodriguinho ao ser avisado de que a final do Campeonato Paulista de 2018 seria o tema da entrevista à Gazeta Esportiva.
Há exatos dois anos, o Corinthians fazia história ao vencer a primeira final contra o Palmeiras dentro do Allianz Parque. Já eram 15 anos sem um Derby valendo taça.
Naquela época a gente não tinha essa noção do que representava aquilo. A gente estava focado em jogar, com um sentimento bom, de confiança, que poderíamos chegar lá, contra tudo e contra todos e vencer para levar aos pênaltis.
Como admite o meio-campista, hoje no Bahia, o plano corintiano era muito claro na ocasião: fazer um gol para compensar a derrota pelo placar mínimo em Itaquera, no primeiro embate, e apostar nos penais. Não existia muita esperança em acabar com tudo no tempo regulamentar.
“Fizemos um gol no começo que deu uma equilibrada e trouxe o emocional de volta na partida. A gente defendia muito bem e sabia que se aparecesse uma oportunidade, tínhamos de aproveitar. Seria muito difícil entrar na nossa defesa. Confiávamos no Cássio também, um cara que cresce muito em finais e pega pênaltis”
A eficiência veio logo com 1 minuto e 29 segundos de jogo. Até o próprio Rodriguinho demorou para assimilar o que havia feito.
Eu não tive nenhum pressentimento, mas estava com um sentimento muito bom. Eu já tinha feito o gol da semifinal, contra o São Paulo, nos últimos minutos. Eu estava numa fase que a bola me procurava. Não sei nem te responder qual foi o tipo de sensação no momento do gol, porque até em mim a ficha demorou para cair, foi muito rápido.
Quem estava na casa palmeirense naquele domingo de 8 de abril conta que o gol foi bastante sentido pelos jogadores e teve reflexos importantes nas arquibancadas. O ambiente mudou drasticamente.
“Sim, sem dúvida, até porque já tinha uma cobrança da própria torcida deles em relação a clássicos. O gol, além de dar confiança para nós, foi um baque muito grande para eles, até porque eles sabiam que a nossa defesa era muito sólida”.
O QUE CARILLE FEZ APÓS O 1º JOGO
Para dar à final um tom ainda maior de dramaturgia, o Palmeiras conseguiu vencer o clássico da ida, em Itaquera, por 1 a 0. Com isso, passou a ter a vantagem de se sagrar campeão perante um mero empate em um estádio 100% tomado pela torcida alviverde. Entrou em ação, então, o trabalho de Fábio Carille.
O Carille é genial com isso. Quando é pra mexer com ego, administrar jogadores, ele é muito bom para isso. Logo após a derrota, já entrou um trabalho psicológico muito forte para não deixar a equipe se abalar, mostrar que jogamos bem.
O técnico do Corinthians, na ocasião, mudou a escalação do time para a finalíssima e alertou seu grupo de um fato que poderia fazer a diferença, revela Rodriguinho.
“Eles tiveram um dia a mais de descanso antes do primeiro jogo, estavam mais inteiros. E o Carille fez a gente entender como o jogo seguinte seria diferente após uma semana livre. A gente poderia jogar numa intensidade bem mais alta”.
EXPULSÃO TROCADA DE 2017 PESOU
O lance que poderia ter mudado todo o curso da final do Paulistão de 2018 aconteceu aos 26 minutos do segundo tempo, quando o árbitro Marcelo Aparecido Ribeiro de Souza assinalou pênalti de Ralf em Dudu e levou o antigo Palestra Itália à loucura.
“Eu estava até próximo do lance. Assim que aconteceu, saí correndo no Cássio, fiquei conversando com ele e eu vi o Ralf falando que não tinha encostado. Rolou toda aquela confusão. Para mim foi uma decisão muito acertada, porque não foi nada e poderia ter manchado a história do jogo”.
Foram oito minutos até o árbitro decidir revogar a própria decisão. À Gazeta Esportiva, Rodriguinho conta que o Derby de um ano antes, na Arena Corinthians, foi usado de argumento pelos jogadores alvinegros. O exemplo citado remete ao afastamento de Thiago Duarte Peixoto, que confundiu Maycon com Gabriel, expulsou o jogador errado e se negou a voltar atrás.
Demorou bastante e a gente conversou muito com árbitro. Todo mundo estava em cima dele, e o que nós falávamos era para ele voltar atrás, porque ele já tinha percebido que tinha errado. A gente teve, em 2017, uma situação parecida, quando o árbitro expulsou o jogador errado nosso, também contra o Palmeiras. Nós avisamos ele: ‘O árbitro não mudou naquele dia, não nos ouviu e deu no que deu’. A gente falou várias vezes isso para ele, porque ficaria pior. Eu não acho que teve interferência externa.
O SILÊNCIO DE 41 MIL
Pouco antes do apito final, Rodriguinho foi substituído por Danilo, este incumbido de abrir a série corintiana nas penalidades.
“Eu já tinha corrido muito, estava bem cansado (risos). O Danilo era um ótimo cobrador de pênaltis, muita bagagem, experiente, não tenho nem o que dizer. A troca foi mais para ele entrar e bater o pênalti”.
Apesar do erro de Fagner ter levado esperança aos palmeirenses mesmo depois de Cássio ter defendido as cobranças de Dudu e Lucas Lima, Maycon não vacilou e silenciou o Allianz Parque com 41.227 pagantes.
Foi estranho. Completamente diferente de todas as sensações que já tive. Um estádio em silêncio foi engraçado, mas teve um sabor especial. A gente vibrou muito e sabia que toda São Paulo estava vibrando com a gente.
Pode ter sido engraçado para Rodriguinho, mas a diretoria do Corinthians, cautelosa, pediu para que o grupo não desse a tradicional volta olímpica depois de erguer a taça. As cadeiras já estavam praticamente todas desocupadas, mas, as consequências poderiam ser perigosas.
“Verdade. Pediram, sim. É porque a gente já estava sabendo que estávamos incomodando muito. Não precisava incomodar mais (risos). Melhor pegar nossas coisas e comemorar com a nossa torcida, até pela segurança. Sabe como é a rivalidade, né?”