Corinthians tenta superar 1999 e antecipar Natal contra o Atlético-MG - Gazeta Esportiva
Corinthians tenta superar 1999 e antecipar Natal contra o Atlético-MG

Corinthians tenta superar 1999 e antecipar Natal contra o Atlético-MG

Gazeta Esportiva

Por Marcos Guedes e Helder Júnior

29/10/2015 às 08:00 • Atualizado: 29/10/2015 às 09:39

São Paulo, SP

Papais Noéis alvinegros não esperaram 25 de dezembro para festejar (foto: reprodução/A Gazeta Esportiva)
Papais Noéis alvinegros não esperaram 25 de dezembro para festejar (foto: reprodução/A Gazeta Esportiva)


O Natal começou mais cedo para a Fiel há 16 anos, com a festa do título do Campeonato Brasileiro. Endereço oficial das celebrações alvinegras até o começo deste século, a Avenida (Corinthians) Paulista se encheu de Papais Noéis que não vestiam vermelho nem distribuíam presentes para comemorar um saboroso empate por 0 a 0.

Na virada para o dia 23 de dezembro de 1999, os torcedores se entregaram a uma alegria que não acabaria tão cedo e se ampliaria com a conquista do Mundial, no mês seguinte. Naquela Noite Feliz, no entanto, tratava-se simplesmente de rir do próprio sofrimento e celebrar o tri nacional, obtido na até hoje única final contra o Atlético-MG e com o suor tão caro ao time do Parque São Jorge.

Os corintianos se deliciaram em aflição até o último minuto da decisão, disputada em três partidas. Agora, já com outros dois troféus do Brasileiro em seu memorial, eles têm em novo confronto decisivo com o Atlético-MG a chance de antecipar o Natal em quase dois meses e começar a comemoração com tanta antecedência que a Paulista, onde as festas de futebol foram proibidas, ainda não tem decorações natalinas.

Luizão castigou o Atlético-MG e irritou atleticanos (foto: reprodução/A Gazeta Esportiva)
Luizão castigou o Atlético-MG e irritou atleticanos (foto: reprodução/A Gazeta Esportiva)


Só a matemática discordará de que o Corinthians será o campeão em caso de vitória no estádio Independência no domingo. Mesmo o empate é suficiente, a cinco rodadas do final, para manter em oito pontos a vantagem para o segundo colocado e permitir que os fogos de artifício sejam explodidos sem medo. Bem diferente do que aconteceu com a turma dirigida por Oswaldo de Oliveira duas décadas atrás.

A campanha foi sólida, com a maior pontuação da primeira fase, mas a era dos pontos corridos ainda não havia chegado. A equipe alvinegra precisou passar pelo Guarani em três jogos nas quartas de final, dispensou a terceira partida na semifinal contra o São Paulo – contando com pênaltis de Raí defendidos por Dida – e encontrou na decisão o Atlético-MG, que se classificou como sétimo colocado antes de eliminar o rival Cruzeiro e o Vitória.

A formação de Belo Horizonte tinha feito 4 a 0 no melhor time da etapa de classificação – no Maracanã, pois o clube paulista tinha perdido o mando de campo – e estava otimista. “O Corinthians e o Atlético têm basicamente as mesmas características. No entanto, estamos em uma melhor fase”, afirmou o técnico Humberto Ramos, em declaração publicada por A Gazeta Esportiva.

A confiança se confirmou em 15 segundos, tempo que Guilherme levou para marcar o primeiro gol da decisão, no Mineirão. Ele mesmo ampliou, com Rincón mancando e falhando na tentativa de acompanhá-lo. Vampeta descontou em chute de fora da área, mas, ainda no primeiro tempo, Guilherme voltou a marcar, consolidando-se como artilheiro do Brasileiro, com 28 bolas na rede.

Oswaldo passou boa parte da final "em estado alfa" (foto: acervo/Gazeta Press)
Oswaldo passou boa parte da final "em estado alfa" (foto: acervo/Gazeta Press)


O gol de cabeça de Luizão na etapa final não evitou a vitória por 3 a 2 do Atlético-MG, que teve o seu preço. Se o Corinthians perdeu o importante Rincón, a equipe mineira se viu sem Marques, cujo valor naquele time é hoje comparado por Humberto Ramos ao de Neymar na Seleção Brasileira. “Eu tinha uma importância considerável, sabia que a ausência seria sentida”, lamentou o ex-atacante, em entrevista à Gazeta Esportiva. “A perna estava arrebentada. Foi o grande drama da minha carreira.”

Sem o camisa 9, os mineiros tinham a chance de finalizar o certame no domingo seguinte, em São Paulo. E até hoje há quem imagine: seria esse o desfecho se um toque de mão do lateral direito Índio fosse interpretado por Márcio Rezende de Freitas como pênalti. “Foi um erro que pode não só ter alterado o resultado do campeonato como ter prejudicado seriamente minha carreira como treinador”, lamuriou Humberto Ramos, que aposentou a prancheta e trabalha com imóveis.

O pênalti não foi marcado, e o Corinthians partiu ao ataque. Kleber recebeu de Marcelinho e cruzou na cabeça de Luizão. O centroavante marcou, levou o cartão amarelo que o suspenderia da grande decisão em uma falta boba e fechou o triunfo por 2 a 0. Já nos acréscimos, com cotovelada em Mancini, forçou o cartão vermelho na tentativa de atuar na quarta-feira com um efeito suspensivo.

Os atleticanos se irritaram. “Se o jogo fosse hoje, ele iria apanhar, porque foi uma atitude covarde. Isso não se faz”, disse Valdir, na segunda-feira. “Sorte que até a hora do jogo os ânimos já devem ter esfriado um pouco”, acrescentou o volante, que não teve a oportunidade de agredir o adversário. Apesar do suspense até o último instante, o departamento jurídico alvinegro não conseguiu colocar Luizão em campo.

Elenco do Corinthians tinha relações de amor e ódio (foto: reprodução/A Gazeta Esportiva)
Elenco do Corinthians tinha relações de amor e ódio (foto: reprodução/A Gazeta Esportiva)


Quando o placar do Morumbi começou a exibir as escalações, havia a expectativa em boa parte do estádio se a camisa 9 seria do artilheiro ou do garoto Fernando Baiano, que concedeu várias entrevistas se dizendo pronto. O que apareceu atrás dos gols do estádio foi isto: “9 – Gilmar”. Com a vantagem do empate, Oswaldo de Oliveira resolveu reforçar o meio-campo com o volante e adiantar Marcelinho ao ataque.

Para buscar o título, o técnico tentava controlar os habituais problemas de relacionamento daquele Corinthians. Edílson, que já tinha corrido com uma faca atrás do amigo Marcelinho, não estava falando com Rincón e pediu a palavra na hora da oração, antes da decisão. “Olha, pessoal, eu sei que o Freddy não gosta de mim. Eu também não gosto dele. Mas, neste momento de união, vamos fazer uma força para ganhar o título. Freddy, você me desculpa? Somos amigos a partir de agora”, disse o Capetinha, de acordo com relato de Luizão.

“Quando acabou a reza, fomos o Vampeta e eu zoar aquela ironia do neguinho. ‘Tu é um vagabundo mesmo, hein? Como você é 171, Edílson’”, contou o artilheiro. “O Rincón ficou na dele, quietão. Depois, veio falar com a gente: ‘Esse neguinho non é fácil’”, sorriu Luizão, empostando a voz para imitar a entonação do colombiano.


Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press

FEZ GRAÇA E SAIU EM BAIXA


“Celso Pitta – fez graça na final, mas saiu em baixa; colecionou erros.” Essa foi a descrição de A Gazeta Esportiva para a atuação de Vampeta no terceiro jogo da final. Importante em todo o Campeonato Brasileiro de 1999, o volante não esteve tão bem no último ato da campanha vitoriosa, o que rendeu o gracejo na avaliação do campeão.

O desempenho apenas razoável do camisa 5 começou às 21h40 graças a Pitta. O prefeito de São Paulo brigou com a TV Globo, que tentou até o último instante passar a decisão para as 16h. A quarta-feira amanheceu sem que boa parte dos torcedores soubesse a que hora seria decidida a competição.

Foi só quando o desembargador Carlos Alberto Oetterer Guedes indeferiu o recurso da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) que o jogo foi confirmado para a noite. A indefinição fez funcionários da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e policiais militares trabalharem à tarde na logística de um evento noturno.

“A decisão da Justiça fez prevalecer os interesses da população sobre os interesses puramente comerciais”, vibrou o prefeito. No ano seguinte, ele seria acusado de irregularidades na administração de São Paulo e afastado por 19 dias do cargo, culpando a Globo por sua derrocada.


Nesse clima de paz, os atletas alvinegros entraram em campo para decidir o título. Rincón, fora da segunda partida por conta de sua lesão muscular, fez um esforço para não se irritar com Edílson e para conseguir atuar. Segundo o preparador físico Fábio Mahseredjian, elo entre os times de 1999 e 2015, o volante “jogou com um buraco na coxa” e, cumprido seu papel, “não sabia se ria para comemorar ou chorava de dor”.

Com o esforço do capitão e as defesas de Dida, o Corinthians se segurou no primeiro tempo. Marcelinho acertou cobrança de falta no travessão, mas era o Atlético-MG que, compreensivelmente, buscava o ataque de maneira mais agressiva. Já na etapa final, o frio arqueiro não se abalou com chance clara perdida por Belletti e foi muito bem em dois lances, bloqueando em uma delas o fogo amigo do zagueiro Márcio Costa.

“Foi suado, emocionante e dramático até o último minuto. Do jeito que a Fiel gosta. O Timão sofreu, mas segurou o empate sem gols contra o Atlético-MG e conquistou o tricampeonato brasileiro, ontem à noite, no Morumbi”, resumiu A Gazeta Esportiva. A formação visitante “tentou de tudo, mas esbarrou na eterna garra que só o Corinthians tem”.

O apito final de Carlos Eugênio Simon fez de Dinei um dos mais emocionados entre os quase 60 mil presentes no Morumbi. “Padre Marcelo – foi chamado só para comandar a alegria dos fiéis” foi como a A Gazeta Esportiva resumiu a atuação do atacante, que havia participado também dos dois títulos brasileiros anteriores de seu time do coração.

“É um sonho o que está acontecendo comigo. Por eu ser corintiano, a emoção é muito grande de ver essas pessoas comemorarem um Brasileiro”, disse o gavião, particularmente satisfeito pela aflição até o último instante, algo que não havia acontecido em 1990 ou em 1998. “Essa é a sina do corintiano. Tudo é mais sofrido, e não poderia ser diferente agora.”

Oswaldo de Oliveira, que erguia seu primeiro troféu em seu primeiro trabalho significativo como treinador, competia com Dinei na alegria e havia se entregado à comoção antes mesmo de a decisão acabar “Estava em estado alfa. Pensava na partida, mas a minha família vinha na lembrança no mesmo momento. Depois que começou a chover no segundo tempo, então, acho que não sabia onde estava”, comentou.

Tricampeonato alvinegro teve Gilmar Fubá como camisa 9 (foto: reprodução/A Gazeta Esportiva)
Tricampeonato alvinegro teve Gilmar Fubá como camisa 9 (foto: reprodução/A Gazeta Esportiva)


Já em seus momentos iniciais como técnico, o carioca mostrava ter um pensamento original e não ser adepto de frases feitas. “Esse título se alastra, tem tentáculos”, afirmou, valorizando “as pessoas que não aparecem, que ficam nos bastidores”, e tirando temporariamente da cabeça o Mundial do mês seguinte. “Sei que tenho três reforços para essa competição, mas tenho três dias para continuar em estado alfa.”

Tite prefere evitar esse estado. O gaúcho tem no “equilíbrio” uma de suas palavras favoritas e pode construir o hexa do Corinthians no Campeonato Brasileiro de maneira bem mais tranquila do que foi obtido o sofrido tri. No lugar de colegas se perseguindo com facas na mão, há jogadores repetindo o mantra “competir com lealdade”. Mais uma vez, o Atlético-MG está no caminho.

*Colaboraram Marcela Attie, Marco Luiz Netto e Olga Bagatini

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