Único brasileiro na "Luta do Século" revela contato com Ali: "Simpatia" - Gazeta Esportiva
Único brasileiro na "Luta do Século" revela contato com Ali: "Simpatia"

Único brasileiro na "Luta do Século" revela contato com Ali: "Simpatia"

Gazeta Esportiva

Por José Victor Ligero

06/06/2016 às 16:35 • Atualizado: 06/06/2016 às 16:37

São Paulo, SP

Jornalista, Newton Campos é presidente da FPB de maneira quase ininterrupta desde 1969 (Foto: FPB)
Jornalista, Newton Campos é presidente da FPB de maneira quase ininterrupta desde 1969 (Foto: FPB)


Na madrugada do dia 30 de outubro de 1974, os pesos-pesados americanos Muhammad Ali e George Foreman fizeram "A Luta do Século" em um ringue montado num estádio com mais de 100 mil pessoas, na cidade de Kinshasa, a capital do Zaire (atual República Democrática do Congo), na África Central. Em meio àquele público, havia um brasileiro a trabalho: o jornalista Newton Campos, atual presidente da Federação Paulista de Boxe e membro do Conselho Mundial de Boxe, que na ocasião foi enviado pelo jornal A Gazeta Esportiva com a missão de trazer de volta ao Brasil a reportagem do combate que jamais sairia de sua memória.

Único brasileiro a reportar a peleja in loco, Campos, agora com 91 anos, terminou toda a matéria durante o voo de volta a São Paulo graças a uma máquina de escrever. Em cerca de 700 linhas, espalhadas em 35 laudas ou quatro páginas de jornal, relatou que nos primeiros cinco assaltos Foreman disparou "uma carga de golpes" sobre o desafiante Ali, que ressurgiu na luta com habilidade e, lançando mão de seu potente jab de esquerda, nocauteou o então atual campeão mundial no oitavo round, impondo ao adversário a primeira derrota em 40 combates.

"Quando cheguei em casa, estava cansado, mas muito feliz por ter recebido aquele trabalho. Foi um momento especial na minha vida", disse Newton Campos à Gazeta Esportiva.

Antes do mais famoso embate do boxe, Muhammad Ali havia negado, em 1966, defender o exército norte-americano na Guerra do Vietnã. No ano seguinte, o natural do estado de Kentucky perdeu sua licença para lutar e foi despojado dos títulos mundiais do Conselho Mundial de Boxe e da Associação Mundial de Boxe, ambos conquistados primeiramente em 1964, quando derrotou Sonny Liston.

Após palestrar em universidades americanas em favor dos direitos civis dos negros, voltou aos ringues em 1970, mas só três anos depois conseguiu uma série de vitórias para reunir credenciais para desafiar George Foreman, que vinha de nocautes técnicos sobre os temisdos Joe Frazier e Ken Norton.

O jornal A Gazeta Esportiva cobriu a luta entre Muhammad Ali e George Foreman, em 1974 (Foto: Gazeta Press)
O jornal A Gazeta Esportiva cobriu a luta entre Muhammad Ali e George Foreman, em 1974 (Foto: Gazeta Press)


“Foi realizada num estádio do futebol, com uma multidão inacreditável, é chamada até hoje de "A Luta do século, fui chamado em cima da hora. Deu tudo certo, cheguei em tempo com a reportagem. Foi um feito maravilhoso, onde Ali estava com 32 anos, mas recuperou a coroa, vencendo o Foreman, que havia nocauteado (Joe) Frazier. Foi uma coisa impressionante. O Ali foi de uma simpatia pela forma com a qual se manifestava, pela forma como lutava, se movimentava, um verdadeiro gênio do boxe", relatou Campos.

De maneira entusiasmada, o atual presidente da Federação Paulista de Boxe, responsável, inclusive, por atender aos telefonemas na entidade, revelou o contato mais próximo que teve com o vencedor daquela luta. "Como eu tinha um crachá que dava liberdade pra entrar até no ringue, o Ali ganhou no oitavo round, o que tinha de gente pulando, mas eu podia entrar, eu cheguei a encostar no Ali. Quando encostei e bati nas costas dele, o fotógrafo que eu consegui lá disparou o flash. Aí eu pensei: ' Já tenho a reportagem'. Depois, encostei perto do Foreman, também tenho uma reportagem com ele. Foi uma beleza pra mim", celebrou, antes de explicar por que aquela foi uma das principais pelejas da história do boxe.

"Foi uma das maiores porque tiveram alternativas, o Ali recebeu uma carga de golpes, mas tinha muita habilidade, com o jab de esquerda, foi dominando o Foreman, escapando pelas laterais, tornando-se um alvo difícil. O Ali tinha muito habilidade, é um gênio do boxe. Com uma direita e esquerda potentes e o Foreman foi à lona. O estádio foi à loucura, uma coisa inesquecível, emocionante”, vibrou.

Após conviver com o Mal de Parkinson desde 1984, Cassius Marcellus Clay Jr., depois Muhammad Ali, morreu na madrugada do último sábado aos 74 anos. Segundo Newton Campos, a lenda do boxe mundial transcendeu a modalidade ao ser relevante em muitas outras questões.

"O maior legado foi ele ter sido um atleta que defendeu muito o ser humano, policitamente ele foi perfeito, ele não tinha só vigor, ele também era um grande politico, foi contra a Guerra do Vietnã, se negou a defender os Estados Unidos. Mais tarde, lutando contra o Foreman ,ele acabou reconquistando o titulo, ele sabia falar, tinha o dom da palavra, sabia colocar as frases, não tinha medo, um verdadeiro gênio", finalizou.

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