Campeãs de taekwondo se sentem derrotadas pelo Talibã no Afeganistão - Gazeta Esportiva
Campeãs de taekwondo se sentem derrotadas pelo Talibã no Afeganistão

Campeãs de taekwondo se sentem derrotadas pelo Talibã no Afeganistão

Gazeta Esportiva

Por AFP

23/09/2021 às 22:01

São Paulo, SP

Zarghunna Noori sempre foi uma lutadora. A campeã de taekwondo, de 22 anos, sonhava em representar o Afeganistão nas Olimpíadas de Paris em 2024. Mas, desde que o Talibã chegou ao poder, ela tem a sensação de ter sido derrotada.

"Todas as nossas vidas foram alteradas", lamenta ela, entrevistada pela AFP em sua casa em Herat, a principal cidade do oeste do Afeganistão.

"No esporte, quando perdemos, nos sentimos terrivelmente mal. E fomos derrotadas pelo governo do Talibã", diz ela, referindo-se aos sinais de que o movimento islâmico vai proibir as mulheres de praticar esportes.

Zarghunna Noori conquistou o título nacional em 2018 e treina a seleção feminina, com sede em Herat.

Zarghunna Noori exibindo sua medalha conquistada no taekwondo (Foto: Hoshang Hashimi / AFP)


"Todas as integrantes da equipe de taekwondo sonhavam um dia participar das Olimpíadas ou hastear a bandeira afegã em competições internacionais", lembra ela, rodeada de medalhas. "Mas agora somos todos obrigadas a ficar em casa. A cada dia ficamos mais deprimidas", acrescenta.

O Taekwondo é uma arte marcial coreana na qual os lutadores alternam golpes com as pernas e punhos. Em 2008, Rohullah Nikpai deu ao Afeganistão a primeira medalha olímpica de sua história ao conquistar o bronze em Pequim na categoria masculina.

Cerca de 130 meninas entre 12 e 25 anos fazem parte da academia afegã da modalidade, localizada em Herat. Mas elas não têm mais permissão para treinar, confessam em entrevista à AFP.

Mesmo já tendo conquistado títulos, Zarghunna Noori se sente derrotada com a chegada do Talibã (Foto: Hoshang Hashimi / AFP)


Na semana passada, o novo diretor afegão de esportes e educação física, Bashir Ahmad Rustamzai, declarou que o Talibã vai autorizar "400 esportes". Mas ele não esclareceu se as mulheres podem praticar qualquer um deles.

Os talibãs praticavam uma estrita segregação das mulheres quando assumiram o poder entre 1996 e 2001, excluindo-as de qualquer atividade esportiva. Agora, um mês depois de retomarem o poder no país, eles estão tentando passar uma imagem mais suave para a comunidade internacional.

Esporte feminino "não é necessário"

Seu governo parece ter consentido com o retorno às salas de aula para todas as mulheres, do ensino fundamental à universidade, ainda que com restrições, após ter proibido durante seu governo anterior. Mas o esporte é outra questão.

Ahmadullah Wasiq, membro da comissão cultural do Talibã, estimou recentemente que "não é necessário" que as mulheres pratiquem esportes. A sharia, lei islâmica, proíbe, segundo os fundamentalistas, a mistura dos sexos nas atividades da vida pública e obriga as mulheres a disfarçarem as silhuetas de seus corpos.

"Todas nós treinamos e fizemos o nosso melhor. Mas foi inútil", lamenta Zarghunna Noori, que está no quarto ano de Educação Física na Universidade de Cabul.

Noori rodeada pela sua coleção de medalhas (Foto: Hoshang Hashimi / AFP)


Muitas atletas se trancam em suas casas por medo de eventuais represálias do Talibã, diz ela. E quando decidem sair, se escondem atrás de uma burca e nem podem usar tênis, continua Noori.

No entanto, a ex-campeã do Afeganistão deseja retomar os treinos, para que "dez anos de muito trabalho não sejam desperdiçados". Embora ela acredite que será forçada a deixar o Afeganistão porque "as circunstâncias são tais que não vemos como progredir no país".

Zarghunna Noori pede ajuda de "todos os atletas internacionais, atletas olímpicos e membros do Comitê Olímpico" para que ajudem suas companheiras e ela mesma a "ir para um lugar melhor".

Zahra, de 22 anos, também membro da equipe nacional de taekwondo, se sente "impotente". Todos seus colegas de disciplina, homens e mulheres, estão descontentes com a chegada do Talibã ao poder, disse ela à AFP.

"Nem os homens têm todas as liberdades", diz Zahra, para quem o Talibã é "igual ao do passado". "Eles não deveriam atrapalhar as mulheres", reclama.

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