DIDI - Gazeta Esportiva

Didi, o Príncipe Etíope criador da Folha Seca

Quem nunca ouviu falar da Folha Seca? Sim, aquele chute praticamente indefensável, que assombrou os goleiros de todo o planeta durante a década de 1950. Um arremate diferente, em que o atacante acertava o meio da bola para obter um efeito, ludibriando todos os guarda-metas. Mas, antes de tornar-se o inventor desta habilidade, Valdir Pereira, conhecido dentro das quatro linhas como Didi, sofreu um drama.

 

O drama

 

Depois de iniciar sua trajetória no futebol no ano de 1943, quando defendeu o São Cristóvão, Didi passou rapidamente por clubes como Industrial, Rio Branco, Goytacaz e Americano. Aos 14 de idade, época em que já demonstrava ser diferenciado com a bola nos pés, o jogador sofreu uma infecção grave no joelho direito, decorrente de uma lesão sofrida em uma simples e infantil ‘pelada’. No entanto, o destino, que por pouco não deixou o garoto em uma cadeira de rodas – drama que se limitou a apenas alguns meses -, e com risco de ter a perna amputada, reverteu-se e transformou o simples Valdir Pereira em um dos maiores nomes da história do futebol neste País.

 

Jogador Profissional

 

Após o drama pessoal, Didi tornou-se jogador profissional no ano de 1945, no próprio Americano de Campos, com apenas 16 anos de idade. O meio-campista também colecionou passagens por Lençoense e Madureira, até decolar na sua carreira profissional com a camisa do Fluminense. Nas Laranjeiras, onde permaneceu por dez anos, entrou para a história do futebol nacional em 17 de junho de 1950 ao marcar o primeiro gol do estádio Mário Filho, o Maracanã, no amistoso entre os selecionados Carioca e Paulista.

Príncipe Etíope

 

Com a fama repentina, Didi chamou a atenção de um ilustríssimo torcedor do Tricolor: Nelson Rodrigues. Por apresentar um estilo elegante de atuar, o Anjo Pornográfico chamou o meio-campista de Príncipe Etíope. A alcunha do jornalista e, principalmente seu modo de jogo, o fez ídolo do Fluminense. No clube, o atleta novamente superou uma enfermidade para marcar época.

Mas, para infelicidade de Nelson Rodrigues, foi em um rival que o inventor da Folha Seca tornou-se um dos maiores atletas brasileiros. A partir de 1956, o já craque passou a defender o Botafogo. Em General Severiano, Didi disputou 313 partidas e marcou 113 gols, ganhando o respeito e a idolatria de outra grande torcida do Rio de Janeiro.

Atitude que mudou a final em Estocolmo – Conhecido e visto como um dos maiores nomes do futebol brasileiro da década de 1950, depois do fracasso no Maracanã diante do Uruguai, Didi ganhou sua primeira chance com a ‘amarelinha’ no Pan-americano de 1954. A participação no torneio o convocou para a Copa do Mundo de 1954. No entanto, o Brasil não conseguiu superar o drama do Maracanazo e acabou eliminado.

 

Serenidade e elegância em campo

 

Sempre sereno e elegante no gramado, Didi teve novamente a oportunidade de disputar um Mundial em 1958. Na Suécia, o meio-campista ‘divulgou’ a Folha Seca para os europeus. Depois de exibir-se de uma forma monumental no torneio ao lado de um jovem Pelé, além de Zagallo e Garrincha, o Príncipe Etíope tomou uma atitude que mudou a decisão do torneio.

Ao enfrentar a equipe anfitriã e levar o primeiro gol logo no início do duelo, Didi pegou a bola no fundo das redes e caminhou calmamente até o centro do gramado com ela na sua mão esquerda para reiniciar o jogo.

A atitude refletia a confiança daquele time de espantar o complexo do fracasso para, enfim, trazer a taça do mundo para o Brasil. Em uma partida magnífica da Seleção, a equipe goleou os donos da casa por 5 a 2 e carimbou o nome do País entre os vencedores do maior torneio de futebol do planeta.

Quatro anos mais tarde, o meio-campista viajou ao Chile e marcou de vez seu nome na história do futebol brasileiro. Parte de uma equipe liderada pela genialidade de Garrincha, já que Pelé acabou se contundindo contra a Tchecoslováquia, Didi conquistou o bicampeonato mundial. O segundo troféu de Copa marcou o último grande triunfo do jogador pela Seleção. A saída do time verde-amarelo ocorreu no próprio ano de 1962.

 

Passagem frustrada por Madri e aposentadoria no Morumbi

 

A grande atuação na Copa do Mundo de 1958 rendeu a contratação de Didi pelo gigante espanhol Real Madrid. No entanto, na equipe formada por estrelas como Di Stéfano e Puskas, o brasileiro não conseguiu adaptar-se e passou apenas uma temporada desfilando seu talento na Espanha. Único jogador negro no time, o inventor da Folha Seca acabou boicotado pelos companheiros e retornou ao seu querido Botafogo.

Fora do território brasileiro, o jogador também atuou pelo Sporting Cristal, do Peru, e o Vera Cruz, do México. Depois da passagem pelo futebol mexicano, Didi retornou ao seu País natal para jogar no São Paulo, em 1966. Após pouco aparecer no Morumbi, o jogador frustrou-se com o fracasso na conquista de títulos e abandonou os gramados para tornar-se treinador de futebol.

Grande inovador dentro do futebol e um dos maiores talentos que o mundo do futebol já viu, Didi morreu no dia 12 de maio de 2001, com 72 anos de idade, no Rio de Janeiro, terra em que virou Príncipe.

*Narração: Marcos Antomil. Edição de áudio: Bruna Matos