Quando a bola parou de rolar: Museu do Futebol elenca principais interrupções de campeonatos - Gazeta Esportiva
Quando a bola parou de rolar: Museu do Futebol elenca principais interrupções de campeonatos

Quando a bola parou de rolar: Museu do Futebol elenca principais interrupções de campeonatos

Gazeta Esportiva

Por Redação

26/03/2020 às 14:41 • Atualizado: 26/03/2020 às 14:47

São Paulo, SP

A pandemia do novo coronavírus causou um grande transtorno mundial, gerando impactos em diversos setores das sociedades espalhadas pelo globo. O futebol não ficou fora disso, e sofreu com a paralisação e o adiamento de competições mundo afora.

Mas essa não foi a primeira vez que a prática do esporte foi suspensa: guerras e epidemias, locais ou globais, já provocaram interrupções abruptas em campeonatos de vários países. A equipe do Centro de Referência do Futebol Brasileiro, do Museu do Futebol, pesquisou essas histórias de quando a bola parou de rolar.

Policiais de Seattle usando máscaras por conta da Gripe Espanhola (Foto: Wikimedia Commons)


Europa

Será a primeira vez que a Eurocopa muda de data. Antes disso, sua a última crise aconteceu durante a Guerra da Bósnia, em 1992. A Iugoslávia, após ter sido suspensa pela Organização das Nações Unidas (ONU), viu sua seleção ser desclassificada do torneio pela UEFA. A seleção da Dinamarca ocupou a vaga e acabou campeã daquele ano.

No entanto, as crises mais sérias vividas pelo futebol europeu, foram mesmo durante as duas Grandes Guerras, que cancelaram os Jogos Olímpicos de 1916, 1940 e 1944, além das Copas do Mundo de 1942 e 1946.

Na Primeira Guerra Mundial (1914–1918), muitos jogadores do Campeonato Inglês foram convocados, paralisando a competição entre 1915 e 1919. Com o grande número de homens nos campos de batalha, as mulheres foram para as fábricas, substituindo a mão de obra masculina e, também, para os gramados. O futebol feminino floresceu na Inglaterra com direito a torneio próprio, a Challenge Cup, e o time sensação Dick Kerr Ladies F.C.

Entretanto, ao final da Guerra, a Football Association (FA) boicotou os times femininos, vetando jogos masculinos nos estádios que recebessem partidas de mulheres. Como quase todos os principais campos tinham vínculos com times masculinos que participavam das competições da FA, nenhum clube apoiou o futebol feminino, que praticamente desapareceu até a década de 1970.

Já na Segunda Guerra (1939–1945), o torneio inglês também foi alterado: os clubes foram reorganizados em 10 campeonatos regionais, nos quais alguns jogadores chegaram a atuar por duas equipes. Após o fim da guerra, os resultados foram anulados e o Campeonato Inglês retomado.

América do Sul

A primeira interrupção feita pela Conmebol foi durante o Torneio Pré-Olímpico de 1964, no Peru. Mas, diferentemente do contexto europeu de guerras entre nações, o motivo da suspensão foi totalmente interno.

A Argentina derrotava a Seleção Peruana por 1 a 0. No final da partida, o Peru marcou um gol, que foi anulado pelo árbitro. Na sequência, torcedores invadiram o gramado do Estádio Nacional e a polícia reagiu com bombas de gás lacrimogênio. O pânico se espalhou pelas lotadas arquibancadas e, na confusão, 328 pessoas morreram. O tumulto espalhou-se por Lima, levando o governo a impor lei marcial. Uruguai e Equador desistiram da disputa, enquanto Brasil e Peru disputaram a última vaga para os Jogos Olímpicos, no Maracanã, duas semanas depois.

Epidemias do século XXI

A FIFA viveu o pesadelo da gripe em 2003, quando a epidemia do SARS atingiu a China, que estava pronta para receber a 4ª edição da Copa do Mundo Feminina. Faltando menos de cinco meses para a competição, a entidade optou por trocar a sede e levar, pela segunda vez consecutiva, o Mundial das mulheres para os Estados Unidos, confirmando a China como sede da edição de 2007.

Em 2009, o México foi atingido pela epidemia do H1N1 (que entrou para a história como “gripe suína”) e o campeonato nacional ocorreu com portões fechados. Contudo, havia clubes mexicanos disputando a Copa Libertadores da América. O Chivas Guadalajara e o San Luís estavam classificados para as oitavas de final.

Depois de muitas idas e vindas, a Conmebol propôs jogo único na casa do São Paulo e do Nacional (URU), os respectivos adversários, já que esses times não poderia viajar até o México. Como resposta, os mexicanos preferiram abandonar a competição a se submeterem a essa condição. Porém, como reação, a Conmebol classificou os dois times para as oitavas de final da Libertadores de 2010.

No ano de 2014, a epidemia do vírus Ebola provocou o cancelamento de amistosos e jogos eliminatórios da Copa das Nações Africanas, especialmente em Guiné e Serra Leoa, países com alto índice de infectados.

No Brasil

O Paulistano montou em sua sede um hospital temporário (Foto: Acervo Centro Pró-Memória/Club Athletico Paulistano)


Na história futebolística nacional, a pior crise foi decorrente da gripe espanhola de 1918. A doença matou 50 milhões de pessoas ao redor do mundo, sendo 35 mil só no Rio de Janeiro, cuja população total à época era de pouco mais de 900 mil.

A Liga Metropolitana de Sports Athléticos suspendeu o campeonato carioca por 56 dias, retomando-o no começo de dezembro. O Fluminense foi o vencedor, mas não houve comemoração nas Laranjeiras. Uma das vítimas fatais da gripe espanhola foi o inglês Archibald French, atacante tricolor e campeão póstumo. Com o título nas mãos, o time sequer foi ao último jogo. Além do luto, metade da equipe estava doente.

O Campeonato Paulista de 1918 foi interrompido no dia 20 de outubro, faltando menos de uma hora para o início das partidas. Agentes sanitários invadiram os campos de futebol por toda cidade para impedir a realização dos jogos e esvaziar os estádios, uma maneira de impedir as aglomerações que facilitavam o contágio.

Durante a crise, o C.A. Paulistano e o Palestra Itália transformaram suas sedes em hospitais, atendendo as vítimas da gripe, além de, após a epidemia, terem doado todos os móveis e utensílios à Superintendência dos Hospitais Provisórios.

A Associação Paulista de Sports Athleticos (APEA) deu sequência à competição em dezembro com os jogos sendo disputados em dois tempos de 35 minutos (o normal eram 40) e só os times que tinham chance de título voltaram a campo. O C.A. Paulistano garantiu o título em 19 de janeiro com uma goleada de 7 a 0 sobre a A.A. das Palmeiras.

A gripe espanhola ainda provocou o adiamento da primeira edição do campeonato gaúcho e a paralisação do campeonato pernambucano.

 

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