No futebol brasileiro, expor uma opinião sobre temas de ordem política ou social pode comprometer toda a carreira de um jogador. Em um debate sobre a transparência no futebol, realizado na terça-feira, durante a Conferência Ethos 360, representantes de organizações que defendem os direitos de esportistas afirmaram que os atletas têm se omitido de discussões extracampo por conta das chantagens de dirigentes.
“Por mais que o futebol seja cooperativo, esta é uma indústria na qual os atletas passam por um processo extremo de competitividade. A chance de um jogador sofrer represálias e perder tudo é muito grande. Ele é mal quisto e mal visto quando se posiciona”, diz Ricardo Borges Martins, diretor executivo do Bom Senso FC. “Os atletas, principalmente aqueles que têm muito a perder, se assustam com dirigentes cujo comportamento é ligado ao coronelismo, a um futebol mais antigo e reacionário. Por mais que o sujeito esteja jogando na Série C do Amazonense, ele acredita que um dia pode ascender à Série A. E ele não comprará essa briga.”
William Capita, ex-jogador do Corinthians e membro da diretoria da ONG Atletas Pelo Brasil, afirma que “os atletas de futebol têm uma força que não conhecem” por conta da desunião existente entre eles. Segundo o ex-zagueiro, o fato de torcedores não abraçarem as bandeiras levantadas por jogadores também contribui para a omissão dos esportistas.
“Por muitos anos o futebol foi considerado uma política de pão e circo. Ele ficou relacionado ao prazer e à descontração. Quando surge um assunto mais forte e o atleta permanece firme em seu posicionamento, isso assusta muitas pessoas e até alguns meios de comunicação que não entendem a importância de um atleta externar suas opiniões. Esta é uma voz que ecoa muito longe e, se for para algo positivo, deve ser incentivada”, declarou William, ciente de que a pressão para silenciar jogadores “existiu no passado, se mantém no presente e continuará forte se [os atletas] não lutarem” por seus direitos.
