Torcedor goleador - Gazeta Esportiva
Tomás Rosolino
São Paulo (SP)
02/14/2019 06:10:53
 

“Sabe, eu nasci corintiano, podes crer eu não me engano, já virou obsessão…”, canta a torcida do Corinthians nas arquibancadas, em música que serve bem para descrever o atacante Gustagol, único grande destaque do Alvinegro neste início da temporada. O sentimento de torcedor, carregado desde a infância, foi externado por ele, por exemplo, com o choro copioso após a vitória no Derby, no Allianz Parque, uma das superações conquistadas em seu retorno ao clube.

“Foi um momento muito feliz para mim, meu primeiro clássico contra o Palmeiras foi em 2016, a gente brigando pelo título e perdemos dentro de casa. Esse jogo aí foi mais o alívio do lado do torcedor mesmo, fiquei muito emocionado”, contou o jogador à Gazeta Esportiva, que já era torcedor quando foi contratado, três anos atrás, mas virou goleador somente em 2019.

Com cinco gols marcados em oito jogos disputados, o atleta recebeu a reportagem no CT Joaquim Grava e fez um resumo do grande momento no clube. Destoante do resto da equipe, ele assegurou que, após uma reunião entre os atletas nesta semana, todos reconheceram que precisam dar mais de si, a começar já pelos próximos jogos, sem deixar a confiança adquirida no clássico se esvair.

O duro embate na casa do arquirrival, por sinal, serviu para o atacante ter um “gostinho” do que esperar nesta quinta-feira, às 21h30 (de Brasília), contra o Racing-ARG, no primeiro torneio internacional oficial de toda a sua carreira. Marcado de perto pelo zagueiro paraguaio Gustavo Gómez, do Palmeiras, ele admitiu que o defensor “chega firme mesmo”, no estilo dos rivais sul-americanos.

A nova experiência na carreira do jovem de 24 anos, encarando desafiantes além das fronteiras brasileiras, é apenas uma continuidade naquela que vem sendo a temporada da sua carreira no time do coração. De riso fácil e poucas palavras, diretamente relacionadas à timidez de lidar com os holofotes, o camisa 19 quer continuar na missão de preencher o desejo da torcida por um centroavante de respeito.

Gazeta Esportiva – Como está sua preparação para estrear em competições internacionais?

Gustagol – Eu não tive esse gostinho de jogar uma competição internacional, né, está sendo a minha primeira. Estou focado, treinando muito, do mesmo jeito que eu treino para o Paulista, que eu treinei para a Copa do Brasil. A preparação é a mesma.

Gazeta Esportiva – Você já pegou dicas com o Vagner Love e com o Boselli sobre esse tipo de torneio?

Gustagol – Não cheguei a conversar ainda, mas vou pegar mais com o Boselli, que é argentino. Dar uma conversada com ele ali.

Gazeta Esportiva – No Brasil tem bastante zagueiro sul-americano, você teve alguma amostra do que esperar nesta quinta?

Gustagol – Sem dúvida alguma. Joguei contra o Gustavo… é Gustavo o do Palmeiras, né? Gustavo Gómez. É um zagueiro que (faz um gesto batendo a mão direita na palma da mão esquerda) chega firme mesmo. Mas é manter a cabeça boa e ficar tranquilo para não sair do jogo.

Gustagol disse que Gómez é um bom exemplo de zagueiro sul-americano (Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

Gazeta Esportiva – Zagueiro de fora só chega firme? Ou provoca também?

Gustagol – Eu assistia pela televisão e via que era muita catimba nessas competições, mas a gente está bem tranquilo para não cair nessa catimba deles, não.

Gazeta Esportiva – E esse seu momento, chegou a vislumbrar lá atrás?

Gustagol – É (abre um grande sorriso), me preparei bastante para esse momento. Estou muito feliz, está sendo muito além do que eu imaginava. Vou continuar fazendo o que eu venho fazendo dentro de campo.

Gazeta Esportiva – Acha que evoluiu mais técnica ou fisicamente?

Gustagol – Sem dúvida alguma, estou bem melhor tecnicamente, mas fisicamente é o que está me ajudando bastante.

Gustavo é o artilheiro do time no ano, com cinco gols marcados (Foto: Daniel Augusto Jr./Ag. Corinthians)

Gazeta Esportiva – A gente vê você até batendo faltas nos treinos. Vai arriscar nos jogos?

Gustagol – Sim, se tiver uma brecha ali, o batedor é o Jadson, né. Tem o Jadson, tem o Sornoza, ambos batem muito bem. Se tiver uma brecha, eles não estiverem em campo, quem sabe aconteça uma falta, aparece a oportunidade e eu possa bater.

Gazeta Esportiva – Eles devem te mandar para a área quando sai uma…

Gustagol – É (risos). Não, mas eles são excelentes batedores. Se eles não estiverem em campo, estou treinando para isso.

Gazeta Esportiva – Você e o Carille já falaram da contribuição do Rogério Ceni na sua evolução. Onde ele mais ajudou?

Gustagol – A parte tática bastante, mas o que ele mais me passou foi a confiança. Me passou a confiança que eu tinha no Criciúma e estou conseguindo entrar bem tranquilo dentro de campo para fazer as coisas direitinho.

Emprestado ao Fortaleza em 2018, o atacante fez 30 gols em 45 jogos (Foto: Tiago Gadelha/FEC)

Gazeta Esportiva – Como ele fez isso? Conversa, treino?

Gustagol – Sim, ele falava para eu arriscar, não ter medo. Trabalhar firme que as coisas acontecem. Os trabalhos dele no dia a dia são muito bons, a gente vai adquirindo a confiança.

Gazeta Esportiva – No seu retorno, acho que o momento mais marcante foi aquele choro no final do Derby. Tirou um peso das costas?

Gustagol – Foi um momento muito feliz para mim, meu primeiro clássico contra o Palmeiras foi em 2016, a gente brigando pelo título e perdemos dentro de casa. Esse jogo aí foi mais o alívio do lado do torcedor mesmo, fiquei muito emocionado pela partida que a gente fez, pela vitória. A gente ia ser muito criticado se a gente não ganhasse aquele jogo. Mas a gente fez um bom jogo e o meu lado de torcedor falou mais alto, a lágrima acabou caindo.

Gazeta Esportiva – Era algo que estava na sua memória então.

Gustagol – Foi isso mesmo, é aquilo lá, sentimento de dever cumprido. Fiz um bom jogo e consegui ajudar os meus companheiros.

O primeiro Derby de Gustavo não terminou bem: derrota de 2 a 0, na Arena (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)

Gazeta Esportiva – Está preparado para ser um alvo dos zagueiros? Quanto mais gols você fizer, mais vão tentar te parar.

Gustagol – Deve acontecer, mas eu estou tranquilo quanto a isso. Estou preparado para qualquer situação.

Gazeta Esportiva – E para o Corinthians sair desse momento ruim?

Gustagol – Não adianta falar. Falamos um monte de coisa, entrosamento, mas a gente não pode perder a confiança que a gente adquiriu com aquela vitória contra o Palmeiras. Tivemos esses dois jogos muito abaixo, mas tivemos uma reunião, o grupo está ciente de que precisamos dar mais.

Gazeta Esportiva – O que falaram na reunião?

Gustagol – Foi mais para reunir o grupo, estabelecer que a gente precisa dar um pouco mais, cada um de nós.

Gazeta Esportiva – Chegou a temer a eliminação na Copa do Brasil?

Gustagol – Um pouquinho (risos).

Gazeta Esportiva – Em que momento?

Gustagol – No segundo gol ali, eu falei: “Não é possível”. Mas deu tudo certo.