Ouro da casa - Gazeta Esportiva
Bruno Ceccon
São Paulo, SP
09/13/2017 09:00:27
 

A conquista do único título mundial do atletismo brasileiro está intimamente ligada ao Complexo Desportivo Constâncio Vaz Guimarães. Responsável pelo feito, Fabiana Murer, ex-competidora do salto com vara, considera o modelo de concessão à iniciativa privada interessante e torce pela modernização do antigo Ícaro de Castro Mello.

Nascida na cidade de Campinas, Fabiana mudou para São Paulo com a finalidade de treinar no Complexo e chegou a morar nas imediações do local. A trajetória que culminou com o inédito título mundial em Daegu 2011 teve passagem fundamental pelo estádio dos anos 1950.

Leia mais:
Futuro do Ibirapuera causa temor no atletismo nacional
Mentor de Maurren pede união pelo futuro do estádio

“Construí e desenvolvi a maior parte da minha carreira neste estádio. Foram 10 anos treinando nesta pista e lá me firmei como atleta”, disse Fabiana à Gazeta Esportiva. “O Ícaro de Castro Mello tem muita história. Grandes atletas passaram por lá e atingiram bons resultados, como índices e recordes”, lembrou.

Além do ouro em Daegu 2011, Fabiana conquistou a prata na edição de Pequim 2015 do Mundial. Na versão indoor do evento, foi campeã em Doha 2010 e bronze em Valencia 2008. A brasileira ganhou ainda a Diamond League 2014 e 2010, além dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro 2007.

Em parceria com Elson Miranda, seu marido e técnico, Fabiana Murer revolucionou o salto com vara, esporte até então sem representatividade no Brasil. Com a trajetória de atleta encerrada no fim do ano passado, ela atua desde então como manager institucional da B3 Atletismo e vê o modelo de concessão com bons olhos.

“A ação de privatização é bem interessante, pois o Complexo é bem grande e a manutenção não é fácil. O ideal seria que as áreas esportivas fossem preservadas e somente modernizadas e que não tenham grandes mudanças”, sugeriu Fabiana, na condição de manager da principal equipe de atletismo do Brasil.

Atualmente, de acordo com a Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude (SELJ) estadual, o déficit anual com o espaço é de R$ 7 milhões. Com a concessão, válida por 30 anos, a promessa é a construção de um “complexo esportivo-cultural multiúso next generation” – a pasta não garante a permanência da pista de atletismo.

“Uma pista de atletismo ocupa uma área grande e por isso temos tão poucas pelo Brasil. Portanto, devemos preservar as que existem e não destruí-las”, afirmou Fabiana. “Há atletas que integram Seleções Brasileiras que treinam lá (no Ibirapuera) e, sem um local para treinar, eles provavelmente irão parar e perderemos grandes potenciais”, completou.

Ex-atleta está grávida (Foto: Djalma Vassão/Gazeta Press)

Além do Estádio Ícaro de Castro Mello, o Complexo abriga os ginásios Geraldo José de Almeida e Mauro Pinheiro, o Conjunto Aquático Caio Pompeu de Toledo e o Palácio do Judô. Para modernizar todo o espaço, processo que seria assumido pela concessionária, a SELJ estima um investimento de R$ 230 milhões.

“Muitas crianças e jovens iniciaram no esporte neste local, por ser uma área de fácil acesso e bem agradável. Por isso, seria muito bom que aumentassem o número de modalidades esportivas, para termos mais pessoas praticando esporte sem a diminuição dos que já existem”, afirmou Fabiana Murer.

Após analisar os estudos elaborados pelas nove empresas interessadas na concessão e realizar audiências públicas, o governo estadual planeja lançar o edital definitivo entre dezembro e janeiro de 2018. Independentemente do destino do histórico Ícaro de Castro Mello, as recordações permanecerão.

“Uma grande lembrança que tenho foi em um Troféu Brasil (2008) em que bati o recorde sul-americano saltando 4,80m, na época a melhor marca do mundo. Foi uma emoção muito grande ver todos meus amigos e familiares torcendo e vibrando com o meu resultado”, disse Fabiana, na torcida pela modernização do espaço.



×