Pimenta promete rigor contra corrupção e garante R$ 100 milhões ao futebol - Gazeta Esportiva
José Victor Ligero
São Paulo, SP
04/14/2017 11:00:15
 

Presidente em um dos períodos mais dourados da história do São Paulo, José Eduardo Mesquita Pimenta almeja uma segunda oportunidade na principal cadeira da diretoria. Em entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva, o candidato da oposição nas eleições da próxima terça-feira (18) promete tirar o clube do “limbo” com uma gestão rigorosa contra a corrupção.

Garante ainda irrigar o departamento de futebol com, ao menos, R$ 100 milhões, provenientes de um fundo de investimentos capitalizado pelo empresário e maior aliado Abilio Diniz, de quem espera usar sua influência para angariar investidores no mercado.

É no mercado, inclusive, onde Pimenta almeja pinçar profissionais para compor a futura diretoria profissional, uma das novidades determinadas pela reforma estatutária. Com a ajuda deles, o ex-mandatário espera amortizar uma dívida que beira os R$ 300 milhões, culpa das “desastrosas administrações anteriores”, e tornar o Morumbi uma das principais fontes de renda novamente.

Com 78 anos, o advogado dirigiu o Tricolor entre 1990 e 1994, período em que o clube conquistou os bicampeonatos da Copa Libertadores e do Mundial de Clubes. Com o slogan “Volta, Pimenta”, a campanha do oposicionista resgata o que há de positivo em seu passado na tentativa de obter os votos necessários para derrotar Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, atual presidente.

Pimenta, cuja chapa pede “Por um São Paulo Unido e Vencedor”, enfatiza ainda que sua eventual gestão irá manter distância de Carlos Miguel Aidar, ex-mandatário do clube, que renunciou sob denúncias de corrupção e que foi expulso do Conselho Deliberativo.

A Gazeta Esportiva tentou entrevistar Leco para ouvir as propostas da situação. No entanto, a reportagem não teve o seu pedido atendido pela coordenação da campanha.

Pimenta comemora a conquista da Copa Libertadores da América de 1992, a primeira da história do São Paulo, que derrotou o Newell’s Od Boys, da Argentina, na decisão (Foto: Acervo/Gazeta Press)

Gazeta Esportiva – Por que o senhor foi o escolhido como candidato da oposição?

Pimenta – O Dr. Blum era o pré-candidato. Mas ele sentiu que a candidatura não estava evoluindo naquele momento. Então conversamos juntos com os companheiros da oposição e ele renunciou a essa candidatura. Entenderam que eu poderia ser o substituto, que seria interessante para o clube até pelo meu passado. Ele não tinha a mesma força política e foi o que se entendeu naquele momento. Naquela emergência, já estávamos em fevereiro, o candidato adversário já estava em plena campanha, então fui lançado.

Gazeta Esportiva – O senhor está preparado para modernizar o São Paulo em sua gestão?

Pimenta – Eu considero que sim. Vamos instituir uma governança corporativa, que ainda não temos no nosso clube, e vamos introduzir um novo modelo de administração, com um Conselho de Administração, constituído de nove membros, três dos quais serão recrutados no mercado, profissionais que tenham conhecimento.

Gazeta Esportiva – Qual será sua prioridade em termos de administração?

Pimenta – Vamos ter uma administração profissional, mais transparente, assim eu espero, e compartilhada, porque os poderes do presidente vão ser mitigados. Vamos compartilhar a administração com outros valores. Acho isso muito interessante, uma novidade que vai dar certo. Essa é minha expectativa.

Gazeta Esportiva – No lançamento de sua chapa, o Abilio Diniz disse que a situação tinha as armas para vencer. O senhor considera o Leco favorito na eleição?

Pimenta – Não é favorito. A gente sabe que quem tem o poder, tem muita força. Até porque ele e vinculado a vários conselheiros que hoje são diretores do clube. Mas esse estatuto já está superado. Considero que ele tem a força da situação, mas eu vou ganhar essa eleição. Os conselheiros vão compreender que nós estamos numa fase de mudança e o São Paulo precisa de mudança. O São Paulo vem atravessando uma situação difícil. Tivemos administrações com muitas dificuldades, e o clube entrou no limbo e num processo de decomposição. Temos uma dívida enorme, que deve ser resgatada. Vamos modificar o São Paulo e o Conselho tem a capacidade de entender que isso é necessário.

Gazeta Esportiva – Qual será a posição do Abilio Diniz em sua gestão?

Pimenta – Um consultor amigo. Evidentemente que a gente se aconselha com grandes empresários tão bem-sucedidos quanto ele. Mas nenhum cargo na administração foi cogitado para ele.

Oposição viu em Pimenta seu único nome com força para disputar a eleição com o situacionista Leco (Foto: Djalma Vassão/Gazeta Press)

Gazeta Esportiva – Há a possibilidade de o clube pedir um empréstimo ao Diniz?

Pimenta – Não creio que ele vai emprestar dinheiro. Ele vai capitalizar uma parte do fundo que será criado especialmente para investimento no futebol. Isso com certeza ele vai fazer.

Gazeta Esportiva – Qual o valor que se espera atingir com o fundo?

Pimenta – Pretendemos alcançar os R$ 100 milhões e dar uma garantia de rentabilidade deste fundo. É muito mais baixo do que qualquer empréstimo financeiro. Vamos ter esse fundo e vamos dar de garantia os realizáveis do São Paulo, mas evidentemente vamos ter condições de pagar os investidores do fundo sem utilizar as garantias. Isso é o que a gente espera.

Gazeta Esportiva – O fundo vai servir para a contratação de jogadores?

Pimenta – Isso, especialmente para a equipe de futebol.

Gazeta Esportiva – Ele poderá ajudar a amortizar a dívida do clube?

Pimenta – O fundo não tem nada a ver com a dívida. Será exclusivamente para o futebol.

Gazeta Esportiva – O São Paulo tem muitas dívidas?

Pimenta – A bancária talvez tenha reduzido, mas outras dívidas aumentaram com as contratações de jogadores, como o Pratto, etc. Há outros credores do São Paulo que não são os bancos. A dívida, provavelmente se mantém, e é muito elevada. Até aumenta um pouco, vamos esperar a publicação do balanço, mas certamente terá um acréscimo.

Gazeta Esportiva – Qual o seu plano para pagar essa dívida?

Pimenta – Se nós tivermos o fundo que vai ser aplicado no futebol, vamos liberar as despesas do futebol e vamos ficar com as outras receitas para a administração do clube. Teremos que cuidar para amortizar essa dívida.

Gazeta Esportiva – O senhor pretende adiantar a cota de televisão em sua gestão?

Pimenta – Não sei, vamos ver depois. O Conselho de Administração vai ver a conveniência ou não de antecipar alguma receita. Na minha época nunca aconteceu isso. A ideia não é adiantar. Talvez na transição, até que o fundo seja constituído, leva uns 90 dias.

Pimenta entrega placa ao argentino Diego Maradona antes do amistoso entre São Paulo e Sevilla, no Morumbi, em 1993 (Foto: Acervo/Gazeta Press)

Gazeta Esportiva – Hoje, o São Paulo não tem um patrocinador máster. Será uma prioridade de sua gestão obter uma nova marca para o espaço nobre da camisa?

Pimenta – Creio que, com o restabelecimento da credibilidade e da confiança, vamos ter propostas interessantes. Isso é o tal do círculo vicioso, a gente começa a transformar o clube e certamente atrai os patrocinadores. Talvez o reflexo dessas administrações desastrosas que nós tivemos (tenha dificuldade no acerto com patrocinadores nos últimos anos). Infelizmente isso acabou prejudicando extremamente o São Paulo. Vamos restabelecer a confiança, isso é muito importante.

Gazeta Esportiva – Quais serão as medidas contra corrupção que o senhor implementará no clube?

Pimenta – Com a administração compartilhada, vamos ter muito mais rigor no exame de contas, nas transferências de jogadores, aquisições, isso vai ser mais dissecado e vai diminuir a possibilidade de algum ato ‘fora da casinha’ como a gente diz.

Gazeta Esportiva – Como tornar as contas e receitas do clube mais transparentes?

Pimenta – Publicar todas as informações, contratos de marketing, todos os contratos do São Paulo, contratações de serviços…Enfim, a gente quer tornar bastante transparente, é para valer. Não vamos ocultar nada, o propósito é tornar o São Paulo realmente transparente. Isso é uma condição, inclusive, para se fazer o fundo, para que a gente tenha a aprovação do fundo, com governança corporativa e a transparência sobretudo.

Gazeta Esportiva – O senhor teme que o caso “Mário Tilico” possa influenciar negativamente sua campanha na eleição?

Pimenta – Não tenho por que temer. Primeiro que o Tilico nem foi vendido. Segundo que o episódio foi revelado através de uma fita adulterada em 1994. Fui eleito presidente, fomos campeões do mundo, da América, e ninguém sustou esse problema. Depois vieram com esse assunto para me perseguir politicamente. Achavam que com aqueles títulos todos que eu tinha ganho no São Paulo, eu poderia ser o grande líder político e despertei inveja certamente. Não tem sentido, o Mário Tilico nem foi negociado. Esse assunto foi sepultado porque eu consegui a prova pericial, provei que a fita era ilegal e isso foi considerado pelo conselho.

Nota da Redação: Meses depois de findar seu mandato como presidente do São Paulo, em 1994, Pimenta foi expulso do Conselho Deliberativo em função da divulgação de uma fita cujo áudio revela o dirigente supostamente negociando comissão na venda do atacante Mário Tilico com o Logroñes-ESP – a venda acabou não acontecendo.

No entanto, um laudo do Laboratório de Fonética Forense da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostrou evidências de houve montagem na gravação, o que levou Pimenta de volta aos quadros do clube.

Gazeta Esportiva – A situação tem usado isso como arma nos bastidores?

Pimenta – Se usarem também…É falso, né. Seria só com esse propósito político com a eleição. Não teria nenhum significado maior. Até porque hoje eu sou presidente do Conselho Consultivo, dos ex-presidentes do São Paulo.

Já como secretário Municipal de Esportes e Laser de São Paulo, na gestão de Paulo Maluf, Pimenta inaugura pista de atletismo ao lado do bicampeão olímpico do salto triplo Adhemar Ferreira da Silva (Foto: Acervo/Gazeta Press)

Gazeta Esportiva – Um dos pilares de sua gestão é a modernização do Estádio do Morumbi. Ela se dará total ou parcialmente?

Pimenta – Entendo como prioridade seria a cobertura e o estacionamento, que é fundamental. Não há um projeto. Nada premeditado, mas temos interesse em fazer.

Gazeta Esportiva – Como tornar o Morumbi mais rentável ao São Paulo?

Pimenta – Nós não temos grandes jogos hoje como tínhamos no passado. Temos que incentivar a utilização do estádio. O estádio é muito grande, o maior de todos para espetáculos. Se tivermos condições de propiciar conforto e acesso às pessoas, o São Paulo poderá voltar a arrecadar com o estádio…E outras promoções, quem sabe, internas, temos as lojas, quem sabe criar um outro fator, um shopping. Uma unidade de negócio, com certeza isso será estudado.

Gazeta Esportiva – O programa de sócio-torcedor, por enquanto, não tem refletido em uma elevação de público no Morumbi. Como o senhor pretende melhorar isso no programa?

Pimenta – Não tenho ainda um juízo final. Mas que tem que alterar os planos de hoje para que desperte mais interesse no torcedor, não tenho a menor dúvida. É uma fonte de arrecadação grande e tem o vínculo que traz do são-paulino com o clube. Isso será visto com muito cuidado. Essa é a ideia da profissionalização: ter um profissional em cada lugar. Importante porque gera receitas. Recrutando profissionais qualificados no mercado.

José Eduardo Mesquita Pímenta tenta retornar à presidência do São Paulo depois de 23 anos (Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

Gazeta Esportiva – O senhor tem em mente os nomes para a diretoria executiva?

Pimenta – Não tenho. São de três a nove membros. Com certeza serão recrutados no mercado, vamos procurar adaptar não só a qualificação, mas a possibilidade dos salários.

Gazeta Esportiva – No lançamento da chapa, o senhor disse que a sua gestão poderia rever o caso Carlos Miguel Aidar.

Pimenta – Não falei isso. Eu disse que na legislação brasileira não temos nenhuma lei que preveja pena perpétua. É o que vem na cabeça do advogado, mas eu não tenho nada a ver com o Aidar. O Conselho é soberano, entendeu que devia eliminá-lo do Conselho, eu não tenho compromisso com ele em nada. Da minha gestão ele não vai participar. Agora, o Conselho é soberano. Se quiser tomar uma iniciativa lá na frente é problema do Conselho. Eu não tenho nada a ver com isso e nem vou provocar isso. Eu me expressei mal, mas foi porque é intuitivo. Não existe pena perpétua. Sempre poderá ser revista. Não tenho nada com o Aidar. Na minha gestão ele não vai participar. Somos adversários políticos desde 1988.

Gazeta Esportiva – O senhor dará algum cargo em sua diretoria a Alexandre Bourgeois, demitido duas vezes da função de CEO em gestões anteriores?

Pimenta – Ele não é aliado. Ele é empregado do Diniz. Ele é profissional, administra as coisas do São Paulo sob a orientação do Diniz, que está nos ajudando na companha. Eu não tenho nenhum compromisso com ele. Ele foi demitido duas vezes por questões políticas, mas não sei exatamente a motivação. Não tenho nenhum compromisso com ele nesse sentido. Ele trabalha, é remunerado pelo Diniz. Nunca nem tratamos desse assunto, exatamente porque ele tem essa, não digo restrição, não sei se tem razão ou não. Quando reclamou os seus salários o mandaram reclamar em juízo. Nem sei por que foram os motivos de ele ter saído, nem converso com ele, até porque não tenho nenhum compromisso com ele.

Gazeta Esportiva – O senhor já tem os votos necessários para vencer a eleição?

Pimenta – São 240 conselheiros, tem que ser 50% mais um. Está evoluindo, nós vamos ganhar, vamos conseguir. Espero que os conselheiros compreendam essa situação, que exige uma renovação para reconstruir o São Paulo.