Esqueça o estilo marrento de Marcelinho Machado e até mesmo o jeito manso e de bom moço de Anderson Varejão. A nova cara do basquete nacional é risonha e adora uma resenha. Dois personagens que representam isso muito bem são os jovens Lucas Cauê e Aquiles. Os jogadores do Pinheiros são dois dos quatro brasileiros que estão na lista do Draft 2017 da NBA, o meio mais concorrido de entrar na liga mais famosa do mundo.
“O Cauê tem um lado líder, chama a atenção de todos, mas é feio demais”, comentou Aquiles, começando com muita descontração o bate-papo exclusivo com a Gazeta Esportiva.
Mas a história dos jogadores de 19 anos começa muito antes do badalado Draft. O pivô Cauê e o ala Aquiles caminham lado a lado desde os 12 anos – e sempre no Pinheiros. Eles estudaram no mesmo colégio, dividiram quarto nas concentrações e conquistaram títulos juntos.
“Fora de quadra ele é um cara que eu chamo para fazer tudo. Quando vou comer, sair e ir para o rolê mais zoado, é ele quem chamo. Dentro de quadra ele é um cara que passa muita segurança para mim. Tem hora que eu reclamo, mas tem outras que sei que ele vai fazer tudo sozinho. Dentro de quadra é um cara que eu posso contar muito, e fora de quadra é um cara que posso contar ainda mais”, contou Cauê.
Mais do que apenas companheiros de clube, os melhores amigos também tomaram juntos a decisão de tentar um voo mais alto nas promissoras carreiras. Por compartilharem o mesmo empresário, Aquiles e Cauê se inscreveram no Draft e foram aprovados para a pré-seleção. Os jovens têm até o dia 12 de junho para retirar o nome do processo para que, no próximo ano, possam tentar novamente – caso o jogador não seja selecionado e mantenha o nome, perde a chance de tentar no futuro.
Titular dos times Sub-22 e Sub-19 do Pinheiros, clube da capital paulista, o ala Aquiles, de 1,94m, conta que a surpresa ao ver seu nome na lista de prospectos da NBA foi enorme, não só para ele, mas para toda a família. “Demorou para a ficha cair. É um sonho que você não acreditava e virou realidade. Agora, depende de estar pronto na hora e no lugar certo”, conta, com um tom de voz mais sério. “Vi meu nome ao lado do George, Mogi e Lucas. Fiquei uma hora com o celular na mão. É um choque. Sua vida muda, chama a atenção de todo o mundo. NBA é o sonho de qualquer jogador, dos meninos até quem nem tem mais chance e acha que vai conseguir. Deixar seu nome, mostrar sua cara… isso é um negócio louco”.
Além de Aquiles e Cauê, outros dois brasileiros estão concorrendo a uma vaga na NBA. Georginho e Mogi, do Paulistano, são os “rivais” dos pinheirenses. Mas o termo “rival” tem que ser usado com muita cautela. Georginho, de 20 anos e que já participou do pré-Draft de 2016, é um dos amigos que sempre marca presença nas resenhas de Cauê e Aquiles.
“Sempre arrumamos um jeito de encontrar o Georginho, quando nossos tempos batem e tal. Quando ele ficou doente fomos ao hospital visitá-lo. O Georginho é parceiro mesmo”, exaltou Cauê. O pivô de 2,03m conquistou, ao lado do fiel parceiro, a medalha de bronze da Copa América Sub-18, em 2016. Durante a competição, alguns olheiros de universidades norte-americanas e times profissionais, como Chicago Bulls e Miami Heat, estiveram observando as joias brasileiras.
“Eles vão à paisana, de universidades como Duke, Texas, Kansas… e isso na Copa América do Chile, imagina em um Mundial. Iria alavancar a carreira de muita gente”, comentou Cauê, com a voz embargada, já que não poderá disputar o Mundial da categoria por conta da proibição da Confederação Brasileira de Basquete de participar de torneios da FIBA.
Apesar de confiarem que no dia 22 de junho, em evento realizado nos EUA, o comissário Adam Silver irá chamar seus nomes, os atletas entendem que a realidade pode ser diferente. Mas, mesmo uma possível adversidade não é capaz de tirar o sorriso do rosto dos jovens.
“Somos novos, se chegar o dia 10 de junho e a gente ver que o nível dos moleques está f…, tiramos os nomes. Eu sou muito sincero comigo. Estou confiante, mas temos que deixar muita água correr e ver o que vai rolar”, salientou Cauê. Já Aquiles acredita que o basquete europeu pode ser uma porta de entrada para a elite do esporte, seguindo as pegadas de grandes nomes como Marcelinho Huertas e Raulzinho.
Nome certo no Draft é o norte-americano Markelle Fultz. O jovem de apenas 18 anos é um dos principais destaques do basquete universitário e está cotado como a primeira escolha, que pertence ao Boston Celtics, maior campeão da história da NBA e franquia que terá a famosa First Pick pela primeira vez.
“Jogamos contra o Markelle Fultz na Copa América. Tomei uma enterrada na cabeça. Ele é um absurdo. Os norte-americanos em si são bem acima da média. Você nem reclama de estar perdendo de 40 pontos de diferença”, gargalhou Cauê.
Nesta temporada, Cauê e Aquiles fizeram parte do elenco profissional do Pinheiros que ficou a uma vitória de participar das finais do Novo Basquete Brasil (NBB). Comandados pelo norte-americano Holloway, os pinheirenses eliminaram o favorito Flamengo e ficaram perto de derrubar o Bauru, mas acabaram perdendo a série semifinal de virada. Na próxima temporada, a dupla de jovens do Pinheiros irá participar da Liga de Desenvolvimento, que visa dar ritmo de jogo aos garotos. Isso tudo, é claro, depende dos nomes que o comissário Adam Silver irá chamar no dia 22 de junho.