O protagonista - Gazeta Esportiva
Alexandre Silvestre
São Paulo, SP
03/10/2020 15:30:43
 

Destaque do Athletico Paranaense em 2019, com gol decisivo no título da Copa do Brasil, Rony chegou ao Palmeiras já com a temporada atual em andamento, depois de uma negociação cheia de capítulos dignos de novela. O principal reforço do Verdão para 2020 recebeu a Gazeta Esportiva na Academia de Futebol para falar sobre a vida, a carreira e a expectativa no novo clube.

Em uma conversa descontraída, Rony relembrou a infância repleta de dificuldades na região de Vila de Quadros, zona rural de Magalhães Barata, no interior do Pará. Além disso, detalhou os momentos complicados no início da carreira, salva por um convite para disputar a Copa São Paulo de Futebol Júnior, e como foi resolver importantes negociações ao mesmo tempo em que estava prestes a ver nascer a sua filha.

Com o “sorriso verde” do aparelho nos dentes, o atacante de 24 anos revelou a conversa que teve por telefone com Vanderlei Luxemburgo antes de fechar com o Palmeiras e contou também as suas primeiras impressões com o experiente treinador. Rony ainda confirma a obsessão pela Copa Libertadores, e o “privilégio” de dividir o ataque com Dudu, Willian e Luiz Adriano.

Gazeta Esportiva – O começo da carreira não foi fácil. Como foi o início no interior do Pará? – Foi um começo muito difícil. Na minha infância tive muita dificuldade, passei fome, vim de uma família humilde. Até hoje a família mora onde nasci. Tivemos uma infância bem conturbada. Tenho quatro irmãos, dois homens e duas mulheres. Tenho mãe e pai, mas são separados. Minha mãe mora com os meus irmãos, um pertinho do outro. Moram na Vila de Quadros, no município de Magalhães Barata. Tenho muito orgulho do meu Pará e do interior, de onde eu vim. Todos torcem por mim lá, quando tem jogo, todo mundo mundo se reúne. Minha familia mora toda lá. Aqui em São Paulo estou com minha esposa e um casal de filhos

Gazeta Esportiva – Você já pensou em até desistir do futebol. Como foi essa história? – Teve uma época que deu um desânimo do futebol, quando estava em Belém, não tive muita oportunidade e voltei para o interior. Mas no ano seguinte recebi uma ligação perguntando se eu queria voltar a jogar futebol, porque ia ter a Copinha São Paulo, e falei ‘é tudo o que eu mais quero’. Fui para Belém para tentar realizar esse sonho. Essa oportunidade apareceu e eu agarrei com todas as forças. Joguei a Copinha e fui bem, fui pra Belém e comecei a jogar como profissional no Clube do Remo e daí minha carreira decolou.

Gazeta Esportiva – Quais outras profissões você já exerceu na vida antes de jogar futebol? – Eu trabalhei em várias coisas. Como mototáxi, como mecânico de moto, como ajudante de pedreiro. Eu me virava, gostava de ganhar o meu dinheiro. Gostava de ser independente e ter as minhas coisas.

(Foto: Miguel Locatelli/CAP)

Gazeta Esportiva – Com o sucesso do futebol, você mudou a vida da família como um todo? – Com certeza. Graças a Deus a minha vida se estruturou. Consegui construir a casa da minha mãe, dei um carro para o meu irmão. Esse dinheiro me ajudou bastante e fui ajudando da melhor maneira possível para todo mundo ter uma vida bem adequada com o que eu tinha.

Gazeta Esportiva – Como foi o seu sentimento em relação ao nascimento da sua filha no mesmo instante em que você negociava com o Palmeiras? – Todas a coisas aconteceram ao mesmo tempo, mas eu estava focado no nascimento da minha filha. As coisas do futebol foram acontecendo naturalmente. A negociação estava avançando, às vezes ia ficar ou não ia, mas a gente soube esperar e separar as coisas. No momento certo as coisas aconteceram. Minha filha nasceu, ficou todo mundo feliz e as coisas foram acontecendo no futebol, que foi a negociação com o Palmeiras. Graças a Deus as coisas fluíram e hoje estou aqui, feliz da vida.

Gazeta Esportiva – Você ficou chateado ao ser encostado no Athletico Paranaense? Como foi esse momento para você? – Querendo ou não a gente fica um pouco chateado, por tudo o que eu vivi lá, tudo o que eu passei com o clube, com os meus companheiros dentro de campo. Eu soube suportar porque a gente sabe que estava certo nas coisas que estávamos falando. Ficamos calados quando tinha que ficar calados, e quando tínhamos que falar, falamos. A gente gosta das coisas verdadeiras e falamos o que era a verdade. Mas deu tudo certo e ficou bom para ambas as partes. O Athletico Paranaense, que eu vou levar comigo para o resto da vida, é um clube que me ajudou bastante. Todo mundo saiu feliz, eu sai de cabeça erguida, sabendo que no tempo que fiquei lá eu dei meu melhor e honrei a camisa. Acredito que eu estou com a consciência bem tranquila e agora estou focado aqui no Palmeiras.

Gazeta Esportiva – Quem quis você primeiro: o Corinthians ou o Palmeiras? – Tiveram muitos contatos. Teve uma hora que procurava um, depois outro. O Palmeiras já tinha me procurado desde 2016 ou 2017, quando eu estava no Náutico. Eu vim aqui, meu nome estava no topo de quem estava pesquisando jogador. Me senti feliz porque um clube como o Palmeiras já estava me monitorando. Na época eu ia para o Botafogo, com o Anderson Barros, que era dirigente de lá. Então ele já conhecia o meu trabalho, já conhecia a pessoa que eu sou. Isso facilitou a minha vinda para cá. Acho que qualquer jogador queria estar aqui em um clube como o Palmeiras, com estrutura e o elenco que tem. Isso também prevaleceu para eu vir para cá.

(Foto: Cesar Greco/Palmeiras)

Gazeta Esportiva – Como é para um jogador que quer dar mais um salto na carreira receber uma ligação do Vanderlei Luxemburgo e do Tiago Nunes? Estavam tentando te convencer? – Houve uma ligação, mas foi uma conversa saudável, uma ligação tranquila. Minha conversa com o Luxemburgo foi super tranquila e muito boa. Acredito que qualquer jogador quer receber uma ligação de um treinador querendo a contratação dele. Me senti feliz, bem confiante, deu tudo certo e estou procurando ajudar da melhor maneira possível, independente de estar jogando ou não.

Gazeta Esportiva – Imaginava ganhar uma oportunidade como titular em tão pouco tempo no Palmeiras? – Eu procuro sempre manter o foco, a concentração dentro dos treinamentos, fazer o que o professor está pedindo. A gente sabe que quando é um clube grande, temos um grande elenco. Procuro sempre buscar o meu espaço respeitando os companheiros de posição. Não esperava ter esse início de titular, mas estou muito feliz. Estou vendo que o professor está confiante no meu trabalho, confia no meu potencial, então isso me deixa feliz para o restante da temporada.

Gazeta Esportiva – O Luxemburgo chegou a escalar quatro atacantes para poder encaixar você no time. Você já jogou assim? Como é fazer parte desse sistema de jogo? – Eu me sinto feliz de fazer parte dessa equipe, que tem um grande elenco, jogadores de muita qualidade, jogadores que tem praticamente o mesmo perfil que o meu. Estou conseguindo encaixar na formação que o professor está pedindo. Isso também faz parte do trabalho e quer dizer que meu trabalho está fazendo efeito. Qualquer jogador queria estar no mesmo lugar, atuando do lado de Dudu, Willian e Luiz Adriano. O time fica bem ofensivo e a gente faz as jogadas ali na frente. Eu nunca tinha jogado assim, mas hoje eu tenho esse privilégio e facilita muito porque quando a gente chega na frente consegue finalizar rápido.

Gazeta Esportiva – Há obrigações novas nesse esquema com quatro atacantes? – Acho que sim. Um ajudando o outro, dentro de campo, se um ajudar o outro as coisas se tornam mais fáceis. É o que o Luxemburgo pede sempre. Um marcando pelo outro, um correndo pelo outro. Se a gente quiser ser um time vencedor, tem que ajudar um ao outro.

Gazeta Esportiva – É uma obsessão para o Palmeiras conquistar essa Libertadores. É para você também? – Não só para o Palmeiras, mas para todos os jogadores é uma obsessão muito grande. Principalmente para mim, porque ano passado joguei Libertadores e sei como é. Todos os clubes querem ganhar e todos os jogadores também. É uma competição extraordinária e muitos queriam estar participando e não podem. Como a gente tem esse privilégio, vamos em busca desse título, que é uma taça importante para todos.

Gazeta Esportiva – O Palmeiras é favorito ao título, um dos gigantes que brigam, ou a gente tem que colocar o Flamengo em um “patamar” diferente? – A gente sabe que tem vários clubes grandes brigando por essa taça. A gente é um deles. O Palmeiras é um clube que cada vez mais está crescendo e também tem o seu patamar. O patamar do Palmeiras é gigantesco, assim como o Flamengo está em um patamar diferente. Tem grandes jogadores, é um elenco que vai querer brigar mais uma vez pela taça, mas a gente segue forte e com a concentração em alta para buscar esse título. Não vamos dizer que somos favoritos, mas vamos ficar entre os primeiros para buscar essa taça.

(Foto: Cesar Greco/Palmeiras)

Gazeta Esportiva – O Palmeiras tem muito a evoluir para bater de frente com o Flamengo, ou já está bom assim? – A gente sabe que cada dia mais a gente tem que evoluir, porque o nosso trabalho no ramo do futebol temos que estar aprimorando e aprendendo alguma coisa a mais. Acredito que a evolução é dentro dos treinamentos, porque não é só dentro de campo que podemos arrumar as coisas. É escutando o que o professor tem para passar, e fazer o que a gente gosta de fazer, que é jogar com alegria.

Gazeta Esportiva – O jogo desta terça-feira poderia ser contra o Corinthians, que ficou pelo caminho. É melhor encarar o Guaraní do Paraguai? – Qualquer equipe seria bem complicada. Ia se tratar de um clássico, e a gente sabe que clássico as coisas pegam. Qualquer um que passasse seria um jogo difícil. A gente vai em busca dessa vitória. Não passou o Corinthians, mas a gente vai pegar o Guaraní, que está fazendo uma bela campanha. Vamos em busca dessa vitória porque em Libertadores não pode vacilar. Todo cuidado é pouco, a gente sabe que é no detalhe. O time vem jogar por uma bola e não podemos dar essa brecha para eles.

Gazeta Esportiva – O que está sendo mais legal em trabalhar com o Luxemburgo? – Ele é brincalhão demais e eu gosto desse tipo de coisa. Brincadeira na hora de brincar é muito legal, descontrai a gente. E na hora do trabalho as coisas tem que ser bem feitas, porque a gente sabe que isso vale muito dentro de campo, nos 90 minutos.

Gazeta Esportiva – Os jogadores mais antigos falam que o Luxemburgo é um dos treinadores que mais enxerga futebol. Você consegue notar essa perspicácia dele no dia a dia, nos jogos e treinos? – No tempo em que estou aqui já deu para perceber isso. Ele sabe o que faz e é um treinador muito inteligente. Sabe o que quer, o que almeja, então ele passa isso para gente para a gente vencer junto com ele. Se estivermos bem unidos, podemos alcançar os nosso objetivos esse ano.

Gazeta Esportiva – O que você pode oferecer de diferente para o Palmeiras? Qual é o seu melhor dentro de campo e o que precisa aprimorar? – O meu melhor dentro de campo é a luta, é ajudar meus companheiros, ajudar na marcação, e colocar velocidade lá na frente. Meu negócio é velocidade, colocar a bola na frente para brigar. A cada dia a gente procura melhorar, muitos já estão falando de não fazer gol, mas estou com a cabeça tranquila e sei que no momento certo a bola vai entrar. Não é porque o Rony é um mal finalizador, porque já fiz muito gol na minha vida e no ano passado, fiz bastante gol e fui decisivo. Estou tranquilo quanto a isso e as coisas vão começar a caminhar como foi no ano passado.

Gazeta Esportiva – E até o aparelho é verde. Apenas uma coincidência? – Eu coloquei a cor do aparelho e não sabia (da negociação). Por incrível que pareça era azul e começou a ficar verde. Quando falaram que vinha para o Palmeiras as coisas começaram a ficar verde.