No Pacaembu, o campeão foi o Galo de Itu - Gazeta Esportiva
Guilherme Medeiros e Luca Castilho*
São Paulo
04/13/2019 08:30:21
 

“Depois do jogo a gente não acreditava no que tínhamos conseguido”. Relembrou o treinador Doriva, em entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva.

Neste sábado, dia 13 de abril, a conquista do Campeonato Paulista pelo Ituano completa exatos cinco anos. Um marco na história do tradicional clube do interior do Estado. Em 2014, o Galo de Itu cacarejou mais alto e engoliu o Peixe em pleno Pacaembu lotado. Depois de perder no tempo regulamentar por 1 a 0, os comandados de Doriva venceram o Santos nas penalidades máximas por 7 a 6 e levantaram o troféu.

Esse foi o segundo título Estadual que a equipe conquistou. O primeiro havia sido em 2002. Naquela ocasião, apenas times do interior paulista participaram da disputa.

É um legado que ninguém pode tirar de nós – Doriva

Santos ofensivo x Ituano retraído

Devido a vantagem conquistada no primeiro jogo, era de se esperar que o desenho do segundo confronto tivesse o Santos se atirando e um Ituano um pouco mais acuado. Foi justamente o que aconteceu no primeiro tempo. O Peixe dominou, partiu para cima e conseguiu igualar o placar agregado em pênalti cobrado por Cícero.

Contudo, na etapa final, o Galo de Itu esteve mais presente no campo de ataque, segurou o ímpeto ofensivo do time comandado por Oswaldo de Oliveira e levou a decisão para os pênaltis.

Na segunda cobrança, Anderson Salles desperdiçou para o Ituano, enquanto o Alvinegro da Vila Belmiro converteu sua penalidade com Alan Santos. Aparentemente, ali, o Peixe cresceria e o Ituano perderia o ânimo.

Rildo perdeu e deixou o Ituano muito vivo no Campeonato Paulista de 2014. Até o pênalti de Josa, todos os jogadores acertaram. Então Neto se encaminhou para o oitavo pênalti do Santos.

Uma defesa e muita festa

O zagueiro cobrou rasteiro no lado esquerdo do gol e Vagner defendeu o pênalti. Estava decretado: o Ituano era o campeão paulista de 2014. Festa dos pouco mais de 2.000 torcedores no Pacaembu. Para o goleiro, até os dias de hoje é difícil acreditar que o Galo de Itu faturou a taça.

“Dias depois, um mês a gente ainda não tinha acreditado. Com orçamento baixo, elenco reduzido tinha conquistado um dos campeonatos mais importantes. Até hoje quando vejo alguns lances, paro para pensar, não absorve o feito que fizemos. Ganhamos de todos os grandes, exceto o Corinthians, que estava no grupo. O feito que fizemos lá é memorável e entrou para a história”, afirmou.

(Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

Bater no grande e vencer jogo atrasado: as chaves para o sucesso

Se um time conquista um título, os jogos mais lembrados costumam ser as finais. Contudo, o Ituano teve duas partidas consideradas chaves para erguer a taça. A primeira delas, uma vitória por 3 a 1 sobre a Ponte Preta, em Campinas. O confronto era um jogo atrasado, ainda da primeira rodada do Paulistão.

A outra foi em cima de um grande. O 1 a 0 sobre o São Paulo, no chuvoso Estádio do Morumbi, colocou o time nas quartas de final do torneio e eliminou o Corinthians, ainda na primeira fase da competição.

Os atletas começaram a acreditar que poderiam ir mais longe – Doriva

Vagner relembrou com muito carinho daqueles jogos. “Eu acho que pela importância do jogo, foi o do São Paulo, em baixo de chuva, precisávamos ganhar de um dos grandes do Estado. Ao mesmo tempo, o Corinthians pegava o Penapolense. Tínhamos que ganhar e eles não ganharem para carimbar a classificação”, contou.

“Foi um jogo em que o São Paulo foi bem, mas fizemos um gol no início e seguramos para carimbar a classificação. O divisor de águas foi contra a Ponte, em que viramos, emocionante e nos deu a credencial para se classificar no grupo e fazer algo a mais”, emendou.

O técnico Doriva reforçou a ideia do goleiro. “Vencer o São Paulo no Morumbi trouxe uma confiança para todos. Era um jogo dificílimo, apesar do diluvio que caiu aquele dia. A gente conseguiu fazer o gol no início do jogo e depois, com o diluvio, praticamente não teve mais jogo. Foi guerra. Foi bola pra cima. Mas independente das circunstância de jogo a gente conseguiu vencer”, disse.

(Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

No barco do interior, o capitão é o técnico

Quem é o mais importante? O goleiro? O centroavante? Aquele zagueiro xerifão? O jogador que pouco atua, mas é um líder nato? No Galo de Itu, o maior responsável pela conquista é justamente o capitão do barco, no caso, o técnico Doriva. De acordo com Vagner, o treinador foi primordial para a conquista.

A importância do treinador está justamente no fato de transformar uma equipe sem grandes investimentos em campeã. Em 2014, o Ituano não era comentado no início da competição e até mesmo na final contra o Santos.

“O principal responsável pelo título foi o Doriva. Era um elenco reduzido, a menor folha do Paulistão, e ele conseguiu fazer a gente acreditar que era possível. Éramos uma equipe do interior, onde o investimento não é tão alto. Mas o trabalho do Doriva e da comissão foi primordial para conquistar o título”, afirmou.

(Foto: Djalma Vassão/Gazeta Press)

Ex-jogador, Doriva teve uma longa carreira dentro das quatro linhas. O então volante viveu seu auge com a camisa do São Paulo, em que conquistou o Brasileiro, a Libertadores e o Mundial. Fora do país, atuou pelo Porto, de Portugal, e Middlesbrough, da Inglaterra. Cravou seu nome na história do clube inglês ao conquistar a Copa da Liga Inglesa, a única do time até os dias de hoje.

Decidiu se aposentar em 2007, quando atuava pelo Mirassol, por problemas cardíacos. Dois anos depois, em 2009, iniciou sua trajetória no banco de reservas. Começou no Ituano como auxiliar técnico naquele ano e assim permaneceu até 2013, quando assumiu interinamente, após a demissão de Roberto Fonseca, e salvou o time do rebaixamento do Paulista. No ano seguinte foi efetivado no cargo e começou da melhor maneira possível: conquistando um dos estaduais mais difíceis do país.

“Poder fazer parte da comissão técnica de diversos treinadores foi importante para poder absorver de cada um a sua experiência. E, óbvio, a vivência que tive como atleta, inclusive com os treinadores que tive, aprendi muito. O período que eu tive como auxiliar foi sensacional porque eu obedeci um período de transição, sem ter pressa, e as coisas foram acontecendo naturalmente. Quando fui à frente do trabalho eu já estava preparado”, afirmou.

A esperança na Cidade dos Exageros

(Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

Com pouco mais de 172 mil habitantes, Itu é o 47º município mais populoso do estado de São Paulo. O lugar é conhecido especialmente por ter tudo de tamanho exagerado, curioso para um clube pequeno como o Ituano.

Foi justamente do enorme lugar que surgiu um “grande campeão”, como diz o hino. Vagner contou como a cidade se mobilizou para que o time levantasse a taça em 2014 no Pacaembu. De acordo com o goleiro, a esperança da população ajudou o time a erguer o caneco.

“Foi muito importante, porque o Ituano já tinha sido campeão, mas em um ano sem os grandes. Para a cidade, foi legal, bacana, movimentou muito na final contra o Santos. Se via a esperança e a alegria dos torcedores para conquistarmos o título”, comentou.

Reacendeu a chama no coração da torcida – Vagner

Doriva ressaltou a importância da cidade para a conquista do troféu. “A cidade de Itu mereceu aquele título. Nos dois jogos da final foram mais de 2 mil pessoas para a capital. Foi gratificante participar dessa conquista e vai estar para sempre no meu coração e no coração daqueles que viveram aquilo. E óbvio, os cidadãos se sentem orgulhosos do feito. É uma cidade próxima da capital, mas pequena do interior, e conseguir esses feitos duas vezes engrandece muito Itu. Acho que hoje em dia o Ituano é um clube muito mais respeitado por tudo aquilo que conquistou dentro de campo”, comentou o comandante.

Fator Juninho

(Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

Com exceção de Doriva, outro nome foi vital na campanha do título: Osvaldo Giroldo Júnior, ou simplesmente, Juninho Paulista. Em 2009 assumiu administrativamente o Ituano, mas ainda atuava como jogador pela própria equipe. A partir de 2010, após pendurar as chuteiras, Juninho passou a se dedicar 100% ao extra-campo do time de Itu, na função de gestor.

“O Juninho tem muita importância (no título). Primeiro porque ele era o gestor da equipe. Segundo porque a gente montou a equipe juntos. Ele estava diretamente comigo sempre, a gente compartilhava ideias e conversávamos bastante. Teve um papel importante. Ele acreditou no meu trabalho, me deu confiança para exercer o meu trabalho e isso foi fundamental também. Deu todo o suporte para todos os jogadores. Teve um papel fundamental”, comentou Doriva, técnico do título.

*Especial para a Gazeta Esportiva