Nem herói, nem vilão - Gazeta Esportiva
Felipe Leite
Campinas, SP
01/21/2019 08:20:58
 

“Vai chover, mas dá para treinar tranquilo.” Depois de se desculpar pelo atraso, foi essa a frase que o técnico do Guarani, Osmar Loss, falou no início da entrevista exclusiva com a Gazeta Esportiva, em Campinas (SP), na última quarta-feira.

Também tranquilo depois de uma passagem agitada como treinador do Corinthians, clube pelo qual trabalhou nos últimos seis anos, o gaúcho de 43 anos se vê disposto a recomeçar na equipe campineira, que voltará a disputar a elite do Campeonato Paulista. O restante do calendário do Bugre prevê também a Série B do Campeonato Brasileiro e da Copa do Brasil.

No entanto, a saída do Timão ainda é recente demais para ser ignorada. Durante a conversa com a reportagem, em pleno Brinco de Ouro da Princesa, Loss rechaçou trazer mais um membro da comissão técnica corintiana para o Guarani, reiterou o caráter especial do futuro embate contra o ex-clube, evitou se comparar a Jair Ventura e detalhou os erros e a saída do Corinthians.

Mais algum membro da comissão técnica que era do Corinthians pode se juntar ao Guarani?

“Trouxemos, para agregar ao Guarani, o Dyego Coelho e o preparador físico André Galbe, que já havia trabalhado comigo em outros clubes. Estamos bem servidos em todas as posições por aqui. Os profissionais que aqui estavam são qualificados e competentes, então nesse momento a gente não pensa em trazer novos profissionais para a comissão técnica. Mas, por eles serem bons profissionais, podem surgir ofertas. Nesse cenário, claro que vamos contar com aqueles que já conhecemos.”

Jogar contra o Corinthians será especial?

“É um jogo diferente, porque mexe com emoções. Passei os últimos seis anos da minha carreira trabalhando no Corinthians e tenho muitos amigos lá, tanto dentro do campo, como atletas e comissão técnica também, principalmente agora com o retorno do Fábio (Carille). Vai ser uma partida especial e espero que a gente possa fazer um grande espetáculo, mas que o Guarani se saia vencedor.”

Acredita que a continuidade do trabalho no Corinthians teria melhores resultados do que o time de Jair?

“É difícil a gente falar sobre projeções depois de tudo que aconteceu, fica até injusto. Não me sinto confortável para falar se seria melhor ou se não seria, eu acho que tive o meu tempo e a minha oportunidade. Sei que poderia ter alcançado resultados melhores, sei de alguns equívocos que cometi e de outras coisas que poderia ter feito de maneira diferente.”

Quais equívocos cometeu no Corinthians?

“Foram equívocos que não foram no sentido de escolher jogador A ou B, da técnica ou da tática. Foram situações que poderiam ser tratadas de outra forma dentro da gestão de ambiente do Corinthians. Tem muitas coisas que, se eu tivesse a oportunidade de voltar no tempo, faria diferente. É mais no sentido da gestão de ambiente e gestão de estrutura profissional, não na técnica ou na tática.”

Derrota para a Chape foi crucial para derrocada no cargo de técnico do Timão?

“Eu não enxergo dessa forma. Aquela derrota… a gente tinha um planejamento. Não escondia-se de ninguém que o objetivo principal da temporada era a Copa do Brasil. A gente (diretoria e comissão técnica) fez um planejamento em conjunto. Tínhamos que resguardar alguns atletas e fizemos isso. Tivemos um primeiro tempo brilhante contra a Chapecoense, poderíamos ter feito 2, 3 a 0. No segundo tempo, aconteceram as coisas do futebol: um chutão do Jandrei, que o Cássio pegou a bola com a mão fora da área e daí saiu o gol; e, no final do jogo, um gol aos 48 minutos. Não vejo que ali tenha acontecido alguma derrocada. Eu, pelo menos, não percebi. Tanto que fizemos um jogo competitivo na quarta-feira seguinte e conseguimos a classificação.”

Por que sair do Corinthians, quando existiam planos da equipe alvinegra para você?

“Desde o momento da saída, e não demissão, passando pelo retorno à função de auxiliar e a vivência de um pouco do futebol europeu, tudo era um projeto de retornar isso ao clube. Mas a proposta do Guarani mexeu muito comigo. É o único clube do interior a ser campeão brasileiro e é fantástico estar à frente de uma equipe com a história do Guarani. Isso mexeu muito com os meus objetivos e as minhas ideias que eu tenho para a minha carreira. Deixei isso muito claro para toda a diretoria (do Corinthians), que foram os primeiros a saber. Todos eles me deram força, falaram que eu tinha que dar esse passo. Tudo sempre com muita justiça, muita clareza e muita franqueza, como eu sempre trabalhei as coisas na minha vida. Certamente deixei muitos amigos lá, não é a saída que interrompe isso.”

É justo dizer que o Guarani representa, para você, uma retomada de confiança?

“Não sei se essas são as palavras certas. Não vejo como um grande problema. O futebol, no Brasil, é dividido entre herói e vilão. Na verdade, nós temos aqueles que não são nem heróis, nem vilões. É, sim, uma oportunidade para recomeçar o trabalho e, com isso, poder mostrar que tenho condições de alcançar resultados diferentes em outras equipes. O conceito de trabalho não muda.”

Mantém relação com o Fábio Carille? Como são as conversas?

“O Fábio é um grande amigo. Não só ele, como o Cuca (auxiliar), o Walmir, Mauro… todos esses que estavam na jornada pela Arábia são amigos, a gente vive trocando informações e opiniões. A gente se consulta para alguns detalhes. Inclusive, quando o Fábio estava na Arábia, ele pediu algumas sugestões de treino para melhorar o desenvolvimento técnico de alguns jogadores por lá… enfim, são grandes amigos, as famílias se conhecem e eu torço muito para que ele repita o sucesso que teve em 2017.”