Genaro quer Nobre como embaixador e diz: "Patrocinador não é salvador da pátria" - Gazeta Esportiva
Bruno Ceccon
São Paulo, SP
11/22/2018 19:45:17
 

Genaro Marino Neto participa das eleições presidenciais do Palmeiras neste sábado. Na tentativa de impedir o segundo mandato de Maurício Galiotte, o candidato da oposição acena com a possibilidade de trabalhar de maneira próxima a Paulo Nobre e garante que o clube não depende da patrocinadora para seguir como protagonista.

Genaro contesta a eleição de Leila Pereira ao Conselho Deliberativo e reprova a alteração contratual que tornou o Palmeiras credor da Crefisa em aproximadamente R$ 120 milhões. Ele iniciou a gestão como primeiro vice, mas resolveu se afastar de Galiotte, aliado da empresária.

“Eles não são os salvadores da pátria”, afirmou, sobre a Crefisa. Embora relativize a importância da empresa de Leila Pereira e destaque outras fontes de receita, Genaro Marino assegura estar disposto a negociar uma eventual renovação do contrato que vence no fim do ano.

Sócio do Palmeiras desde 1984, ele virou conselheiro em 1997, atuou como diretor de futebol de 2007 a 2010 e foi vice nas duas gestões de Paulo Nobre. À Gazeta Esportiva, além de falar sobre as eleições, manifestou o desejo de renovar com Alexandre Mattos e adiantou o plano de se reaproximar da Federação Paulista de Futebol (FPF).

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AFASTAMENTO DE MAURÍCIO GALIOTTE
Desde 2013, vínhamos dentro de um programa de gestão com três pilares: ética, transparência e autossustentabilidade. A partir de dezembro de 2016 (com e eleição de Maurício Galiotte), percebemos que esse fluxo começou a mudar. Tivemos o problema de a Leila se tornar conselheira e, do nosso ponto de vista, ela não tinha tempo como sócia suficiente para fazê-lo. A partir daí, ficamos à margem da atual gestão. Depois, em janeiro de 2018, o presidente alterou o contrato de patrocínio e os R$ 120 milhões investidos pela empresa em atletas viraram dívida com correção. Ou seja, o que era risco do patrocinador virou risco do clube. Ele (Galiotte) não olhou o Palmeiras em primeiro lugar e assinou um contrato que privilegia o patrocinador. Para completar, houve uma pressão para alterar o estatuto, com mandato (presidencial) de dois para três anos. Uma alteração de estatuto não pode ser em função de um interesse específico e tudo leva a crer que é de interesse da patrocinadora poder ser candidata em 2021.

APOIO DE PAULO NOBRE
Quem acompanhou o que ocorreu nas gestões do Paulo Nobre sabe que o que está acontecendo agora é uma consequência. Em 2013, percebemos que nossa árvore não estava dando mais frutos. Então, tivemos que fazer o trabalho de arar a terra, prepará-la e fertilizá-la para plantar a semente. A árvore foi crescendo. Em 2015, já começamos a ter resultados do ponto de vista esportivo e também econômico – esses resultados vieram dentro da nossa filosofia. A partir de 2016, o Maurício nos deu as costas. Preferiu dar a mão para Leila e Mustafá, dizendo que teria investimento e governabilidade. Analisando a situação, todos podem ver que o Paulo Nobre tinha razão e sabem que eu posso trazer a mesma filosofia de volta para que tenhamos um desenvolvimento sustentável, andando com as próprias pernas e sem depender de uma empresa que pressiona o clube para agir de uma determinada forma. Entendo que o Paulo Nobre nos dá credibilidade e segurança, porque, se tivermos qualquer problema de relacionamento com empresas, ele será o primeiro a nos ajudar a buscar alternativas para que mantenhamos o Palmeiras nesse patamar econômico.

ATUAÇÃO COMO VICE DE NOBRE
Em 2012, quando vimos a situação do clube, resolvemos nos candidatar. Nosso foco principal sempre foi a profissionalização e muitos dos resultados que tivemos foram justamente pelos profissionais que trouxemos. Fomos buscar o Alexandre Mattos, por exemplo, de comum acordo. A arena ficou pronta em 2015 e virou uma fonte de receita extraordinária. Hoje, a bilheteria é superior ao patrocínio de camisa. Por que temos que depender tanto de uma variável se temos outras que podemos melhorar? Entramos em um círculo virtuoso em 2015 e, com receita e arena, reestruturamos o clube. Em 2016, o retorno foi maior ainda. Nossa patrocinadora apareceu quando a casa já estava arrumada, o plano de trabalho estava feito e a árvore, dando frutos. Ela adicionou frutos e, por isso, é bem-vinda, mas faz parte do todo, é uma variável. Todo o trabalho que fizemos até o fim de 2016 deveria ser mantido. Para nossa surpresa, em 2017 não ganhamos nada e, agora, graças a Deus, vamos ganhar o Brasileiro. Mas conquistar um de oito títulos, com mais de R$ 1 bilhão de gastos…. O custo benefício é muito pequeno. Nosso objetivo é melhorar o desempenho, ter mais retorno e seguir crescendo. Temos que administrar o clube com ética, transparência e de forma autossustentável.

PARTICIPAÇÃO DE NOBRE EM EVENTUAL GESTÃO
O Paulo Nobre é um amigo de mais de 20 anos e o respeito mútuo que temos faz com que, se estivermos na presidência, o que precisarmos do Paulo, garanto que ele vai estar junto. Precisamos de uma pessoa que tenha representatividade nas instituições que fazemos parte: Federação Paulista de Futebol, CBF, Conmebol, Fifa. A figura do Paulo Nobre é benquista por todas as instituições e clubes no meio do futebol. Sem dúvida, na minha gestão, ele será convidado a participar de uma forma bastante ampla. Vai ser um embaixador do Palmeiras nas instituições. Não conversei isso com ele ainda, mas, se a gente chegar lá, de uma forma ou de outra, vamos ter um trabalho conjunto.

INVESTIMENTO DA CREFISA
O Palmeiras não tem uma dependência da Crefisa, como muita gente vem colocando. Eles não são os salvadores da pátria. Se você observar todas as receitas, a patrocinadora representa 13%. Por que dar toda a cesta de ovos para quem tem 13%? Não somos contra a patrocinadora. Para nós, ela é bem-vinda e, por um motivo, é ainda mais útil do que qualquer outra patrocinadora: eles são palmeirenses. Se têm todo esse amor pelo clube, que nos ajudem a administrar de uma forma independente. Não podemos ter o clube envolvido em uma politicagem antiga: eu te pago alguma coisa para você estar comigo. Em menos de dois anos, tudo que o Paulo Nobre fez para mudar essa política ruiu. O gestor do Palmeiras tem a responsabilidade de fazer o que é certo e nós queremos fazer isso.

RELAÇÃO COM LEILA PEREIRA
Tem um pessoal querendo instigar um conflito, mas não tenho conflito com a patrocinadora nem com a Leila, a não ser quando entendo que ela extrapola a própria função. Mas isso é uma coisa para conversar. Vejo de uma forma institucional: o Palmeiras e a Crefisa. São duas instituições que, quando uma ganha, a outra ganha. Comigo na presidência, eles teriam prioridade para continuar no Palmeiras, porque já demostraram amor pelo clube. Nosso grupo enviou uma carta para ela (Leila Pereira), perguntando se permaneceria conosco caso tenhamos sucesso nas eleições. Eu te informo: ela só não continua se não quiser.

DISPUTA JURÍDICA COM LEILA PEREIRA
Ela ameaçou não ajudar outra chapa que não fosse a de preferência dela. Isso não me pareceu correto e me posicionei defendendo o Palmeiras. Pareceu ser uma chantagem: ou faz do jeito que eu quero, ou não faço. Então, reclamei ao defender a instituição de uma pressão financeira na forma de conduzir a política. Ela entendeu que foi uma ofensa e abriu processo. Estamos nos defendendo e acho que isso não interferiria.

CONTRATO APROVADO PELO CONSELHO DELIBERATIVO
A alçada para definir se o balanço está correto ou não é o Conselho de Orientação e Fiscalização (COF). Ele (Maurício Galiotte) levou ao Conselho Deliberativo (CD) algo que é técnico. Como ele convidou todos os conselheiros para fazer parte da diretoria, a maioria aprova. Por que não levou ao CD antes de assinar a alteração no contrato? Depois que foi pressionado pelo COF, pediu ajuda ao CD. Não está certo. No balanço do Palmeiras de 2017, constam R$ 120 milhões como investimento em imagem e marketing. No balanço da nossa patrocinadora, está publicado como empréstimo com correção. Ou seja, os dois estão diferentes em relação ao mesmo valor. Mais cedo ou mais tarde, alguém vai ter algum problema.

COMO RESOLVER EVENTUAL PROBLEMA
Vamos supor que a Crefisa tenha uma dificuldade qualquer e exija que o Palmeiras pague. Como o clube vai pagar isso? Nós seríamos os responsáveis por pagar? Eu, não, porque não concordei. Se ele (Maurício Galiotte) concordou, acho que a responsabilidade deveria ser dele. As pessoas não estão enxergando o que é certo, há uma cortina de fumaça. A Crefisa é a melhor patrocinadora que o Palmeiras pode ter, então ela será valorizada e respeitada como tal. O clube fará todo o esforço para que o patrocinador se desenvolva e tenha seu ganho, como ela teve. Como patrocinadora do Palmeiras, ela cresceu 90% no mercado. O clube tem que ser considerado, e o maior patrocinador do clube é seu torcedor.

RELAÇÃO ENTRE LEILA E GALIOTTE
Caso o Galiotte permaneça, não tenho confiança de como seria essa gestão. Fico preocupado com o espaço e a liberdade que ele deu a um patrocinador dentro do clube, até de determinar como deve ser feito e seguido nosso estatuto. O Palmeiras vinha em um caráter empresarial e profissional. Quando você desvia, não dá certo. Por isso, entendo que há uma tendência de o Galiotte não ter sucesso no futuro. Pode até ser campeão, mas qual vai ser a situação do clube? Ele falou que eliminaria toda a dívida do Palmeiras em dois anos e, em uma canetada, assinou R$ 120 milhões de dívida. Eu não tenho confiança.

GALIOTTE AFASTADO DOS QUATRO VICES
Tivemos uma situação de olhar em defesa da instituição, de fazer cumprir o estatuto e a lei. À medida em que ele virou as costas para nós, acabou se afastando. Começou a fazer tudo da forma que pensa. Ele não consulta, é uma pessoa autoritária. Por isso, os quatro vices se afastaram.

USO DA MÁQUINA ADMINISTRATIVA?
Isso, para nós, é surpreendente. Depois de tudo que falamos sobre ética, transparência e compliance, voltamos para esse item da velha política: quem está no poder tenta se reeleger da forma que for, não importam os meios. Isso não é correto. Importam os fins, mas os meios também são importantes. Eles não forneceram a lista de sócios com endereços e telefones para que pudéssemos nos comunicar. Por que não pudemos ter essa mesma condição? Não somos uma chapa competidora do clube, mas sim uma chapa de interesse do clube. O Palmeiras tem necessidades na área do conjunto aquático e agora estão correndo com as obras.

MUSTAFÁ CONTURSI
O seu Mustafá não faz parte do nosso plano de gestão. Dos quatro vices da nossa chapa, ninguém é ligado a ele. Agora, se votou em mim ou não, deveriam perguntar a ele, porque ele não me apoiou. Uma coisa chama a atenção: o seu Mustafá sempre teve um grupo político, que vem das pessoas que vivenciaram o clube no passado e justificaram os trabalhos que tiveram. Desse pessoal, mais da metade está como diretor da atual administração. Então, eu pergunto: com quem está Mustafá?

ELEIÇÃO COM DUAS CHAPAS
Eu acho que toda competitividade gera benefício. Se não, (o vencedor) fica acomodado. Acho que essa foi um pouco a mentalidade dele (Maurício Galiotte) e foi fazendo o que quis, sem discutir com seus pares. Ninguém dos vices participou de nenhuma contratação e das alterações (contratuais). O presidente da diretoria executiva e o presidente do Conselho Deliberativo (Seraphim Del Grande) decidiram tudo que tinha que acontecer.

ALEXANDRE MATTOS
Eu gostaria de mantê-lo (tem contrato até o fim do ano). Ele tem uma forma de trabalhar que é de acordo com a nossa filosofia: profissional e rápido. Precisamos disso no futebol e deu resultado. Se não tivemos sucesso no ano passado, é por outras circunstâncias, porque, elenco, nós temos. Podemos questionar e o futebol é polêmico justamente por isso. Tem gente que não gosta de um atleta ou outro, mas, hoje, o Palmeiras tem dois ou três times de futebol. Disputar o Paulista e colocar o sub-20 com um elenco desses para mim é um desperdício.

RELAÇÃO COM A FPF
Se sou um clube de futebol, filiado a uma determinada instituição, como posso falar mal da instituição? Então, me desfilio, saio, vou disputar um campeonato europeu ou qualquer coisa. A arbitragem na final errou e nos prejudicou? Sim, mas precisa discutir com a instituição como melhorar. Nosso posicionamento é diferente (em relação ao de Maurício Galiotte). Entendemos que a instituição poderia melhorar. Como poderíamos ajudar e contribuir para isso? Desmerecendo a instituição?

EXPERIÊNCIA COMO DIRETOR DE FUTEBOL
Isso é muito importante. Eu já estava há algum tempo no clube, mas, quando você vai para o futebol, é um mundo diferente. Não pode ser só torcedor, tem que ser algo mais. Esse período (2007-2010) foi de muito aprendizado. Tive a experiência de trabalhar com os principais técnicos do Brasil e isso me deu uma visão muito interessante de como se relacionar com elenco e treinadores. Trabalhamos com Caio Júnior, Vanderlei Luxemburgo, Muricy Ramalho e Felipão. Essas experiências me fazem sentir capaz de disputar a presidência e oferecer ao clube o que posso de melhor.

FORMAÇÃO DO ELENCO
Dentro do nosso programa de governo, sempre seriam dois atletas do melhor nível possível para cada posição e o terceiro, alguém da base. Aliás, outro item que revolucionamos foi a base e isso começou há muito tempo. Plantando hoje, a árvore não dá frutos seis meses depois, principalmente em relação a atletas da base, com mudanças significativas de ano para ano. Todos os profissionais que vieram na nossa época continuam no clube e estão dando resultado. Recentemente, fui contra vender o Fernando (ao Shakthar Donetsk), porque entendi que ele seria um substituto como ídolo para as crianças e jovens. Falam tanto que o Palmeiras tem dinheiro, mas precisou vender atletas em junho e julho para fazer caixa. O clube vai dar lucro nesse ano, mas baseado no trabalho e na estrutura feitos até 2016. Se você separar o que foi investido e o retorno em 2017 e 2018, não sei se vai dar lucro, não. Tanto é que nosso patrocinador preferiu deixar de investir para emprestar.

MEMORIAL COM TROFÉUS
Não temos nossa sala de troféus. Toda nossa história foi jogada fora e disseram que isso não é prioridade. Como não é prioridade? Temos que buscar um local, um espaço. Precisa ter, nossa história tem que estar junto. Onde estão nossos troféus? O que mostramos para quem quer conhecer nossa história? Eu vou focar o clube de uma maneira mais efetiva. No futebol, atingimos um nível muito bom, no qual não precisamos mais comprar uma grande quantidade de jogadores, como no passado. Hoje, com o elenco que temos e a formação que a base proporciona, podemos buscar pontualmente só aquele jogador excelente.

RELAÇÃO COM A WTORRE
Do que o Palmeiras precisa? De um excelente gramado e da programação de shows para não interferir. Eu prefiro jogar na nossa arena. Lá, temos uma capacidade de bilheteria superior a qualquer outro local. A arena tem que ser melhor administrada. É institucional: WTorre e Palmeiras. Os dois têm que ganhar. Não sabemos tudo que é desperdiçado em receita do lado deles. Então, minha proposta é que tenhamos uma reunião e definamos juntos qual é a melhor forma de melhorarmos o ganho. Quando eles construíram a arena, tiraram várias áreas com o compromisso de devolvê-las, mas não corresponderam. Cadê o salão de festas, por exemplo? Não estamos atendendo ao sócio nem ao torcedor da maneira que poderíamos, mesmo com uma estrutura considerada uma das mais bonitas do mundo. Queremos recuperar áreas, melhorar o relacionamento e desenvolver uma relação em que os dois ganhem. Gostaria de mostrar à WTorre que estamos perdendo oportunidades de ganhar mais dinheiro juntos.