Cabeça de chave em Miami, Muguruza trabalha para voltar ao topo - Gazeta Esportiva
Bruno Ceccon
São Paulo
03/22/2018 09:12:07
 

Segunda tenista da história da Espanha a alcançar a liderança do ranking mundial, Garbiñe Muguruza precisou de apenas 23 anos para repetir o feito de Arantxa Sanchez. Ela chegou ao topo da lista em setembro de 2017, já com títulos de Roland Garros e Wimbledon no currículo. Atualmente, trabalha para voltar ao topo e aumentar a coleção de Slams.

“Treino a cada dia pensando no que fazer para conseguir novamente”, disse a atual terceira colocada no ranking da WTA em entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva. Cabeça de chave número 3 em Miami, ela pega na terceira rodada a norte-americana Christina Mchale ou a tcheca Barbora Strycova.

Em busca do primeiro título na temporada, Garbiñe Muguruza conta com os ensinamentos de Conchita Martinez, ex-número 2 do mundo, campeã de Wimbledon 1994 e dona de três medalhas olímpicas. Nos Estados Unidos, trajada com um vestido preto para apoiar o movimento Time’s Up, que luta contra o assédio sexual, ela recentemente presenciou a festa do Oscar.

A jovem nascida em Caracas, filha de um espanhol com uma venezuelana, imigrou para a Espanha ainda na infância e escolheu representar o pais ibérico no circuito da WTA. Ainda assim, diz ter o “coração dividido” e espera servir de estímulo para as crianças da tumultuada Venezuela, país que não visita há mais de cinco anos.

Gazeta Esportiva – Depois de ter jogado menos do que você esperava em Indian Wells (perdeu na estreia da qualifier norte-americana Sachia Vickery), o que espera do torneio de Miami?
Muguruza – A única coisa boa de ter jogado menos do que esperava em Indian Wells foi que tive mais tempo para treinar e me preparar para atuar em Miami. É um campeonato que gosto muito, porque foi onde me tornei mais conhecida. Há um público latino muito forte e o campeonato é espetacular. Tenho muito carinho.

Gazeta Esportiva – Há uma brasileira na chave do torneio de Miami, a jovem Beatriz Haddad Maia, que você enfrentou em Cincinnati no ano passado. Que impressão teve dela?
Muguruza – Sim, joguei contra ela em 2017 (ganhou por 2 sets a 0, parciais de 6/2 e 6/0). Pareceu uma tenista muito boa, com potencial. Tomara que seja uma grande atleta para o Brasil e no circuito WTA.

Gazeta Esportiva – Você sofreu alguns problemas físicos no começo da temporada. Já está totalmente recuperada?
Muguruza – Tive alguns problemas físicos que, para falar a verdade, foram inesperados (desistiu em Brisbane e perdeu por W.O. em Sydney). Desde então, tentei fazer o possível para me recuperar e agora já estou me sentindo bem melhor.

Gazeta Esportiva – Como tem sido trabalhar com a Conchita Martinez na sua equipe novamente?
Muguruza – A gente se conhece há muito tempo. Sempre pude contar com ela em momentos importantes e acho que fazemos uma boa combinação. A Conchita possui muita tranquilidade e experiência. Tem uma maneira sábia e cuidadosa de falar. Isso me acalma, ajuda muito.

Muguruza com vestido assinado por Hannibal Laguna no tapete vermelho do Oscar  2018 (Foto: Divulgação)

Gazeta Esportiva – Recentemente, durante sua estadia nos Estados Unidos, você teve a oportunidade de presenciar a festa do Oscar. Como foi essa experiência?
Muguruza – Incrível. Normalmente, um atleta não tem a opção de ir a um evento como o Oscar. Fui convidada por um patrocinador e vivi uma grande experiência. Passei muito bem e pude conviver com atores e atrizes que a gente sempre vê no cinema.

Gazeta Esportiva – Você usou um vestido preto na premiação. A escolha da cor tem a ver com o movimento Time’s Up, que luta contra o assédio sexual em Hollywood?
Muguruza – Sim, também por isso. Achei uma cor adequada para a ocasião e também para apoiar o movimento. O vestido era muito bonito.

Gazeta Esportiva – Em 2014, quando ainda era pouco conhecida, você disputou a segunda final de sua carreira no WTA de Florianópolis. Lembra bem desse campeonato?
Muguruza – Lembro, sim (perdeu da tcheca Klara Zakopalova). Florianópolis era um torneio que eu gostava muito, porque a cidade é muito bonita e também pude vivenciar um pouco do Carnaval brasileiro. Foi uma experiência proveitosa que tive no país.

Gazeta Esportiva – No Brasil, você disputou também sua primeira edição dos Jogos Olímpicos, em 2016…
Muguruza – Sim, foi uma grande experiência participar das Olimpíadas do Rio de Janeiro. Como não fui muito bem no torneio (perdeu da porto-riquenha Monica Puig nas oitavas de final), o sabor é um pouco agridoce, mas gostei muito de disputar os Jogos na América do Sul, já que sou parte sul-americana também.

Gazeta Esportiva – Dois anos depois de disputar a final de Florianópolis, você conquistou Roland Garros. Em 2017, ganhou em Wimbledon. Como conseguiu evoluir tão rapidamente?
Muguruza – Acho que foi a ambição e a vontade de melhorar sempre. O desejo de querer estar entre as melhores do mundo te faz evoluir mais e mais.

Gazeta Esportiva – Em setembro de 2017, você assumiu a liderança do ranking mundial, repetindo feito logrado apenas por Arantxa Sanchez entre as espanholas. Como foi conseguir isso com apenas 23 anos?
Muguruza – Um momento incrível. Durante toda a minha vida, sonhei em ser número 1 do mundo. Quando consegui, quase não podia acreditar, porque foi algo que sempre quis, desde pequena. O objetivo é não apenas retomar a posição, mas mantê-la.

Ex-jogadora Conchita Martinez orientou Muguruza em Doha, Dubai, Indian Wells e Miami (Foto: Divulgação)

Gazeta Esportiva – Embora jovem, você já alcançou feitos expressivos, como títulos de Grand Slam e a liderança do ranking mundial. Quais são seus próximos objetivos?
Muguruza – Uma vez que você consegue viver momentos tão lindos, como ser número 1 do mundo e ganhar um Grand Slam, sempre quer repetir a mesma situação. Treino a cada dia pensando no que fazer para conseguir novamente.

Gazeta Esportiva – Você costumava formar uma parceria de sucesso com a espanhola Carla Suarez Navarro no circuito (foi vice do WTA Finals 2015). Não pretendem repetir a formação nos torneios de dupla?
Muguruza – Jogamos juntas por vários anos e foi muito bom. Depois, cada uma tomou seu caminho e passamos a ficar mais concentradas no individual. Jogar simples e duplas ao mesmo tempo seria muito desgastante. O individual acaba sendo mais importante agora.

Gazeta Esportiva – Você joga pela Espanha, mas imagino que também tenha um carinho especial pela Venezuela, país em situação delicada no momento…
Muguruza – É claro que sim. É o país em que nasci e minha proximidade com o tênis começou lá. Toda a família da minha mãe é venezuelana. Sempre tenho meu coração dividido. Disputo os torneios como representante da Espanha, mas quem me conhece sabe disso.

Gazeta Esportiva – O povo venezuelano também desfruta e se orgulha das suas conquistas esportivas?
Muguruza – Não sei, espero que sim. Tomara que as crianças venezuelanas que veem minhas conquistas esportivas no tênis sejam estimuladas. Tenho viajado pouco à Venezuela, gostaria de ir mais.