Em meio a dificuldades, São Bento teve arrancada até Série B - Gazeta Esportiva
André Garda*
10/06/2017 08:00:04
 

O São Bento retornou para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro, depois de 34 anos, no dia 24 de setembro. Contudo, a campanha do acesso começou muito antes de 2017. A equipe sorocabana iniciou seu projeto em 2012 e, desde então, conquistou quatro acessos em cinco anos.

Após não conseguir contratar o atual treinador Paulo Roberto Santos, a diretoria do Azulão recebeu do mesmo a indicação de Edson Vieira, que foi contratado. Ao chegar em Sorocaba, o comandante de 51 anos lembra que quase não assumiu o time porque encontrava resistência de parte dos diretores, entretanto ele foi bancado e conseguiu iniciar o seu trabalho. Edson ainda ressalta que a diretoria sempre foi muito profissional, tentando pagar em dia, e que o presidente até não queria o acesso para a A3 por acreditar que não teria condições de arcar com os custos. Além disso, o Bentão sofria com problemas no elenco e falta de instalações – chegando a precisar a treinar escondido no estádio, no estacionamento e na praça. O clube também contava com ajuda de parceiros para arcar com a moradia e as refeições dos atletas.

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No ano do centenário, em 2013, o clube do interior de São Paulo conquistou o seu primeiro título desde 2001. Aproveitando a base do Taubaté – que se salvou de um rebaixamento dado como certo por muitos, ganhando seis das oito partidas finais com Edson Viera como treinador – e contando com jogadores “com (histórico de) acessos e compromisso com o clube”, o São Bento garantiu o acesso e posteriormente venceu o Batatais nas duas finais da Série A3. Vieira ainda conta que a partida do acesso contra o Sertãozinho “foi nebulosa” e com “algumas coisas estranhas que sabia que ia acontecer”. Ele também revelou que Veloso lhe disse que o árbitro da partida chegou a virar para ele quando o confronto estava 3 a 2 para o Touro dos Canaviais e falou “vocês já subiram, o outro jogo está empatado”. No lance seguinte, o gol de empate foi marcado.

Apesar do trabalho vitorioso e de entregar um bom ano de centenário para o Azulão, Edson Vieira foi demitido porque “fui traído por uma pessoa lá dentro”. No entanto, ele destaca não ter mágoas, lembrando: “fui motivo de chacota por ter dito que ia chegar na A1 e na primeira divisão do Brasileiro. Agora algumas pessoas dizem que eu estava certo. Eu plantei a semente, mas não vim a colher. Ajudei a equipe se profissionalizar e fiz os jogadores se unirem. A minha parte eu fiz com hombridade”. Além disso, ele recorda da festa do título, quando um garoto seguiu o trio elétrico do clube por cerca de 5 km antes de ser convidado para se juntar aos jogadores. O técnico também revela que até hoje, quando vai para Sorocaba, não precisa pagar para comer nem para reabastecer seu carro.

Para dar sequência ao trabalho, Paulo Roberto Santos, que já havia treinado o clube rival da cidade, o Atlético Sorocaba, foi contratado do Santo André. “Fui campeão da Copa Paulista pelo Atlético Paulista em 2008, contratei jogadores que tiveram passagens por lá e não tive nenhum tipo de rejeição. Teve uma aceitação e uma receptividade muito positiva por parte dos torcedores”.

Em seu primeiro ano no time, ele conquistou o acesso para a primeira divisão do Campeonato Paulista quando o objetivo era permanecer na Série A2 do Estadual. Durante a campanha, o massagista Luizão faleceu de mal súbito. “A gente vinha em uma sequência muito boa na competição e tínhamos dois jogos seguidos em casa. Se vencêssemos os dois jogos garantiríamos vaga entre os classificados para a fase que define o acesso. Na concentração, ele passou mal e acabou falecendo. Isso mexeu muito com o elenco e a gente tropeçou nos dois jogos”.

Mesmo superando as expectativas, o atual técnico do Bentão deixou a equipe depois da primeira metade do ano para assumir o São Caetano e o mesmo aconteceu no ano seguinte para comandar o Guarani. “Como o São Bento não tinha o calendário, então eu acabava saindo, mas sempre deixando acordado o retorno para o primeiro semestre”, revela Paulo Roberto. No primeiro ano na elite do futebol paulista, a equipe garantiu vaga na Série D do ano seguinte e, em 2016, o time de Sorocaba alcançou as quartas de final do Paulistão. Com isso, conseguiu manter o seu treinador durante o ano inteiro.

Disputando uma competição “arriscada por causa da possibilidade de sua participação acabar em 45 dias caso não se avance para a fase seguinte”, o São Bento conseguiu chegar até a semifinal e garantir vaga na terceira divisão no seu primeiro ano de Série D. “Foram três mata-matas. Classificamos com certa folga, sempre decidindo em casa, o que foi decisivo para o acesso”. Por fim, conquistou vaga na segunda divisão do Brasileirão.

*Especial para a Gazeta Esportiva