Acesso do São Bento à Série B resgata orgulho do torcedor sorocabano - Gazeta Esportiva
André Garda*
10/05/2017 08:00:34
 

O São Bento garantiu o seu retorno ao Campeonato Brasileiro Série B após 34 anos fora da segunda divisão, que na época era a Taça Prata. O acesso foi garantido após empate por 0 a 0 no jogo de volta contra o Confiança, no dia 24 de setembro de 2017, depois de uma vitória por 2 a 0 no confronto de ida em Aracaju. A conquista do principal objetivo da temporada veio quatro anos após o início do trabalho do treinador Paulo Roberto Santos e dois anos depois do retorno à disputa de competições de âmbito nacional.

O feito histórico movimentou a cidade do interior paulista, que agora tem os jogadores e a comissão técnica como seus heróis. “O pessoal agradece nas ruas, as pessoas estão usando a camisa. O São Bento voltou a dar orgulho para a cidade”, declarou Marcelo Cordeiro, um dos principais jogadores da equipe, que já teve passagens por times como Portuguesa, Sport e Internacional.

Durante a campanha na fase de grupos, a equipe de Sorocaba teve a melhor defesa com apenas 10 gols sofridos. O comandante do Azulão considera esse um dos principais fatores para que o time garantisse a vaga na segunda divisão no primeiro ano em que disputou a Série C. “O São Bento na maioria das competições sempre buscou o equilíbrio e o rendimento defensivo bom. Com o equilíbrio nos setores conseguimos tomar poucos gols”, conta.

Apesar da aparente facilidade do acesso pela boa campanha na primeira fase, que terminou com a primeira colocação do grupo B, e uma vitória por 2 a 0 no jogo de ida das quartas de final, o time sorocabano começou a campanha na terceira divisão desacreditado, como lembra o experiente lateral-esquerdo Marcelo Cordeiro. “Muitos falavam que era um dos times candidatos a cair para a Série D por conta do investimento menor, mas nós acreditamos no trabalho”. No Campeonato Paulista, um ano após chegar às quartas de final, o Azulão brigou ao mesmo tempo para avançar de fase e para não ser rebaixado para a A2. Com o término do Estadual, grande parte do elenco foi desfeito, sobrando apenas cinco jogadores, de acordo com Paulo Roberto, que ainda afirmou que “por alguns problemas” – entre eles lesões de peças-chave e a disputa simultânea da Copa do Brasil, competição em que o clube do Estádio Municipal Walter Ribeiro foi eliminado na primeira fase –, “o time acabou não dando liga”.

“O planejamento bem parecido com a Série D, porque teve um orçamento bem reduzido. Tivemos que desmontar o elenco após o Paulistão e remontar o time dentro do orçamento do clube”, disse o técnico. O processo de reformulação do grupo inclusive foi similar ao que a Portuguesa adotou em 2011 para a disputa da Série B – ano em que o clube ganhou a competição com sobras (17 pontos a mais do que o vice-campeão) e passou a ser apelidado pela torcida de Barcelusa –, lembra Marcelo Cordeiro. O lateral conta que as duas equipes começaram o ano com nomes renomados, como Ricardo Bueno e Morais no caso do Bentão, e conseguiram seu maior objetivo na temporada com atletas desconhecidos do grande público. “Tanto em 2011 como neste ano eram dois times desacreditados, com muitos jogadores desconhecidos, mas que dentro de campo provaram que nem sempre nome ganha jogo”.

Iniciando a competição com o objetivo de permanecer na terceira divisão, Paulo Roberto Santos conta que ao longo do torneio “vimos que era possível conquistar algo a mais”. Para o comandante do São Bento, foi possível perceber isso porque a equipe se manteve entre os quatro classificados para as quartas de final no decorrer da maior parte da fase de grupos. Também foi possível ver uma arrancada do time de Sorocaba na reta final, já que, nas últimas rodadas, a equipe garantiu a primeira colocação. “O time realmente veio em uma crescente na competição”, disse Cordeiro antes de falar como foi a semana antes do jogo do dia 24 de setembro. “A gente viu o tamanho da nossa responsabilidade. A cidade abraçou o clube. O estádio, que vinha com duas mil pessoas de média de público, teve 10 mil na última partida (contra o Confiança). Eles acreditavam muito em nós. A gente não podia decepcionar a torcida”. Para que o objetivo fosse alcançado, o comandante do Azulão fala abertamente que teve “que jogar com o regulamento debaixo do braço, principalmente no segundo tempo” após a expulsão de João Paulo aos 26 minutos da segunda etapa.

Apesar de ter levado a equipe de Sorocaba a três acessos – da Série A2 para a A1 do Campeonato Paulista em 2014 no seu primeiro ano de trabalho, da quarta divisão para a terceira do Brasileiro em 2016 e agora para a Série B –, Paulo Roberto Santos não se considera o grande salvador do clube, que iniciou sua arrancada em 2013, ano do centenário, subindo da A3 para a A2 do Estadual. “Sabemos da nossa importância no crescimento do clube nesses últimos anos, temos consciência disso, mas contamos com a participação e colaboração de muita gente. Foi um trabalho em conjunto até porque nunca sobrou dinheiro e se batalhou para se pagar religiosamente em dia”, comentou.

*Especial para a Gazeta Esportiva