Decolagem autorizada - Gazeta Esportiva
Tomás Rosolino
São Paulo (SP)
01/27/2018 00:50:27
 

O zagueiro Pedro Henrique não se vê mais como um jovem das categorias de base do Corinthians. No profissional há quatro anos e com mais de 50 jogos pelo clube, ele se considera pronto para substituir Pablo na zaga corintiana. Mais que isso: mostra ansiedade para entrar em campo em clássicos como o deste sábado, contra o São Paulo, no Pacaembu, e projeta até como seria atuar em uma Copa Libertadores da América pelo clube.

Em conversa descontraída com a reportagem da Gazeta Esportiva, o defensor mostrou até certo incômodo com o aposto “jovem da base” que costuma acompanhar citações sobre ele e outros criados no clube, assegurando já ter passado dessa fase “faz um tempo”. Para ele, o vocativo “zagueiro do Corinthians” é o bastante para identificá-lo a qualquer um daqui para frente;

“Olha, acho que desde o ano passado já esqueceram um pouco de “zagueiro que subiu da base”. Espero que esse ano esqueçam mais um pouco, já estou há quatro anos no profissional. Tomara que esqueçam logo esse negócio de moleque da base, na verdade. Ser o Pedro, zagueiro do Corinthians, dá uma confiança maior, né? Espero que me vejam assim”, disse o atleta de 22 anos.

Ciente da busca do Corinthians para um substituto de Pablo, que será o experiente Henrique, ex-Fluminense, presente até em uma Copa do Mundo pela Seleção Brasileira, o defensor prometeu ser “uma pedra no sapato”, no melhor sentido da palavra. ” Vou trabalhar bastante, treinar quieto e mostrar meu futebol. Pode ter certeza que vai ter sempre o Pedro Henrique ali”, explicou.

Encarando o Paulista como um ponto fundamental na busca pelo sonho da titularidade, Pedro ainda avaliou o quanto cresceu com o nascimento do filho, Pietro, e traçou alguns planos para a sua carreira. Sorridente, o zagueiro espera que o seu 2018 seja tão inesquecível (e bom) para ele quanto para o torcedor corintiano.

Gazeta Esportiva – Você começou a jogar em 2016 no profissional, foi o reserva mais utilizado no ano passado e agora começa o ano como titular. Esse é o seu ano?

Pedro Henrique – Minha expectativa é a melhor possível, né, sempre sonhei com essa titularidade. Busquei meu espaço, estou trabalhando, acho que estou correspondendo à altura. Espero conseguir essa vaga aí, algo que vai ser importante para o resto dos meus sonhos. Tenho meus objetivos, indo bem no clube, fazendo meu papel da melhor forma, quem sabe chegar na Seleção Brasileira e o sonho de todo jogador, que é jogar na Europa.

Gazeta Esportiva – Você se preparou de forma diferente para esse ano?

Pedro Henrique – Sim, eu já tinha notado que podia ser meu ano em 2017, quando não acertaram com o Pablo. Não deixei de trabalhar nas férias, cheguei bem melhor do que eu cheguei no ano passado aqui, em questão física, de percentual (de gordura). Já vinha me preparando e espero, neste ano, me tornar o titular do Corinthians.

Gazeta Esportiva – Mas o que você mudou?

Pedro Henrique – Mudei tudo, né, nas férias a gente normalmente relaxa. Minha cidade é em Santa Catarina, Imbituba, sempre o pessoal relaxa, tem vários lanches lá para comer (risos). Mas, nessas férias eu não relaxei, não.

Gazeta Esportiva – Nem um pouco?

Pedro Henrique – Ah, na primeira semana eu larguei, mas na segunda semana eu já comecei a trabalhar. Trabalhei as últimas três semanas em academia, com um personal lá, o Gil, que me ajudou bastante. Também cuidei da minha dieta para chegar bem e dar resultado nos números. Em comparação com o ano passado, foi muito diferente.

Gazeta Esportiva – Hoje você acha que é um “jovem que veio da base do Corinthians” ou já é um “jogador do Corinthians”?

Pedro Henrique – Olha, acho que desde o ano passado já esqueceram um pouco de “zagueiro que subiu da base”. Espero que esse ano esqueçam mais um pouco, já estou há quatro anos no profissional. Tomara que esqueçam logo esse negócio de moleque da base. Ser o Pedro, zagueiro do Corinthians, dá uma confiança maior, né? Espero que me vejam assim.

Gazeta Esportiva – Nesse processo todo você ainda foi pai (o filho Pietro nasceu em agosto do ano passado), isso ajudou no amadurecimento?

Pedro Henrique – Sim, sem dúvida, ser pai é uma responsabilidade muito grande. Com a chegada do meu filho eu criei isso, é uma coisa muito boa, todo mundo me falava isso e é realmente muito bom. Você ver uma risada do seu filho, estar ali do lado dele, motiva mais a gente para chegar aqui no trabalho e desempenhar um melhor futebol. Agora tenho mais um para sustentar (risos), então não dá para relaxar. Sempre vou dar o meu melhor pensando no meu filho, está bem encaminhado, mas já penso em ter mais um, preciso dar sempre o meu melhor pensando neles.

Gazeta Esportiva – Faz projeto para ter o seu filho te assistindo?

Pedro Henrique – Eu tinha o sonho de entrar com ele na arena, já realizei, agora fico pensando em trazer ele aqui no CT, dar os primeiros passos, tipo o filho do Fagner, do Jadson, ficar brincando de bola com ele. É algo que eu quero que aconteça, que ele tenha muito orgulho de mim, vendo os jogos, tanto na TV quanto no estádio.

Gazeta Esportiva – Esse vai ser o seu primeiro Majestoso como titular, está com a expectativa lá em cima?

Pedro Henrique – Sem dúvida, esse clássico na base também era cobrado, já disputei um na Copinha, ganhamos de 3 a 0 (semifinal de 2015). Já joguei contra o Santos, contra o Palmeiras. Fiz um gol contra o Santos, mas anularam. Não joguei ainda contra o São Paulo, quem sabe não sai até um gol.

Gazeta Esportiva – Você chegou no clube em 2011, uma época de muita rivalidade com o São Paulo. Hoje, quem você acha que é o maior rival do Corinthians?

Pedro Henrique – Olha, para mim, é o Palmeiras. Tanto por hoje, que eles investiram muito, quanto pelo passado que vem também. Ano passado foi muito legal, a gente ganhando aquele jogo no Paulista com um a menos, depois fizemos 2 a 0 sobre eles lá na casa deles. É uma rivalidade que já vem há tempos, desde quando eu subi eu já vi essa rivalidade. Na base sempre foi mais forte também, mas o São Paulo, quando o Osmar chegou, dificilmente a gente perdia um clássico para eles. Aí criou essa rivalidade maior também.

Gazeta Esportiva – Você tem um perfil bem tranquilo, como encara essas provocações que rondam um clássico?

Pedro Henrique – Cara, eu sou muito tranquilo quanto a provocação. Algumas fazem parte do futebol, outras, não. Ano passado, empatamos o jogo lá no Morumbi, a gente saiu comemorando o gol do Clayson e saiu um vídeo meu e do Gabriel comemorando. O Gabriel até foi suspenso, mas foi uma forma de comemorar o gol, a gente saiu pulando e gritando, forma eufórica. Mas a torcida do São Paulo não gostou muito, me xingou um monte nas redes sociais. Mas meu time vai fazer o gol e eu não vou comemorar? Ainda mais naquela circunstância, empatar fora. Foi muito bom. Só que faz parte do futebol também, alguém, tanto lá quanto cá, dando uma cutucada. Traz mais emoção.

Gazeta Esportiva – Você já está bem acostumado a essa linha de 4 defensores tão falada pelo Carille, talvez o ponto que ele mais se preocupa. Acredita que pode chegar no nível de entrosamento do Pablo com o Balbuena?

Pedro Henrique – Acho que já demonstrei isso no ano passado, estava vendo meus números, são melhores que os dos titulares até. Joguei 22 jogos no Brasileiro, 30 na temporada, é muito para um suplente. De 22, 14 foram vitórias. No primeiro turno eu joguei 12 jogos e a gente não perdeu nenhum. É um número muito bom, tenho certeza que vou substituir da melhor maneira possível. O começo está um pouco abaixo, mas vamos melhorando bastante. Ele sempre trabalha essa linha de 4, bastante compacta, sem tomar bola nas costas, facão do atacante, ficar atento. Com o tempo, a gente vai se alinhando, tomara para fazer uma melhor temporada do que no ano passado.

Gazeta Esportiva – E como você encarou a chegada do Henrique?

Pedro Henrique – Sem dúvidas é um cara experiente, a gente aprende com esses caras. Mas também fica pensando: “Pô, o que o professor vai pensar agora?”. Vou trabalhar bastante, treinar quieto e mostrar meu futebol. Pode ter certeza que vai ter sempre o Pedro Henrique como uma pedra no sapato do zagueiro mais experiente. Já é de anos, segundo ano que eu estou disputando, se o professor optar por mim, vou ficar muito feliz.

Gazeta Esportiva – E o Léo Santos, que é mais novo do que você ainda. Conversa com ele para dar conselhos sobre essa espera?

Pedro Henrique – Todos nós que subimos da base sabemos a hierarquia do clube, a situação, ele já está bem ciente. como eu tive no ano passado. Tenho a consciência também que o Henrique chegou e é um grande jogador. Somos mais novos, é diferente. Temos que sempre estar trabalhando a mais do que os outros para conquistar o nosso espaço.

Gazeta Esportiva – No que você precisa trabalhar?

Pedro Henrique – Olha, acho que o principal é a bola aérea defensiva. Tive algumas falhas na bola aérea defensiva no ano passado. Pretendo melhorar nos treinamentos, nessa temporada ainda não deu para treinar, está com jogo em cima de jogo, mas, cada treino, final de treino, quando tiver uma folga, vou trabalhar. Contra o São Paulo já tem uma semana cheia, dá para trabalhar isso. Trabalhar passe, a perna esquerda, outras coisas que eu tenho treinado. Acho que esses são os três principais pontos;

Gazeta Esportiva – É mais difícil fazer tudo isso com um companheiro novo (Juninho Capixaba) do seu lado?

Pedro Henrique – O Juninho já tinha um pouco da malandragem do futebol, já viu o que o professor quer. Nos jogos eu procuro conversar bastante com ele, o Cássio, o Fagner e o Balbuena também. Acho que ele jogou bem nos jogos que teve chance, é um grande jogador, vai nos ajudar muito.

Gazeta Esportiva – Essa vai ser a sua primeira Libertadores também, está ansioso?

Pedro Henrique – É um sonho de todos os jogadores jogar uma Libertadores, estou um pouco ansioso para que chegue essa hora. Mas, primeiro, é ir bem nessas partidas do Paulistas porque é daí que vai surgir a oportunidade de jogar na Libertadores. Espero fazer um grande futebol na Libertadores, é um jogo mais corrido, de contato. Um jogo que eu gosto.

Gazeta Esportiva – É um jogo mais “pegado”?

Pedro Henrique – É um jogo com mais contato, que a gente gosta. Por exemplo, teve um jogo de corpo do Rodriguinho contra o São Caetano que o juiz não daria nunca na Libertadores. Lá eles não apitam qualquer falta. Estou um pouco ansioso mesmo, sempre cresço nesses jogos, então não dá para esconder.

Gazeta Esportiva – Tem sempre o clichê da “catimba” argentina, você já sentiu isso? Ou não existe mais?

Pedro Henrique – Eu senti isso um pouco na Argentina, que a gente empatou o jogo lá, Rodriguinho foi expulso. Aquele meio-campo que jogou no Internacional…

Gazeta Esportiva – Lisandro López.

Pedro Henrique – Isso. Esse é catimbeiro, muita provocação dele em cima da gente. A gente sempre espera provocação dos argentinos, chilenos, uruguaios…

Gazeta Esportiva – E qual foi essa catimba?

Pedro Henrique – O cara xinga, demora para bater falta, fica rolando no chão. Sempre teve uma rivalidade grande, né, Brasil e Argentina, sempre rola isso.

Gazeta Esportiva – Ano passado, em uma entrevista, você brincou quando o Pedrinho disse que ia no Burger King, falou que ele deveria ir no Paris 6. O Emerson Sheik é um frequentador da casa, já conversou com ele se rola um desconto?

Pedro Henrique – (Risos). Não, então, no ano passado, o Isac, dono lá, até me disponibilizou uma janta quando eu falei isso, levei minha esposa, minha mãe e minha sogra. Mas aquilo foi uma brincadeira, sempre fui no Burger King, no shopping prefiro comer lá até. Foi mais para descontrair o Pedrinho, ele ficou vermelho na hora da pergunta, foi para deixá-lo mais à vontade.

Gazeta Esportiva – Hoje, sem o Jô, quem você acha que é a referência no elenco?

Pedro Henrique – Então, no ano passado, não era só o Jô, tinha Balbuena, Fagner, Cássio, Jadson. Tanto que a faixa de capitão revezava entre eles. São caras diferentes, caras de grupo, sabem o que falar na roda. Deixam o grupo sempre unido, enfatizam isso, um correr pelo outro, sempre um olhar na cara do outro e falar. Isso que levou a gente em 2017 a ter um grande ano. É isso que vai levar a gente a fazer outro grande ano em 2018.

Gazeta Esportiva – E quando você vai ser essa referência?

Pedro Henrique – A partir do momento em que eu for titular, conquistar títulos. Hoje acho que alguns moleques que sobem têm eu como exemplo, falam: “Pô, Pedrão trabalhou, se dedicou, hoje está de titular”. Então espero que isso aconteça com mais gente lá na frente, mas tem que ganhar mais títulos para ser essa referência.