Da Série B ao Deca - Gazeta Esportiva
Bruno Ceccon
São Paulo, SP
11/30/2018 08:00:17
 

A sólida relação de Fernando Prass com a Sociedade Esportiva Palmeiras foi forjada na dificuldade. Contratado no final de 2012, o ídolo vivenciou a profunda transformação do clube alviverde desde então, da Série B do Campeonato Brasileiro ao Deca.

“O campo melhorou rápido, hein?”, observou Prass, enquanto se acomodava em uma cadeira na beirada do gramado do Allianz Parque, fechado à época de sua contratação. Na semana que pode marcar o fim da longa passagem pelo clube alviverde, o goleiro concedeu entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva.

Com o Palmeiras rebaixado à Série B, Prass chegou em 2012 a um clube que ainda buscava um sucessor para Marcos. Acabou ferido em uma confusão com a torcida e ficou com salários atrasados em 2013. No ano seguinte, brigou contra um novo descenso.

“Acho que tenho essa ligação muito forte com o Palmeiras justamente por ter vivido esses momentos”, afirmou, aos 40 anos de idade. Herói da Copa do Brasil 2015, título que marcou a virada do clube, Prass comentou o status de ídolo, falou sobre a condição de reserva e se disse surpreso com o ex-rival Lucas Lima.

Gazeta Esportiva: Você tem 263 jogos pelo Palmeiras, marcou o gol do título da Copa do Brasil e ganhou dois Brasileiros. Mesmo estando em atividade, já consegue ter uma ideia da própria dimensão como ídolo?
Fernando Prass: Sei que a torcida gosta muito de mim, que tenho um respeito muito grande. Mas, em relação a ser ídolo, acho que o cara só tem essa noção mesmo quando encerra a carreira. Ás vezes, paro para pensar e digo: “Pô, fui campeão da Série B, duas vezes do Brasileiro e uma da Copa do Brasil. Todo o mundo tem títulos assim, mas, espera aí: em um clube do tamanho do Palmeiras, com a história que tem, bati um pênalti que deu um título nacional”. Disso, acho que ainda não tenho a real dimensão. Depois que eu parar, daqui a 10 ou 20 anos, e forem contar a história dos títulos do Palmeiras, vão falar que, em 2015, um goleiro bateu o pênalti e fez o gol decisivo. Aí, vou ter um pouquinho mais a noção do que é realmente.

Gazeta Esportiva: Você chegou ao Palmeiras em 2012 e, portanto, viveu as difíceis temporadas de 2013 e 2014. Acha que parte do carinho da torcida se deve a isso?
Fernando Prass: Pode ser. Acho que tenho essa ligação muito forte com o Palmeiras justamente por ter vivido esses momentos. De repente, se tivesse chegado em 2015 ou 2016, já sendo campeão, naquela atmosfera muito mais positiva, não teria uma ligação tão forte. Em São Januário, fui comemorar com o Victor Luis e disse: “Vitão, o Dracena falou no banco que estava sofrendo porque o jogo não acabava. Eu falei que sofrimento foi o que passamos em 2014, lutando para não cair”. Então, se você perguntar para o Victor, acho que ele também vai ter o sentimento de que as conquistas, depois do que passamos, têm um gosto diferente, um gosto especial.

Gazeta Esportiva: Na época em que você chegou, o Palmeiras havia sido rebaixado pela segunda vez e vivia uma situação de caos administrativo. O que te atraiu ao clube?
Fernando Prass: Lembro que assinei o contrato no dia 12/12/2012. Estava há quatro anos no Vasco e já tinha uma leitura das coisas que estavam acontecendo, que o clube precisaria passar por reestruturação e alguns cortes, como passou depois. Tive algumas propostas e não sei exatamente o que me fez decidir pelo Palmeiras, mas acho que foi a decisão mais acertada. Um dos fatores é que já tinha a ideia de jogar por mais tempo e sabia que precisava de um clube que oferecesse estrutura para que eu pudesse me manter em alto nível fisicamente.

Gazeta Esportiva: Você assinou contrato no mesmo dia do jogo de despedida do Marcos, no Pacaembu. Na época, o Palmeiras ainda buscava um sucessor para o ídolo e não contratava um goleiro desde 1994. Lembra desse clima na sua chegada?
Fernando Prass: No meu primeiro ano de Palmeiras, respondi a pergunta sobre o Marcos em todas as entrevistas. Eram três perguntas, na verdade: substituir o Marcos, ser um ‘intruso’ na Academia, porque o clube não contratava goleiro há 18 anos, e a questão da idade. É claro que, com o passar do tempo e meu desempenho dentro de campo, essas perguntas começaram a ficar mais raras.

Gazeta Esportiva: Na época, como você encontrou o clube em termos de estrutura e organização?
Fernando Prass: Há uma diferença muito grande. A gente não tinha o CT modernizado nem o estádio e o Palmeiras contava com nove mil sócios-torcedores. Hoje, são 130 mil e um estádio e um centro de treinamento que são modelos. Além de ter sido rebaixado, o clube vivia uma transição presidencial e disputaria uma Libertadores. A gestão do Paulo Nobre assumiu e, aos poucos, começou a organizar, mas esse começo foi bastante complicado. Hoje, falar isso no Palmeiras parece surreal, mas eu enfrentei problemas financeiros aqui no começo de 2013: salários atrasados, carteira atrasada, direito de imagem atrasado…

Gazeta Esportiva: Após um jogo contra o Tigre, pela Copa Libertadores, você acabou ferido em uma confusão com torcedores no aeroporto de Buenos Aires. Aquilo assustou?
Fernando Prass: Assustou, né? Porque eu tinha pouco tempo de clube e uma situação daquelas assustaria qualquer um, porque fugiu totalmente do esporte. A gente sabe que é um clube de cobrança muito grande e que a torcida é exigente, mas ali a coisa passou do limite. Tive que ficar na Argentina ainda para prestar depoimento. Foi um cartão de visitas nada agradável. Agora, olho para trás e vejo tudo que aconteceu depois, mas foi um momento bem complicado.

Gazeta Esportiva: Depois de ganhar a Série B em 2013, o Palmeiras viveu uma temporada decepcionante em 2014, ano do centenário do clube. Como você assimilou esse período?
Fernando Prass: Em todos os clubes, o centenário causa uma expectativa muito grande por títulos. É um ano bastante difícil e, para nós, foi triplamente difícil. Tínhamos voltado da Série B, estávamos correndo risco de rebaixamento e no ano da inauguração do estádio. O peso que carregávamos era enorme, porque, se caíssemos, ficaríamos marcados para sempre na história do clube. Ninguém queria levar um carimbo desses. Graças a Deus, deu certo e não marcamos o centenário negativamente. Acho que isso foi fundamental para as coisas serem como são hoje.

Gazeta Esportiva: A notícia boa de 2014 foi a abertura do Allianz Parque. Quanto isso fortaleceu a equipe?
Fernando Prass: Ah, demais. É totalmente diferente. Para o torcedor, também, porque ele vem sabendo que é a sua casa, o seu estádio. A gente reclama muito do campo, que não está em condições ideais e até se cogita usar o Pacaembu. Mas, mesmo com o campo ruim, preferimos jogar aqui, porque é nossa casa. É um ambiente fantástico que se criou e, para nós, uma grande vantagem.

Gazeta Esportiva: A meu ver, o Zé Roberto precisar lembrar aos mais jovens em 2015 que “o Palmeiras é grande” demonstra a fase ruim vivida pelo clube nos anos anteriores. Qual era o espírito de vocês no começo daquela temporada?
Fernando Prass: É isso mesmo. O Palmeiras vinha de um rebaixamento em 2012, da Série B em 2013 e do sufoco na Série A em 2014. Então, precisava de uma reafirmação, de se mostrar grande de novo. Acho que esse discurso mostra um pouco do que a torcida e os jogadores estavam sentindo, que era realmente a necessidade de resgatar a grandeza de resultados do Palmeiras. O clube sempre foi gigante, mas, desportivamente, estava passando por um período difícil.

Gazeta Esportiva: O título da Copa do Brasil de 2015 contra o Santos marcou a reconstrução do Palmeiras e te colocou na história do clube. Quase três anos depois, como você lembra daquela decisão?
Fernando Prass: Dos jogos que disputei e dos títulos que ganhei, foi, sem dúvida nenhuma, o mais marcante em termos de emoção e vibração. Foi uma descarga de adrenalina absurda, tanto que saí correndo, dei a volta, fui na torcida… Chegou uma hora em que a energia acabou e eu caí no chão. Só queria respirar. Houve uns dois ou três minutos em que não conseguia pensar em nada, o cérebro não raciocinava. Não tinha como ser mais emocionante.

Gazeta Esportiva: E como exatamente se deu a decisão de você participar da decisão por pênaltis e ainda ser o responsável por encerrar a série?
Fernando Prass: Com o Marcelo Oliveira, treinávamos pênaltis praticamente todos os dias e comecei a bater também. Se precisasse, queria estar preparado. No fim do jogo, quando chegamos no grande círculo para escolher os batedores, estava uma bagunça. O Alecsandro, que não estava nem inscrito no torneio, ficou ao lado do Marcelo Oliveira para ajudar a escolher. Perguntaram para mim se eu batia e aceitei. Não tínhamos muitos jogadores experientes para cobrar. Os meninos, provavelmente, batiam melhor do que eu, até porque nunca tinha batido, mas, se deixasse na mão deles e um errasse, ficaria com a consciência pesada por não ter assumido a responsabilidade. Muita gente falou: “Ah, o Prass é maluco de cobrar”. Maluco, não sou. Tanto é que treinei muito e, se não estivesse preparado, não bateria. Mas foi uma situação bastante difícil, ainda mais sendo o quinto pênalti e com a chance de encerrar a série.

Gazeta Esportiva: Com o título da Copa do Brasil, um patrocinador forte e contratações de peso, o Palmeiras começou 2016 em outro patamar. Qual foi sua percepção sobre essa mudança de status?
Fernando Prass: Essa mudança de patamar já deu para notar claramente naquelas enquetes que são feitas antes de começar os campeonatos, porque muita gente apontava o Palmeiras como favorito aos títulos. A gente sentia também que os reforços já chegavam com esse espírito, com essa cobrança no pacote. De lá para cá, a cobrança cresce cada vez mais. A gente ganha um título importante, mas sempre somos cobrados pelos que perdemos. A partir de agora, vai ser assim, porque se criou uma condição para isso. Quando se cria a estrutura econômica, administrativa e física necessária, naturalmente as pessoas vão vislumbrar coisas grandes e, quem estiver vestindo a camisa do Palmeiras, vai ser cobrado por isso.

Gazeta Esportiva: Você terminou 2015 como herói e começou 2016 jogando muito bem, a ponto de receber o primeiro chamado para a Seleção, mas foi impedido de disputar as Olimpíadas por lesão. Ainda pensa no que teria acontecido se não tivesse sofrido a contusão?
Fernando Prass: Eu nem pensava em ser convocado, sinceramente. Muito menos pela Seleção olímpica, porque havia o limite da idade. Acho que todo ser humano tem pensamentos desse tipo, tanto para o bem quanto para o mal. Por exemplo: se não tivesse vindo para o Palmeiras, teria conquistado tudo que conquistei? Faltava uma semana para começar as Olimpíadas e sou um atleta que dificilmente se machuca. Então, a cabeça deu uma balançada e, nos primeiros dias, sofri bastante. Tentei ver o lado positivo: se tivesse machucado antes, não seria nem sido convocado. Brinco com minha família e meus amigos que, querendo ou não, tenho lá minha foto com a camisa da Seleção, dando entrevista, treinando. Posso dizer que fui convocado.

Gazeta Esportiva: Neste contexto, substituir o Jailson no jogo do título do Campeonato Brasileiro de 2016 certamente foi algo reconfortante…
Fernando Prass: Quando houve a lesão na Seleção, disse aos atletas que me sentia muito frustrado e triste, porque sabia que havia perdido a chance de ser campeão olímpico. Eu tinha certeza que eles iriam conquistar. E também tinha certeza que o Palmeiras seria campeão brasileiro. Botei na minha cabeça que quebraria todos os prazos para voltar e estar no jogo do título. O negócio fluiu de uma maneira que deu certo. O jogo do título foi em casa, a gente foi campeão e ainda pude participar da festa para sentir aquele gosto de gritar campeão de dentro do campo.

Gazeta Esportiva: Você tem mais de 200 jogos por Coritiba, Vasco e Palmeiras. Ou seja, é acostumado a ser titular. A partir de 2017, passou a enfrentar a concorrência do Jailson. Como lidou com isso?
Fernando Prass: Só não joguei como titular em 1999, quando subi para o profissional, e agora, em 2018. Sempre fui acostumado a jogar e tive bom ambiente. Todos os meus concorrentes me respeitaram. Então, é natural e não poderia agir de forma diferente. Continuo trabalhando igual ou até mais do que antes. Respeitando a decisão do treinador e o momento do meu companheiro. Mas nunca vou baixar a guarda, vou sempre trabalhar para jogar e melhorar a cada dia. Entendo que o futebol é um esporte coletivo e, quem vence, é o grupo. Cada um tem seu momento e sua maneira de ajudar. Procuro contribuir da maneira que posso a cada partida. Se for jogando, melhor. Se não for jogando, também fora de campo conseguimos contribuir. O principal de tudo é respeitar o companheiro e a hierarquia do clube.

Gazeta Esportiva: Mesmo no banco, você procura manter a postura de líder, seja na hora de reclamar com a arbitragem, para orientar algum companheiro ou até consolar nas derrotas…
Fernando Prass: Futebol é coletivo. Não se faz só com os 11. As pessoas só veem o que acontece dentro do gramado, mas o futebol é muito mais do que isso. Tem o dia a dia, o treinamento, o extracampo, a parte humana do atleta. Quem está fora, como não pode ajudar lá dentro, se preocupa mais com o extracampo. Por ter mais experiência e vivência de clube, a gente tenta ficar atento aos detalhes que possam estar passando despercebidos. Se perguntar para os 11 que estão jogando, eles vão gostar do treinador, vão estar felizes, vão chegar ao clube dando risada, porque sabem que vão jogar. Na verdade, os caras que não jogam são os que fazem o bom ambiente

Gazeta Esportiva: Mas, para alguém com a sua história, é desconfortável ficar no banco?
Fernando Prass: Ninguém gosta de ficar na reserva, todo o mundo quer jogar e trabalha para isso. O que posso falar é que não estou acomodado. Venho trabalhando e treinando, sempre como se fosse jogar. Vou lutar para isso, em qualquer clube que esteja. Nunca vou me acomodar. No dia em que me acomodar, paro de jogar. O cara que se acomodar e estiver feliz sentado no banco, mais do que estar se enganando, vai estar enganando o clube. Eu respeito, mas é óbvio que não me sinto à vontade.

Gazeta Esportiva: A relação entre você, Jailson e Weverton parece ser saudável. Como é a concorrência entre os três?
Fernando Prass: A concorrência entre os goleiros é diferente, porque sempre trabalhamos juntos. A posição de goleiro é particular, tem uma cobrança e um peso diferentes. Para mim, é a posição que mais responsabilidade carrega, que mais cobrança sofre. A gente, graças a Deus, tem um ambiente excelente. Já vi alguns clubes em que a convivência não era boa. Aqui, a gente se respeita muito e tenta se ajudar, porque a concorrência tem o lado positivo de elevar o nível. Você tem que estar sempre bem para jogar. Às vezes, em algum clube o cara não joga por deficiência técnica. Aqui, pelo contrário: você não joga porque o outro também é bom.

Gazeta Esportiva: Ser campeão jogando e no banco é diferente? Ou tem exatamente o mesmo peso?
Fernando Prass: É diferente. Jogando, é diferente. As sensações que você tem jogando são outras. Fora, você participa, se sente campeão. Eu joguei três jogos pelo Brasileiro, mas, como titular, é outra coisa.

Gazeta Esportiva: Quero te ouvir sobre alguns personagens desse título brasileiro. Na sua visão, qual foi a contribuição do Felipão para a conquista?
Fernando Prass: É difícil falar o que o Felipão fez de diferente para a gente conseguir essa arrancada. Ele não perdeu no Campeonato Brasileiro e todo o mundo falava que o Palmeiras seria mais forte nas Copas, com jogos eliminatórios. No trabalho dentro de campo, cada um tem suas ideias. Mas acho que o principal do Felipão foi conseguir não só falar que todos são importantes, porque, esse discurso, todo treinador tem. Sempre digo que o mais difícil é a prática. Jogador não é burro. O Felipão teve uma atitude e uma prática muito fortes. Todo o mundo entendeu logo cedo que, com ele, jogaria quem estivesse melhor e quem fizesse o que ele pedisse. Foi na prática e não só com discurso que ele conseguiu passar essa mensagem e o grupo assimilou.

Gazeta Esportiva: Sobre o Deyverson: ele teve papel fundamental na campanha e marcou gols importantes, incluindo nos jogos contra São Paulo, Corinthians e Vasco, mas pecou pelo comportamento. Com sua experiência, você chegou a tentar orientá-lo?
Fernando Prass: Pergunta para o Deyverson (risos). Acho que enchi muito o saco. Conversei bastante com ele. No futebol, você precisa ter equilíbrio. Agora, ele está em um momento maravilhoso, iluminado. Mas viveu uma fase ben ruim. Às vezes, precisa tapar o ouvido para o que vem da arquibancada e da imprensa. Vou dar um exemplo: ele e o Bruno Henrique estavam no ano passado em uma lista de dispensa elaborada pela torcida. Na minha opinião, são dois dos melhores jogadores do time hoje. Não pode se deixar levar pelos elogios e, nos momentos ruins, também não se abater. O Deyverson, com o tempo, vai achar esse equilíbrio.

Gazeta Esportiva: Sobre o seu ex-rival Lucas Lima: depois de tudo que viveram entre Palmeiras e Santos, você achou esquisito celebrar um título com ele?
Fernando Prass: A gente passou muita confusão com o Lucas, com provocação dentro de campo mesmo. Aí, estávamos no trio elétrico e chamei ele para tirar uma foto. Falei: “Quem diria que estaríamos comemorando um título brasileiro juntos?”. É um cara que me surpreendeu muito positivamente. Eu tinha uma imagem diferente do Lucas Lima, de um cara descompromissado, meio preguiçoso, nhaca, fanfarrão. É totalmente diferente. Um cara super profissional, que se dedica bastante, trabalha dentro e fora do clube. Foi uma baita surpresa positiva.

Gazeta Esportiva: Você acompanhou toda a evolução vivida pelo Dudu desde a chegada dele ao Palmeiras, em 2015. Como vê o papel dele no título brasileiro?
Fernando Prass: O Dudu evoluiu bastante desde que chegou ao Palmeiras. Quando veio, não tinha o tamanho que tem hoje. Em termos de importância para o futebol. Ele não cresceu nem vai crescer muito (risos). Com os títulos e atuações que teve, mudou de patamar. Hoje, é um jogador top no Brasil, com nível de Seleção. Pela idade que tem e pelo amadurecimento, é natural que cresça ainda mais como jogador. Na minha humilde opinião, tem condições de estar no grupo da Seleção. Jogar ou não, depende do desempenho, mas tem condições, sim.

Gazeta Esportiva: Dos sete jogos que você disputou nesse ano, o mais bacana foi contra o Junior Barranquilla. Pegou pênalti e teve o nome gritado pela torcida. Eu trabalhei naquele jogo e lembro que você ficou emocionado no final da entrevista coletiva.
Fernando Prass: Quando você está fora, cada partida que disputa pode ser a última. Não sabe se vai ter outra chance. Nesse jogo contra o Junior, meu discurso para o pessoal foi esse: “Não sei vocês, mas eu vou fazer disso uma final, porque não sei quando vou jogar de novo”. Você fica ansioso, apesar da idade, e quer mostrar tudo no jogo. A partida foi meio mágica. Estava há muito tempo sem atuar, sem saber quando jogaria de novo e mentalizando várias coisas. Mas, se tivesse escrito um roteiro, não teria dado tão certo. Fiz boas defesas, dei um passe que terminou em gol e peguei um pênalti. Foi maravilhoso e jogos assim me deixam vivo de novo. Você joga bem, a torcida grita seu nome e isso, para quem está de fora, dá uma energia boa.

Gazeta Esportiva: Você teve passagens marcantes por Coritiba e Vasco, mas acho que, após encerrar a carreira, será mais lembrado como o “Fernando Prass, do Palmeiras”. Concorda?
Fernando Prass: Acho que sim, até pelo tempo que estou aqui e também por ser a mais recente. Por tudo que vivi no Palmeiras, pelos dois títulos brasileiros, pela Copa do Brasil do jeito que foi. Na verdade, no domingo, ganhei dois títulos em São Januário. O título de campeão brasileiro e o reconhecimento que tive da torcida do Vasco. Às vezes, a gente cai no discurso de frases prontas, mas para mim foi surpreendente, principalmente pelo momento de tensão do Vasco. Confesso que fiquei emocionado com o tamanho da manifestação da torcida, aplaudindo e gritando meu nome. É um dia que vai ficar duplamente marcado na minha vida.

Gazeta Esportiva: Você tem contrato com o Palmeiras até o fim do ano e vive clima de indefinição. Mas, independentemente do desfecho, o que significa o Palmeiras na sua vida pessoal e profissional?
Fernando Prass: A nossa vida é diferente, porque o lado pessoal e profissional se confundem bastante. Aqui no Palmeiras, vivi as maiores emoções no futebol até agora. Na semifinal da Copa do Brasil de 2015, peguei o pênalti do Scarpa no dia do aniversário dos meus filhos e estava com uma camisa por baixo para homenageá-los. Isso é difícil para o goleiro, porque a gente não faz gols, não pode colocar a bola na barriga. Sou bem amigo do Alecsandro e ele sempre fazia gols para os filhos, mas eu nunca tinha conseguido. Na final, eles estavam dentro de campo comigo. O Palmeiras e a minha vida pessoal se fundem muito. Até agora, as maiores emoções que tive profissionalmente foram aqui.