Da água para o vinho - Gazeta Esportiva - Muito além dos 90 minutos
Marcelo Baseggio
São Paulo
10/06/2023 08:00:15
 

Aos 23 anos Rodrigo Nestor eternizou seu nome na história do São Paulo ao marcar o gol do título inédito da Copa do Brasil. O meio-campista revelado em Cotia teve duas atuações memoráveis contra o Flamengo, dando assistência para o gol de Calleri, na vitória por 1 a 0 sobre o Flamengo, em pleno Maracanã, e balançando as redes no empate em 1 a 1 no Morumbi. Dois domingos que certamente não sairão da cabeça do jovem que, agora, vem lidando com uma grande idolatria.

Só que nem sempre foi assim. Durante um bom tempo Rodrigo Nestor foi quem pagou o pato pelo fato de as coisas nem sempre saírem como planejado no São Paulo. Atuações aquém das expectativas não eram perdoadas pela torcida, que o criticou fortemente em diversos tropeços do time, mesmo com muitos treinadores que passaram pelo Morumbi nos últimos anos sempre tecerem elogios ao atleta.

“Já tive antes do título momentos muito bons no São Paulo, a grande maioria foi momentos bons. Vida de jogador de futebol é assim, essa roda gigante. Agora estou por cima, procurando aproveitar ao máximo, mas sem deixar me iludir, porque já passei por momentos difíceis, sei como é ruim. O que estou procurando fazer é trabalhar mais ainda para continuar vivendo momentos assim. Estou apenas no começo da minha carreira, tem muita coisa para viver ainda, e espero que a maioria desses momentos seja momentos bons”, comentou Rodrigo Nestor em entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva.

Após a classificação do São Paulo para as quartas de final da Copa Sul-Americana, Rodrigo Nestor aproveitou para expor uma ameaça que sua mãe recebeu nas redes sociais. Um suposto torcedor mandou uma mensagem dizendo que a vida dela corria perigo, caso seu filho não deixasse o clube.

Esse foi apenas um exemplo do que Rodrigo Nestor teve de passar antes de alcançar a redenção. No São Paulo desde 2013, o meio-campista foi formado como atleta e cidadão em Cotia, e agora começa a curtir o lado bom de vestir a camisa de um gigante do futebol brasileiro após a atuação decisiva na Copa do Brasil, que lhe rendeu, inclusive, o título pessoal de craque da competição.

“Cara, ainda não caiu totalmente a ficha. Aos poucos vai caindo. Acho que foi algo muito grande o que a gente realizou, um título gigante, que o clube não tinha. Vindo de Cotia, com um gol na final, no dia do aniversário do meu pai, foi um sonho realizado. Tenho vivido intensamente esse momento, tem sido bom demais para mim. Estou procurando aproveitar ao máximo e espero ter mais dias assim daqui para frente”, prosseguiu.

Campeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior quando ainda estava no sub-20, Rodrigo Nestor foi promovido ao profissional como uma das grandes promessas do clube. Talvez por isso a torcida tenha criado expectativas tão altas e tenha exigido tanto do meio-campista, que, já no time de cima, também participou da campanha que resultou no título paulista de 2021, ajudando a acabar com a fila de mais de oito anos do Tricolor.

Agora, Rodrigo Nestor se prepara para disputar a Copa Libertadores em 2024, torneio com o qual o São Paulo tem uma grande identificação. Faz parte do DNA do clube. O Morumbi voltará a ser palco das místicas noites de quarta-feira.

Nestor já disputou duas edições de Libertadores, uma em 2020, com os estádios vazios por causa da pandemia, e outra no ano seguinte, amargando a eliminação nas quartas de final para o Palmeiras. Na próxima temporada ele terá como grande aliado o Morumbi lotado, algo que se tornou comum em 2023, com a torcida “comprando a briga” do time sob o comando de Dorival Júnior.

“Estou ansioso para ter a oportunidade de jogar logo esse campeonato. Joguei já pelo São Paulo, mas foi sem torcida. Acho que o que a nossa torcida vem fazendo em todos os campeonatos é uma loucura, e tenho certeza que na Libertadores não vai ser diferente. Estou ansioso para começar logo, me preparar bastante para ano que vem almejar coisas maiores ainda”, disse Nestor.

Além da Copa Libertadores, o São Paulo também terá pela frente em 2024 a disputa da Supercopa do Brasil, um título que o clube ainda não tem e pelo qual vai rivalizar com o futuro campeão do Campeonato Brasileiro. Por essas e outras a próxima temporada tem tudo para ser uma das mais desafiadoras da carreira de Rodrigo Nestor.

“O ano mais desafiador da minha carreira foi esse que passou agora. As coisas que vivi foram muito intensas. Fui muito criticado, xingado, amado. Ano que vem é viver as coisas que a gente conquistou, procurar dar nosso máximo para sair campeão nos campeonatos, chegar o mais longe possível. Mas, esse título, além de ser o único que o São Paulo não tinha, trouxe para o São Paulo uma melhora financeira, o São Paulo pode se planejar melhor, segurar alguns jogadores, vender outros. Vamos nos preparar melhor ainda para conquistar títulos que o São Paulo não tem, como a Supercopa, e outros que o São Paulo já tem, como a Libertadores”, garantiu.

Pelas duas atuações magistrais contra o Flamengo e o protagonismo de um título até então inédito na história do São Paulo, muitos são-paulinos já consideram Rodrigo Nestor ídolo do clube. Nesta semana, durante um encontro de torcedores com o jogador no Morumbi, houve até quem pediu para que ele autografasse seu braço para tatuar a assinatura. O meio-campista revelado em Cotia, por sua vez, prefere deixar essa ovação para a torcida e seguir com os pés no chão, embora mire voos mais altos.

“Sou o mesmo Nestor que foi criticado, Nestor que amadureceu, que chegou com 13 anos em Cotia e se tornou um homem lá dentro, que consegue sustentar sua família, formar sua própria família. Ídolo eu deixo para o torcedor, ainda não me considero. Estou trabalhando para ser, não que isso seja minha prioridade. Mas, sou o mesmo Nestor que chegou em Cotia com 13 anos, em um dia cinza, que dividiu um quarto com um menino que não conhecia, que foi para uma escola onde não conhecia ninguém e lá se transformou em um homem, que consegue sustentar sua família e dar orgulho para ela”, concluiu.