Inovações - Gazeta Esportiva

05/16/2006 09:00:03
 

O jornal A Gazeta surgiu com o espírito republicano. Quando criado, o vespertino seguiu os moldes dos jornais do século XIX: poucas imagens e fotos e muito texto. Como era de costume na época, dedicava-se, entre outras coisas, a defender um posicionamento político e a tratar de economia, literatura e um pouco de cultura.

Ao assumir o comando de A Gazeta, Cásper Líbero promoveu um programa de modernização no veículo, a fim de transformá-lo no jornal mais moderno da América Latina. Esta iniciativa ocorreu em três etapas, que garantiram sua notoriedade, até a morte surpreendente de Cásper Líbero.

Primeira Fase

Entre 1918 e 1928, desenvolveu-se a primeira fase de modernização do jornal, na qual se iniciou um processo de reorganização e reestruturação do vespertino, que incluiu a aquisição de maquinário e a busca de instalações mais adequadas para a redação. No entanto, este período foi marcado por crises financeiras, já que o jornal se encontrava endividado e com baixas vendas.

O jornalista realizou modificações editoriais, valorizando temáticas locais, regionais, culturais, esportivas e sociais, até então pouco divulgadas. Cásper traz, portanto, assuntos que já eram abordados pela mídia européia e norte-americana, desde o século XIX, para a imprensa brasileira. Através de matérias sobre a urbanização da cidade e suas conseqüências, criou-se um vínculo entre a comunidade e o jornal.

A Gazeta começou a publicar uma página, em cada edição, destinada à cobertura esportiva no Brasil e no mundo. O interesse dos leitores pelo assunto incentivou Cásper a publicar o suplemento A Gazeta Esportiva, que futuramente – em decorrência de seu sucesso – se desvincularia do vespertino e se tornaria um jornal independente.

Apaixonado pelo esporte, o jornalista fez de A Gazeta, uma difusora desta prática. Para chamar a atenção dos leitores, concebeu diversas provas esportivas, como a São Silvestre, Prova Ciclística Nove de Julho, Campeonato Nacional de Futebol Varzeano e Travessia a Nado de São Paulo, sendo que algumas delas ainda são disputadas nos dias atuais. Além de tais eventos, Cásper patrocinou o concurso de Beleza Senhorita São Paulo, que é antecessor ao concurso de Miss Brasil.

Para incentivar a leitura do jornal por todos os membros da família, Cásper criou a Página Feminina e A Gazeta Infantil.

Na publicação destinada às mulheres, o vespertino procurou unir temáticas sobre corte, costura, culinária e crianças com assuntos dedicados às mulheres modernas, que trabalhavam e praticavam esportes. A Página Feminina é a primeira seção de interesse feminino, publicada por um dos grandes jornais da época.

O suplemento A Gazeta Infantil, que mais tarde ficou conhecido como Gazetinha, apresentava charges e histórias em quadrinhos, além de matérias destinadas ao público infanto-juvenil, o que era inexistente na imprensa brasileira da época. Anos depois, criou-se o suplemento A Gazeta Juvenil, com o objetivo de publicar textos para os adolescentes já habituados à leitura.

Segunda Fase

Com as finanças equilibradas, A Gazeta ingressou em uma nova fase, na qual Cásper Líbero priorizou as reformas nas instalações do jornal e o investimento em equipamentos novos e modernos. A segunda etapa de modernização instaurada pelo dono do jornal aconteceu até o início da década de 40.

Para ampliar a modernização de A Gazeta, o escritório técnico Ramos de Azevedo construiu, sob a orientação de Cásper, o primeiro edifício específico para abrigar um jornal no Brasil. Localizado na rua da Conceição, atualmente rua Cásper Líbero, o prédio com oito andares contava com arquivo, biblioteca, gabinetes individuais para os redatores, oficinas de impressão, auditório com capacidade para 300 pessoas e apartamentos para hóspedes de honra. Cásper Líbero aproveitou a estrutura moderna para promover cursos, palestras e exibição de filmes, a fim de integrar a sociedade ao veículo.

Terceira Fase

A terceira e última fase de modernização implantada por Cásper Líbero em A Gazeta, que vai de 1940 a 1943, procurou difundir atividades cívicas à população. Em palestras e debates realizados, celebridades internacionais, intelectuais e empresários se apresentavam no auditório do jornal, que se tornou um grande centro cultural e político do país. Para apresentar o debate político-cultural desenvolvido, Cásper criou o suplemento A Gazeta Magazine, em 1941.

Mas, a grande inovação trazida por A Gazeta e adotada pelos demais jornais da época, foi a organização das informações e matérias em editorias e cadernos. Até hoje, muitas das modernizações implantadas pelo vespertino paulistano são fonte e inspiração para a produção do bom jornalismo.

O crescimento e a modernização do jornal estagnaram com a morte de Cásper, em 1943. A Gazeta ainda se manteve como pioneira no jornalismo até a década de 50, quando os demais veículos promoveram mudanças.



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