Aquele abraço - Gazeta Esportiva
Bruno Ceccon
São Paulo, SP
08/09/2018 08:00:58
 

Rival do Cerro Porteño na noite desta quinta-feira, Luiz Felipe Scolari deu muitos abraços na noite de 16 de junho de 1999, data em que o Palmeiras conquistou a sonhada Copa Libertadores. Um dos primeiros a celebrar o título com o técnico no gramado do Palestra Itália, Leonardo Brancaccio, há 25 anos no clube como gandula e maqueiro, sonha com a possibilidade de repetir o gesto em 2018, no moderno Allianz Parque.

Após uma dramática vitória por 2 a 1 sobre o Deportivo Cali, a Libertadores de 1999 acabou decidida nos pênaltis. A exemplo dos jogadores, os gandulas e maqueiros, posicionados na linha de fundo do lado oposto às cobranças, fizeram uma corrente. Assim que Zapata errou o quinto tiro, diferentemente dos outros palmeirenses que estavam no banco, Felipão foi o único que correu para o lado direito.

“Como estávamos ajoelhados, quando o Zapata chutou, não tínhamos ângulo para ver. Só soubemos que errou no momento em que enxergamos a bola batendo na placa. Aí, começou a festa. Em vez de correr para os jogadores, o Felipão saiu na nossa direção”, lembrou Leonardo Brancaccio, então maqueiro e segundo a abraçar o técnico. “Ele veio comemorar com a gente e foi algo realmente muito marcante”, completou.

Chamado pelo primo para substituir um gandula que faltou em 1993, Leonardo começou por acaso e testemunhou os últimos 25 anos da história da Sociedade Esportiva Palmeiras da beirada do gramado do Estádio Palestra Itália, local em que concedeu entrevista à Gazeta Esportiva. Assim, acompanhou as duas passagens de Felipão pelo clube.

“Os jogadores e técnicos, sempre que voltam ao Palmeiras, acabam nos reconhecendo. Com o Felipão, não foi diferente. Em 2010, quando retornou ao clube, ele brincou: ‘Pô, você ainda está aqui? Está ficando velho, de cabelo branco!’. O professor Luiz Felipe Scolari e toda a comissão técnica sempre foram muito agradáveis conosco”, descreveu Leonardo.

De perto, o gandula e maqueiro viu Felipão ganhar em sua primeira passagem a Copa Mercosul 1998, a Copa do Brasil 1998, a Copa Libertadores 1999 e o Torneio Rio-São Paulo 2000. Na volta ao clube, o técnico conquistou a Copa do Brasil 2012, mas comandou o time em 24 rodadas da campanha que terminaria com o rebaixamento à Série B do Campeonato Brasileiro, o que arranhou seu prestígio com parte da torcida.

“Pelas conquistas que alcançou desde 1997, é impossível não associar o professor Luiz Felipe Scolari à história do Palmeiras. É lógico que, em uma carreira, você não tem apenas êxitos. Há alguns percalços também. Mas, se colocar na balança, acho que o Felipão teve muito mais sucesso aqui dentro do que fracassos. Em todos os clubes por que passou, foi campeão”, advogou Leonardo.

Desde a última passagem pelo Palmeiras, Luiz Felipe Scolari comandou a Seleção Brasileira, o Grêmio e o chinês Guangzhou Evergrande. Já Leonardo Brancaccio, leal, permaneceu a serviço do clube de coração. Animado, o gandula fala com confiança sobre as chances de título em 2018, principalmente nos torneios eliminatórios, especialidade do treinador.

“Fiquei feliz com a volta do Felipão e espero que consiga muito sucesso. Tomara que leve o Palmeiras de novo ao topo da América e do mundo. Como ele tem muita força nos torneios mata-mata, acredito bastante tanto na Copa do Brasil quanto na Libertadores. Vejo o time com grande chance de conseguir bons resultados e ganhar a Libertadores”, afirmou.

Leonardo Brancaccio começou de gandula, passou a atuar como maqueiro após se desentender com o goleiro Zetti, então no Santos, e retomou o posto de gandula a partir da inauguração do Allianz Parque. Aos 55 anos, é gerente de vendas de uma gigante do ramo de entretenimento, mas não abre mão de seguir na beira do gramado, de maneira voluntária.

“Não fumo nem bebo, mas esse é meu vício. É quando posso esquecer um pouco dos problemas do dia a dia, uma válvula de escape. Tenho um filho de 10 anos e já pensei em parar para acompanhá-lo na arquibancada, mas, até por incentivo da família, continuo. Nada mais gostoso do que estar ao lado do seu time de coração. É algo que pretendo fazer até quando a saúde permitir, com o maior prazer, orgulho e honra”, disse.

Em caso de bicampeonato continental, 19 anos depois, ele já está pronto para repetir aquele abraço em Felipão. “Pô, Nossa Senhora! Abraço, carrego, dou uma volta olímpica! Com o maior prazer! Não sei se aguentaria, mas a equipe de gandulas me ajudaria, com certeza. Se acontecer, vai ser o maior prazer. E vai acontecer, se Deus quiser”, sonhou.