Amigo de Jô, rival de Kazim e vencedor na Austrália - Gazeta Esportiva
Lucas Sarti
São Paulo, SP
11/28/2017 08:30:09
 

Bobô deixou o Corinthians aos 20 anos, poucos meses após a conquista do Campeonato Brasileiro de 2005, marcado marcado por polêmicas com a arbitragem e que contava com jogadores “galácticos” no time do Parque São Jorge. Desde que pisou pela última vez em um gramado com a camisa corintiana, o atacante se tornou ídolo na Turquia e salvador da pátria na Austrália.

Em cinco temporadas com a camisa do Besiktas, Bobô tornou-se o maior artilheiro estrangeiro da história do clube, com 98 tentos anotados. Feito alcançado em 2011 e que perdura desde então. “Até hoje os torcedores do Besiktas me mandam mensagem no Instagram. A torcida não esqueceu os momentos que vivi lá. Acabei saindo do clube por uma confusão entre meu empresário na época e o presidente do clube. Foi uma passagem muito marcante”, revelou o jogador em entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva.

E a fama de artilheiro o perseguiu também na Oceania. Em agosto de 2016, o jogador assinou contrato com o até então desconhecido Sydney. Se aventurar em um cenário pouco desbravado por jogadores brasileiros vem rendendo bons frutos ao experiente atleta. Na última semana, Bobô foi responsável por marcar, de cabeça, o segundo gol do Sydney na vitória por 2 a 1 sobre o Adelaide United, que rendeu ao time o inédito título da Copa da Austrália (FFA Cup).

“Ganhamos o último Campeonato Australiano (A League) e agora a Copa. Queremos ganhar o Campeonato de novo. Fiz 15 gols na última temporada e espero ultrapassar essa marca. Encontrei um clube bom, bem estruturado, um campeonato de bom nível. Lógico que não o mesmo do Brasileirão, mas aqui eles correm muito mais, por exemplo”, comentou o ofensivo.

Nesta temporada, o atacante conquistou a Copa da Austrália, fazendo o gol da vitória (Foto: Divulgação/Sydney FC)

A experiência de Bobô pode ser percebida também nas palavras do jogador. De fala lenta, o atacante levanta o “assunto Corinthians” sem antes ser indagado, deixando transparecer seu carinho pelo clube que o revelou. Cria do Terrão, Bobô atuou ao lado de Jô, que superou as críticas e hoje voltou a brilhar no Timão.

“A gente era bem novo na época. O pai dele sempre acompanhava os nossos jogos. Como ele morava em São Paulo e eu ficava no alojamento, eles (Jô e pai) sempre estavam no clube no fim de semana, curtindo a piscina, e a gente pegou uma boa amizade”, disse Bobô. Antes de completar: “espero que ele seja o artilheiro (do Brasileirão). Fecharia o ano de forma perfeita”. Jô tem 18 gols na atual temporada do Brasileirão, mesmo número de Henrique Dourado, do Fluminense, a uma rodada do fim do torneio.

Substituto de Jô no Corinthians, Kazim, o “Gringo da Fiel”, é outro velho conhecido de Bobô. Inglês naturalizado turco, o atacante começou a atuar no Fenerbahçe em 2007, e enfrentou o brasileiro em campo inúmeras vezes. Bobô comentou que Kazim tinha mais sucesso na Turquia do que tem no Brasil, pelo menos em termos técnicos.

“Na Turquia ele foi melhor, fez mais gols, não sei o que aconteceu. Talvez ele tivesse mais tranquilidade para jogar lá. Não é fácil jogar no Brasil. O meu recado para ele é: ‘faça gols’. Se ele tiver oportunidade de entrar vai correr, se esforçar, sempre foi sua característica, mas não tem outra saída. Com atacante é assim”, lembrou Bobô, que também chegou a ser criticado pela exigente torcida corintiana durante sua passagem pelo clube paulista. Assim como Kazim, Bobô foi campeão do Brasileirão. Em 2005, o atacante marcou cinco gols na competição.

Confira na integra a entrevista exclusiva de Bobô para a Gazeta Esportiva:

Gazeta Esportiva: Sua equipe é a atual campeã do Australiano e líder da temporada 2017/18, com 19 pontos em oito jogos. Quais os objetivos do time neste ano?

Bobô: O objetivo do time é ganhar o campeonato de novo. Ano passado ganhamos e queremos repetir. Fiz 15 gols no campeonato ano passado e espero ultrapassar essa meta. Tenho cinco gols nos últimos sete jogos, e espero ultrapassar aquela marca.

Gazeta Esportiva: Caso você tivesse ofertas equivalentes de times brasileiros e australianos, optaria por qual campeonato?

Bobô: Ficaria na Austrália. O país oferece muito mais segurança. Não falando de futebol, mas do nível social. Você tem a tranquilidade de mandar seu filho para a escola sozinho, tem tranquilidade de sair na rua e saber que não vai ser assaltado.

Gazeta Esportiva: Você foi criado no Corinthians, atuando na equipe até o final de 2005, e jogou no Grêmio em 2016. O Timão foi campeão do Nacional em 2017, e o Tricolor é finalista da Copa Libertadores. Tem acompanhado o futebol dos dois times?

Bobô: Acompanhei o ano dos dois. Fiquei muito feliz pelo Corinthians, que é o clube que me projetou. Ainda conheço um pessoal que está lá. Tem o Jô, que vem muito bem no campeonato. Crescemos juntos na base do Corinthians, e tenho nele um amigo. A gente viu toda a mudança de estrutura do clube, antes de fazer o CT perto do Aeroporto, antes do estádio. A gente ficava no alojamento que era lá em Itaquera. Fico feliz pelo clube, por tudo que fez na parte estrutural, e pelo Jô, que voltou ao clube e foi campeão, e provavelmente vai ser artilheiro do campeonato.

Gazeta Esportiva: Nas categorias de base você chegou a ser o centroavante da equipe, enquanto o Jô atuava pelo lado esquerdo do ataque. Como foi essa época?

Bobô: Ele jogava mais pela esquerda e eu centralizado. Ele fez bastante gol na Copa São Paulo de Futebol Júnior, sempre foi artilheiro. Tinha uma competição, mas a gente sempre fazia gol. Eu, ele ou o Abuda.

Gazeta Esportiva: O Grêmio venceu o Lanús por 1 a 0 no primeiro jogo da final da Libertadores. Nesta quarta-feira acontece o segundo jogo, na Argentina. Está torcendo para o Grêmio?

Bobô: Fiquei pouco mais de um ano no Grêmio e tenho um carinho grande. Tem um pessoal muito gente boa. A maioria ainda está lá. Sempre falo com eles. Estou na torcida, assisti o primeiro jogo. Espero que o time consiga vencer esse campeonato, que faz tempo que não vence.

Gazeta Esportiva: Quando você ainda estava na Turquia, antes de fechar com o Grêmio, visitou o CT novo do Corinthians ao lado do então dirigente Andrés Sanchez. Qual sua relação com ele?

Bobô: Acabei encontrando o andrés lá no Tatuapé, onde eu morava. Ele falou para a gente ir até o CT. Comentou sobre a época em que eu jogava lá, quando a gente se trocava dentro de containers. Ele me convidou e vi que a estrutura é de outro nível. Faz um tempinho que não falo com ele, mas sempre tive uma boa relação. Ele era diretor da base e criamos uma relação.

Gazeta Esportiva: Houve alguma proposta do Andrés Sanchez, ou de outro dirigente, para você voltar ao time?

Bobô: Na época não teve, cara. Eu tinha mais três anos de contrato na Turquia, e falei para ele que era difícil sair. Foi mais um papo de amizade mesmo, relembrar os tempos marcantes na base.

Gazeta Esportiva: Hoje, com 32 anos, você olha para a carreira de jogador profissional que construiu e faz qual avaliação?

Bobô: Uma carreira boa, mas poderia ter jogado mais no Corinthians. Tinha acabado de voltar do Mundial sub-20 e dois meses depois já fui embora. Podia ter esperado mais. Saí em janeiro de 2006, não cheguei a jogar o Paulista daquele ano. Podia ter esperado um pouco mais, até pelo crescimento do clube. Mas também poderia ter ficado marcado por 2007 (ano do rebaixamento à Série B).

Gazeta Esportiva: Qual foi a sensação de conquistar o título Brasileiro de 2005? Ainda conversa com algum jogador daquele elenco?

Bobô: Tenho contato com o Betão, com alguns jogadores da época, principalmente o pessoal que era mais novo. Foi uma campanha muito boa, fiz cinco gols. Ser campeão sobre o Goiás, no Serra Dourada, foi sensacional. Estava subindo da base e, querendo ou não, fui campeão Brasileiro pelo Corinthians.

Gazeta Esportiva: Com contrato até maio do próximo ano, o que pode projetar para o futuro?

Bobô: Um jogador quando atinge uma certa idade tem que começar a pensar em outras coisas. Minha meta é pensar ano após ano. Se você me perguntar até quando quero jogar, não sei te falar. Acho que até quando eu estiver bem, me sentindo bem e em condições. Não adianta ficar se arrastando em campo. Não quero ficar passando vergonha. Vou até quando o corpo tiver bem, e vendo o que aparece na frente.