Na Era Moderna das Copas, só Jesus não fez gol pelo Brasil na 1ª fase - Gazeta Esportiva
Na Era Moderna das Copas, só Jesus não fez gol pelo Brasil na 1ª fase

Na Era Moderna das Copas, só Jesus não fez gol pelo Brasil na 1ª fase

Gazeta Esportiva

Por Tiago Salazar

28/06/2018 às 07:00

São Paulo, SP

Em 1986, no México, a Fifa estreou o formato de Copa do Mundo que conhecemos: com cinco fases até a final. Nessa Era Moderna dos Mundiais, nunca um centroavante da Seleção Brasileira havia passado em branco na primeira fase, que é representada pelos três jogos iniciais antecedentes aos confrontos eliminatórios.

A quebra da marca coube a Gabriel Jesus. Atual dono da tradicional camisa 9 canarinho, o pupilo de Pep Guardiola no Manchester City não conseguiu balançar as redes nos desafios frente a Suíça, Costa Rica e Sérvia, apesar da titularidade e da classificação brasileira na liderança do grupo E depois de duas vitórias e um empate, com cinco gols marcados.

Gabriel Jesus é o artilheiro da Era Tite na Seleção com 10 gols, ao lado de Neymar, mas segue zerado na Copa (Foto: Kirill Kudryavtsev/AFP)


Fred, referência da Seleção na Copa de 2014, sofreu muito com as críticas pelas suas atuações, mas chegou a anotar um gol na primeira fase do Mundial disputado em casa. O terceiro gol brasileiro na goleada por 4 a 1 sobre Camarões, já no último compromisso antes das oitavas de final, teve a assinatura do então camisa 9 do Brasil.

Em 2010, na África do Sul, Luis Fabiano, homem-gol de Dunga, foi às redes duas vezes contra Costa do Marfim, pela segunda rodada da primeira fase. Na ocasião, o Brasil venceu os africanos por 3 a 1.

Quatro anos antes, o Brasil tinha dois centroavantes lado a lado: Ronaldo e Adriano. O Fenômeno era detentor da mítica camisa 9, enquanto o Imperador ostentava o número 7 em suas costas. Independente disso, ambos não passaram em branco na primeira fase da Copa da Alemanha.

Adriano foi o primeiro a marcar. O gol saiu diante Austrália, na segunda rodada, em partida vencida pela Seleção por 2 a 0 graças ao também centroavante Fred, que na época era reserva e nem por isso desperdiçou a oportunidade que teve.

Ronaldo foi às redes só no terceiro desafio. Em compensação, fez logo dois gols na goleada por 4 a 1 em cima do Japão.



Na Copa de 2002, Felipão fez Romário chorar e apostou tudo em Ronaldo. Depois de passar dois anos lutando contra suas lesões, o Fenômeno não decepcionou. Foram quatro gols nos três jogos da fase de grupos. Um na vitória por 2 a 1 em cima da Turquia, outro na goleada por 4 a 0 sobre a China e mais dois contra a Costa Rica, no passeio brasileiro por 5 a 2.

Referência de toda uma geração, Ronaldo também brilhou em 1998, na França. Apesar disso, o ex-jogador do Corinthians teve uma primeira fase tímida, marcando apenas um gol no trinfo por 3 a 0 da Seleção Brasileira sobre Marrocos.

Em 1994, quando Ronaldo era só um garoto e assistia tudo do banco de reservas, Romário decidia com a camisa 11 nos Estados Unidos. O Baixinho não perdoou nenhum adversário na primeira fase. Deixou sua marca nos 2 a 0 em cima da Rússia, nos 3 a 0 sobre Camarões e no empate por 1 a 1 com a Suécia.




O antecessor de Romário foi Careca, ídolo são-paulino e eterno companheiro de Maradona no Napoli. Na Copa da Itália, o centroavante brasileiro começou o Mundial de forma arrebatadora, marcando os dois gols da vitória por 2 a 1 em cima da Suécia.

Antes, em 1986, ano em que a fase de oitavas de final foi instituída e marcou o início da Era Moderna das Copas, Careca também mostrou seu faro de artilheiro antes dos jogos eliminatórios. Foi do centroavante o gol da vitória do Brasil por 1 a 0 sobre a Argélia. Depois vieram mais dois gols de Careca nos 3 a 0 em cima da Irlanda do Norte.

Só Jesus, Vavá e Alcindo
A falta de eficiência de Gabriel Jesus na Copa da Rússia definitivamente não é algo comum na Seleção Brasileira. A história aponta que desde 1950, quando os primeiros jogos dos Mundiais passaram a ser disputados em grupos de quatro equipes, apenas em duas situações o Brasil não contou com pelo menos um gol de seu centroavante.

A primeira delas aconteceu em 1962. Vavá foi fundamental nos jogos eliminatórios, marcou gols nas quartas, nas semis e na grande final – não existia oitavas de final. Porém, passou pela fase de grupos zerado no ano que o Brasil conquistou seu bicampeonato.

Quatro anos depois, o Brasil sequer avançou à segunda fase. Pelé, Garrincha, Tostão e Rildo chegaram a marcar gols, mas a Seleção se despediu sem um tento anotado por um centroavante de fato. Alcindo, ex-Grêmio, costumava atuar na referência e não foi às redes nenhuma vez.



E em 1970? A Copa do Tri tem uma peculiaridade. No México, nenhum centroavante da Seleção Brasileira marcou gol. Entretanto, há uma explicação especial para isso. Com tantos craques à disposição, Zagallo, técnico à época, resolveu abdicar de uma referência na frente para montar um esquadrão com cinco ‘camisas 10’. Eram eles: Rivellino, Gerson, Jairzinho, Tostão e Pelé.

Na hora de separar as camisas, Tostão foi quem ficou com a 9. O ídolo cruzeirense só foi anotar seu primeiro gol, aliás em dose dupla, na segunda fase, mas nunca chegou a ser visto como centroavante, tanto que em 1966, quando foi às redes mais cedo, Tostão era o reserva imediato de Pelé.

Um cenário semelhante se viu na Copa do Mundo de 1974, quando o Brasil teve três formações diferentes nos três jogos da fase de grupos. Valdomiro, Mirandinha e Edu se revezaram na referência do ataque, apesar de terem características diferentes. No fim, Valdomiro foi quem marcou o gol salvador que classificou a Seleção, mas, assim como não dá para lhe colocar a alcunha de centroavante, Mirandinha e Edu, homens mais de área, tampouco podem ser condenados pela seca de gols na primeira fase, pois sequer tiveram sequência em campo.

Exceções à parte, a Seleção Brasileira se acostumou a contar com os gols de seus centroavantes mesmo antes da mudança no formato de disputa, em 1986. Baltazar em 1950 e 1954, Vavá em 1958, Reinaldo em 1978 e Serginho Chulapa em 1982, não deixaram o Brasil na mão na primeira fase das respectivas Copas do Mundo.




A Copa de Jesus
Na estreia brasileira na Copa da Rússia, Gabriel Jesus não conseguiu concluir nenhuma jogada em gol. No segundo tempo, quando recebeu bola enfiada por Renato Augusto, o ex-palmeirense acabou no chão, suplicando por um pênalti ignorado pela arbitragem. Em seguida, foi substituído por Firmino.

Diante da Costa Rica, Jesus voltou a apresentar dificuldade para vencer a batalha com os zagueiros adversários e terminou o jogo com uma única conclusão em gol. Depois de cruzamento da direita, o camisa 9 cabeceou a bola no travessão de Navas.

Veja por onde G.Jesus se movimentou contra a Sérvia (Footstats)


Em meio ao desespero em busca da vitória contra os costarriquenhos, Tite voltou a apostar em Firmino, mas resolveu não sacar o titular da posição. Na jogada que culminou com o gol de Philippe Coutinho, o centroavante do Liverpool ganhou de dois marcadores pelo alto para servir Jesus no miolo da área. Gabriel Jesus, no entanto, errou o domínio e foi salvo por Coutinho, que chegou de trás, fuzilando.

No terceiro e último compromisso válido pela primeira fase, Gabriel Jesus teve sua melhor chance de acabar com o jejum: saiu cara a cara, de frente para o gol da Sérvia. Mas, ao optar por fintar a marcação, perdeu o posicionamento ideal e deu tempo para o bloqueio da zaga chegar. Fora isso, arriscou um chute, que saiu direto pela linha de fundo.



Apesar da má fase no quesito pontaria, Gabriel Jesus carrega o crédito de ter chego à Copa do Mundo como artilheiro da Seleção Brasileira desde que Tite assumiu o comando, em 2016, com 10 gols. Neymar igualou essa marca com o tento marcado em cima da Costa Rica.

Em autodefesa, Gabriel Jesus garante que não está preocupado com a seca de gols porque entende que tem colaborado para a equipe de outras maneiras. O discurso é respaldado pelo técnico Tite e pelo mapa de calor do jogador de 21 anos na partida contra a Sérvia. É possível perceber a movimentação de Jesus por praticamente toda a extensão do gramado, com pouco tempo de estadia dentro da área adversária.

Segunda-feira, às 11h (de Brasília), a Seleção Brasileira encara o México pelas oitavas de final da Copa do Mundo. Possivelmente, Gabriel Jesus será titular novamente. O caráter decisivo exige precisão e eficácia. Nada mais apropriado para um camisa 9 aparecer da forma que todos esperam, com gols.




 

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