Aclimatação? Sintomas nos mais experientes? Saiba o que o Corinthians vai enfrentar na altitude da Bolívia - Gazeta Esportiva
Aclimatação? Sintomas nos mais experientes? Saiba o que o Corinthians vai enfrentar na altitude da Bolívia

Aclimatação? Sintomas nos mais experientes? Saiba o que o Corinthians vai enfrentar na altitude da Bolívia

Gazeta Esportiva

Por Marina Bufon

01/04/2022 às 07:00

São Paulo, SP

Quando o sorteio dos grupos da Libertadores de 2022 foi realizado na última semana, uma das preocupações dos times brasileiros era o de ter de enfrentar a altitude. O Corinthians teve esse "azar" e, logo na sua estreia, na próxima terça-feira, viaja para La Paz, na Bolívia, para enfrentar o Always Ready.

O Hernando Siles fica a 3.637 metros do nível do mar. É o sétimo em um ranking com estádios de futebol do mundo inteiro - o primeiro é o Daniel Alcides Carrión, no Peru, a 4.378 metros de altitude.

Mas o que, de fato, acontece com um corpo de um jogador quando entra em contato com esta diferença em relação ao Brasil (São Paulo fica a 760 metros do nível do mar)? E os jogadores mais experientes, eles apresentam mais sintomas que os mais jovens (o Alvinegro possui uma média de 29,3 anos em seu time titular)? Vale lembrar, o técnico Vítor Pereira afirmou que nunca jogou nessas condições.

A Gazeta Esportiva conversou com dois profissionais: Dr. Noel Oizerovici Foni, médico ortopedista membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e médico do corpo clínico do Hospital Albert Einstein; e Dr. Lucas Dantas Maia Forte, Doutor e Mestre na área de Biodinâmica do movimento humano, com ênfase em Fisiologia do Exercício, além de ser professor adjunto no Centro Universitário UNIFACISA e na Faculdade de Enfermagem Nova Esperança, ambas no Estado da Paraíba.




"A princípio, no repouso ou durante atividades de baixa intensidade, pouco ou quase nenhum efeito deve ser notado pelo indivíduo, pois a saturação de oxigênio no sangue cai muito pouco. No entanto, durante atividades de esforços intensos e repetidos (como um jogo de futebol), o indivíduo sentirá dificuldade de respirar (uma sensação de “falta de ar”). Isso acontece pelo fato de que, na altitude, a pressão de oxigênio do ar cai", explicou Forte.

Segundo Foni, os sintomas mais comuns são a própria dispneia (falta de ar), cansaço, fadiga muscular, náuseas e até mesmo alterações das faculdades mentais. "As alterações e o desempenho no campo são tão significativas que em 2007 a FIFA proibiu partidas em altitudes maiores que 2.500 metros, alegando prejuízo esportivo e deslealdade. No entanto, no ano seguinte, reverteu a decisão", relembrou o ortopedista.

Idade dos jogadores


Alguns atletas do Corinthians, casos de Cássio, Fagner (que ainda é dúvida), Fábio Santos, Renato Augusto, Giuliano, Paulinho, Willian e Júnior Moraes, são mais experientes, acima dos 32 anos. Em relação aos mais jovens, há algum tipo de perda maior?

"Se estivéssemos falando de indivíduos sedentários, essa diferença de idade poderia ter alguma influência, mas no caso dos atletas do Corinthians, a média de idade dos jogadores não é tão alta e a diferença de idade entre eles não deve representar uma dificuldade significativamente maior para os mais ‘experientes’. Adicionalmente, a idade em si pode não ser um fator preponderante, pois é possível que esses atletas possuam maior condicionamento cardiovascular, que é dependente de maior tempo de treinamento, do que alguns atletas mais novos. Tudo depende do condicionamento cardiovascular e muscular de cada um", disse Dr. Lucas Dantas Maia Forte.

Agora, a situação ao contrário, no jogo da volta, com os bolivianos atuando em uma altitude menor, o Corinthians dificilmente teria alguma vantagem, já que eles estão acostumados a "aproveitar" o "pouco" oxigênio disponível em seu país.

"Uma vantagem dos brasileiros seria improvável nessa situação, justamente pelo fato de que, em baixa altitude, a disponibilidade de oxigênio é alta, e o organismo dos bolivianos está adaptado a aproveitar de maneira mais eficiente esse oxigênio. Logo, eles não necessariamente estariam em desvantagem neste quesito".

Viagem em cima da hora ou aclimatação?


Segundo o Dr. Noel Oizerovici Foni, não existe certo ou errado na hora de viajar para jogar em um local onde a altitude é maior. "Muitas equipes têm usado a estratégia de chegar ao destino próximo ao horário do jogo, a chamada ‘fly-in, fly-out’, para sentirem menos os impactos da falta de oxigênio, visto que o desconforto inicia-se com cinco a seis horas na altitude", iniciou.

No entanto, ele chamou atenção para algo "impossível" no calendário do futebol: o tempo, que seria adequado para um momento como esse.

"Estadias prévias de duas a três semanas, para produção de mais glóbulos vermelhos, são impossíveis no calendário de uma equipe de futebol profissional e não são praticadas", finalizou.

De maneira geral, segundo Lucas Dantas Maia Forte, o ideal seria um tempo de pelo menos duas semanas de aclimatação para ambientes acima de 2.300 metros, e uma semana adicional para cada 610 metros adicionais.

Procurado, o Corinthians informou que o processo de viagem ainda está em definição. As equipes se encontram na próxima terça-feira, às 21h30 (de Brasília), na estreia do Timão na Libertadores.

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