China promove região de Xinjiang como paraíso dos esportes de inverno - Gazeta Esportiva
China promove região de Xinjiang como paraíso dos esportes de inverno

China promove região de Xinjiang como paraíso dos esportes de inverno

Gazeta Esportiva

Por AFP

09/02/2022 às 09:37

São Paulo, SP

A vasta região chinesa de Xinjiang ganhou as manchetes como o epicentro de supostos abusos dos direitos humanos, mas a China quer que seja reconhecida como um paraíso dos esportes de inverno.

Como organizadores dos Jogos Olímpicos de Inverno, as autoridades chinesas declararam a intenção de transformar sua incipiente indústria de esportes de inverno em um negócio de US$ 157 bilhões, dando a Xinjiang um papel de destaque.

Essa aspiração colide com as acusações apresentadas por grupos de direitos humanos de que mais de um milhão de pessoas nesta região - lar da minoria muçulmana uigur - estão detidas em campos de internamento e trabalhos forçados.

Os Estados Unidos e alguns Parlamentos ocidentais acusam Pequim de "genocídio", que nega todas as acusações e ataca os críticos pela "politização" do esporte.

Enquanto isso, vários meios de comunicação estatais publicam informações sobre uma "febre do esqui" em Xinjiang, acompanhadas de imagens de jovens urbanos ricos tirando selfies em roupas de esqui em frente às montanhas cobertas de neve da região.

O número de resorts de esqui no país quadruplicou desde que Pequim ganhou a alocação para as Olimpíadas. Somente em Xinjiang, 72 foram construídos.

A mídia estatal publicou várias reportagens com moradores se divertindo no gelo e elogiando jovens atletas de minorias étnicas da região.

Em um post, um blogueiro da minoria uigur visita um novo parque de neve em uma área desértica ao sul de Xinjiang.

E uma jovem esquiadora uigur foi escolhida para a última parte do revezamento da tocha olímpica na cerimônia de abertura de sexta-feira.

Ninguém ignorou o componente político da escolha por autoridades que coreografam cuidadosamente a sua imagem no cenário internacional.

"A política da China de desenvolver os esportes de gelo e neve e promover a saúde da população está beneficiando pessoas de todos os grupos étnicos", disse esta semana o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian.

"Isso também mostra que membros de diferentes grupos étnicos fazem parte de uma grande família", acrescentou.

Berço do esqui?
A portadora da tocha, Dinigeer Yilamujiang, vem da montanhosa cidade de Altay, em Xinjiang.

A análise de dados de satélite do Instituto Australiano de Política Estratégica sugere que a área abriga até 12 centros de detenção construídos durante a repressão do governo central.

Mas Pequim tenta promovê-la como o berço do esqui, com acadêmicos chineses argumentando que desenhos pré-históricos encontrados nas cavernas de Altay mostram que a prática existia na região há 10.000 anos.

Os arqueólogos encontraram evidências de esquis primitivos em várias sociedades pré-históricas ao redor do mundo.

As autoridades dizem que cerca de 300 milhões de chineses praticaram esportes de inverno desde a escolha de Pequim como sede dos Jogos, um número que foi repetido com entusiasmo pelo presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach.

Algumas estimativas sugerem que a China está a caminho de se tornar a maior nação esquiadora do mundo, também favorecida por setores da população em ascensão social e confinados dentro de suas fronteiras pelo coronavírus, segundo o analista esportivo Mark Dreyer.

Promover Xinjiang como um destino de esportes de inverno "permite alcançar todos os objetivos: esportivo, econômico e político".

A maioria das estações de esqui de Xinjiang está localizada em áreas etnicamente diversas perto das fronteiras com a Rússia, Cazaquistão e Mongólia.

Seis atletas de Xinjiang participam dos Jogos, incluindo um uigur e três cazaques.

Grupos de direitos humanos temem que a China glorifique esses atletas de minorias étnicas para ocultar os abusos na região, aumentando os esforços de propaganda para retratar Xinjiang como um destino turístico atraente.

Pequim também quer promover a unidade étnica e a assimilação cultural entre as minorias em suas regiões fronteiriças.

"O governo chinês promove o turismo em Xinjiang, transformando a região em uma espécie de Disneylândia onde as pessoas são despojadas de sua identidade e opinião", diz Maya Wang, da Human Rights Watch.

Uma autoridade local disse ao China Daily que a região oferece turismo, esportes de inverno e "experiências folclóricas".

O consultor Laurent Vanat, que assessorou o governo local na construção de resorts de esqui em Altay em 2019, admitiu que há "sinais de sucesso" na indústria da região, mas disse que continuará sendo "um nicho de mercado".

Em sua opinião, a infraestrutura precária desencorajará os turistas, com conectividade aérea, disponibilidade de pistas e condições climáticas muito piores do que os principais centros europeus.

Especialistas também dizem que a questão dos direitos humanos pode pesar nos sonhos de Pequim de transformar Xinjiang em um centro de turismo internacional, já que os esportes de inverno são especialmente populares nos países ocidentais que criticam a China sobre o assunto.

"Os países mais aliados da China podem ignorar as questões de Xinjiang, mas não são países de esqui", diz Dreyer. "Terá que ser 100% focado no mercado interno", acrescentou.

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