Corinthians deve virar mais um ano sem concretizar acordos verbais com Caixa e Odebrecht sobre dívida da Arena - Gazeta Esportiva
Corinthians deve virar mais um ano sem concretizar acordos verbais com Caixa e Odebrecht sobre dívida da Arena

Corinthians deve virar mais um ano sem concretizar acordos verbais com Caixa e Odebrecht sobre dívida da Arena

Gazeta Esportiva

Por Tiago Salazar

19/12/2021 às 07:00

São Paulo, SP

Em setembro de 2019, Andrés Sanchez ocupava a presidência do Corinthians e convocou uma coletiva de imprensa no CT Joaquim Grava para mostrar o termo de quitação com a construtora Odebrecht, responsável por erguer a Neo Química Arena.

"Só devemos para a Caixa", bradou o então mandatário, sem entrar em maiores detalhes, mas sempre de maneira enfática. "Só Caixa".

Um pouco mais de um ano depois, dia 27 de novembro de 2020, na véspera das eleições presidenciais no Parque São Jorge, Duilio Monteiro Alves postou um vídeo em seu perfil no Instagram.

Na gravação, o candidato que viria a vencer o pleito garantiu que Andrés havia conseguido um novo acordo para o pagamento da dívida junto ao banco estatal.

"Para fechar seu ciclo com chave de ouro, conseguiu um excelente acordo com a Caixa Econômica Federal", disse Duilio, em referência a Andrés. (veja o vídeo, na íntegra, abaixo).



Apesar do otimismo que tomou conta dos corintianos sobre o tema, o clube deve virar mais um ano sem consumar as pretensões sobre as dívidas que envolvem o Estádio de Itaquera. Nenhum documento oficial foi apresentado até o momento, e as garantias seguem sendo "verbais".

O problema
Na primeira quinzena de julho de 2021, Duilio Monteiro Alves chegou a ir a Brasília.

O atual presidente do Timão foi atualizado sobre o andamento das documentações e aproveitou para externar a importância do processo ser concretizado o quanto antes.

Segundo interlocutores, o grande problema segue sendo a burocracia. Os departamentos jurídicos estão em "aditivo contratual". Esse processo nada mais é do que a atualização do contrato original, com as mudanças combinadas em novembro de 2020.

Mas, para o novo documento ser oficializado, ele ainda precisa passar por aprovação de órgãos federais.

A peculiaridade da Caixa ser um banco público e os retardamentos causados pela pandemia do coronavírus, no entendimento de quem está participando das tratativas, são os principais fatores para a morosidade do processo.

Enquanto nada sai do papel, o Corinthians vai ficar com toda a receita recolhida com a Arena. Em 2021, graças a oito jogos, sendo dois deles com 30% da capacidade do estádio liberada, a bilheteria rendeu R$ 14,5 milhões.

Os repasses à Caixa também foram paralisados até que as questões se resolvam no âmbito jurídico.

Adiado, de novo
Em relação a Odebrecht, apesar de ter efetuado a quitação com a construtora, o Corinthians ainda tem de resolver uma pendência importante com a Odebrecht Participações e Investimentos (OPI).

Andrés sempre diz que o clube "só deve à Caixa" porque o Corinthians fez um acordo com a empresa nos bastidores, mas a homologação deste tratado depende da assembleia de recuperação judicial da OPI.

Já foram inúmeros adiamentos. A nova data agendada para essa assembleia é 17 de fevereiro de 2022, como informou o Meu Timão. Até lá, nada será resolvido.

Resposta oficial
A Gazeta Esportiva procurou o Corinthians, por meio da assessoria diretiva, e fez questionemos relacionados à demora para a concretização do negócio com a Caixa; os valores envolvidos; e a homologação do tratado com a Odebrecht.

O clube enviou a seguinte resposta oficial:

"O Corinthians permanece em contato frequente com a Caixa Econômica e mantém confiança de que o acordo será assinado em breve. Por essa razão, o clube prefere esperar o desfecho antes de fazer qualquer comentário".




O acordo com a Caixa
O valor estipulado ficou em R$ 569 milhões.

As parcelas serão anuais, com vencimento sempre para novembro, e o Corinthians terá de iniciar os pagamentos em 2022.

O clube pretende receber um ano a mais de carência, por causa da pandemia, e assim começar a pagar em novembro de 2023, mas isso ainda precisa ser acertado.

Antes, o Corinthians tinha até 2028 para quitar a Arena. Neste novo formato, o vencimento da última prestação ficará para 2040.

O Corinthians usará todo o montante recolhido por meio da venda do naming rights do estádio para abater a dívida com a Caixa.

Não a toa, o acordo do Timão com o banco terá o mesmo período de validade do contrato do clube com Hypera Pharma.

Os R$ 15 milhões anuais repassados pela empresa farmacêutica serão destinados integralmente à Caixa. Ao fim, serão R$ 300 milhões, sempre corrigidos pelo IGP-M.

Desta maneira, o Corinthians ficaria responsável por R$ 269 milhões. O valor será corrigido pela TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo).

As parcelas que o clube assumirá não poderão passar, contratualmente, de R$ 38 milhões.

O Corinthians, porém, segue precisando das aprovações e assinaturas para tornar tudo isso oficial.



O acordo com a Odebrecht
Em meio a uma recuperação judicial para evitar a quebra do grupo, a Odebrecht percebeu que manter o crédito de R$ 1,030 bilhão em seu balanço apenas com a perspectiva de recebimento por meio de receitas de bilheteria da Neo Química Arena seria equivalente a uma previsão não realizada.

A partir do momento que a empresa assumiu o erro no planejamento e ausência dos créditos em questão, o Corinthians deixou de ser devedor.

A aceitação dos credores se deu por dois motivos: o primeiro é o fato de que os créditos gerariam impostos sobre receitas não realizadas. E o segundo, mais importante, é pela Odebrecht ter garantido o recebimento de R$ 400 milhões por meio dos Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento (CIDs) mediante a entrega da carta de quitação da obra. Com a correção monetária, os títulos significaram aproximadamente R$ 800 milhões.

Ou seja, se não assumisse a falha no planejamento orçamentário sobre a Arena, a Odebrecht não teria previsão para receber o crédito, teria de arcar com os impostos e ainda ficaria sem os CIDs. Portanto, o prejuízo seria ainda maior em um momento que a empresa tenta se reerguer.

O último passo para esse cenário se confirmar é a homologação na assembleia de recuperação judicial da Odebrecht Participações e Investimentos (OPI).

 

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