Gazeta Esportiva

Arce e argentino da Arrancada Heroica inspiram Barrios no Palmeiras

Nascido na Argentina, Lucas Barrios disputou Copa do Mundo pelo Paraguai. (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)

Um jogador nascido na Argentina, com cidadania paraguaia, é a principal esperança de gols no Palestra Itália. As trajetórias dos ídolos Francisco Javier Arce Rolón, campeão da Copa Libertadores 1999, e Juan Raúl Echevarrieta, presente na Arrancada Heroica de 1942, servem de inspiração para o centroavante Lucas Barrios, que nesta semana inicia a disputa das Eliminatórias para a Copa do Mundo 2018.

Homem de confiança do técnico Luiz Felipe Scolari, Arce brilhou pelo Palmeiras de 1998 a 2002. Neste período, conquistou a Copa do Brasil, a Copa Mercosul e a Copa Libertadores, além do Rio-São Paulo. O lateral direito usou a tarja de capitão e acumulou 243 partidas, um recorde entre os estrangeiros no clube. Pela seleção paraguaia, jogou as edições de 1998 e 2002 do Mundial.

Lucas Ramón Barrios Cáceres nasceu na localidade argentina de San Fernando de la Buena Vista, mas, sem chances na seleção do próprio país, decidiu em 2010 defender o Paraguai, pátria de sua mãe e de ‘Chiqui’ Arce. Ironicamente, Gerardo ‘Tata’ Martino, atual técnico da Argentina, foi o responsável por propor a naturalização ao atleta.

“Estava atuando pelo Borussia Dortmund e na época era o artilheiro do Campeonato Alemão. O Tata Martino, então treinador do Paraguai, entrou em contato comigo para ver a possibilidade de eu jogar pela seleção”, recordou o centroavante do Palmeiras, bicampeão nacional pela equipe alemã, em entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva.

Arce disputa final da Libertadores 1999; Echevarrieta (à direita) na Arrancada Heroica de 1942. (Foto: Acervo/Gazeta Press)

Pouco depois de se naturalizar paraguaio, Lucas Barrios repetiu Francisco Arce e disputou a Copa do Mundo 2010. Na melhor campanha de sua história, o Paraguai acabou eliminado pela Espanha nas quartas de final. Em 2011, o centroavante participou do vice-campeonato da Copa América, realizada justamente na Argentina.

Cinco anos depois da naturalização, prestes a iniciar a disputa das Eliminatórias, Lucas Barrios não se arrepende. “Acho que tomei a melhor decisão possível, porque graças a Deus pude jogar o Mundial e a Copa América. Vestindo a camisa do país da mulher que me deu a vida, eu me sinto como um paraguaio a mais”, afirmou o centroavante do Palmeiras.

Em 2011, após a saída de Tata Martino, idealizador da naturalização de Lucas Barrios, Arce assumiu o comando do Paraguai. Com resultados abaixo do esperado, o antigo lateral direito teve vida curta como técnico da equipe de seu país e acabou dispensado já no ano seguinte. Durante a rápida passagem, ele convocou o centroavante naturalizado.

“Tive a sorte de trabalhar com o Arce como treinador da seleção do Paraguai. É uma grande pessoa e também foi um jogador de muito sucesso aqui no Palmeiras. A verdade é que tenho apenas admiração por ele”, disse Barrios. Atual técnico do Olímpia, o ex-lateral direito chegou a ser sondado pelo clube brasileiro em 2014, antes da contratação do argentino Ricardo Gareca, mas preferiu não abrir negociações.

PALESTRA ENFRENTOU PARAGUAI

O Palestra Itália enfrentou a seleção do Paraguai na primeira partida internacional de sua centenária história. No dia 26 de outubro de 1922, oito anos após a fundação, a jovem agremiação brasileira ganhou por 4 a 1.

Maior artilheiro da história do clube, Heitor (foto) anotou três gols e Imparato completou o placar. Rivas marcou o único tento paraguaio no amistoso disputado no Parque Antárctica. Pelo triunfo, o Palestra ganhou a Taça Guarani.

O Sul-Americano de seleções de 1922, disputado de setembro a outubro no Brasil, proporcionou o amistoso. Davide Pichetti, presidente do Palestra, aproveitou a presença dos paraguaios no País para promover o jogo.

Se o recordista de partidas entre os estrangeiros no Palmeiras é paraguaio, o maior artilheiro é argentino. De 1939 a 1942, Echevarrieta anotou 113 gols em 127 partidas (média de 0,88). Em um dos momentos mais significativos da história do centenário clube, ele participou da Arrancada Heroica e marcou o terceiro na vitória por 3 a 1 sobre o São Paulo que garantiu o título do Campeonato Paulista 1942.

Citado no filme “O Casamento de Romeu e Julieta”, Echevarrieta também foi protagonista na conquista do Campeonato Paulista 1940, o último título do clube como Palestra Itália, ao marcar dois na vitória por 4 a 1 sobre o São Paulo. Conhecido por sua versatilidade no ataque, o argentino anotou o primeiro gol da história do Palmeiras no Pacaembu. Radicado no Brasil, morreu no ano de 1987, em Florianópolis.

Aos 30 anos de idade, Lucas Barrios já passou por Argentina, Chile, México, Alemanha, China, Rússia e França. Vinculado ao Palmeiras até a metade de 2018, o paraguaio naturalizado, trajado com a camisa número 8, espera repetir Francisco Arce e Juan Echevarrieta com títulos expressivos pela equipe alviverde o mais rápido possível.

“Foram dois jogadores históricos do Palmeiras e também estou muito feliz por defender um clube tão grande. Acima de tudo, trato de ajudar o time sempre. Depois, com o passar do tempo, você vê se entra na história ou não. Quero aportar meu grãozinho de areia para poder conquistar títulos importantes. A equipe está se esforçando para trazer atletas de peso com o objetivo de ser campeã. Esperamos em pouco tempo dar alguma alegria à torcida”, disse.

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PARAGUAIOS SÃO DISCRIMINADOS NA ARGENTINA

Chamados de “paraguas”, os imigrantes paraguaios são discriminados na Argentina. Assim como os bolivianos, conhecidos como “bolitas”. Geralmente, os habitantes dos países vizinhos viajam em busca de melhores condições de vida e exercem subempregos.

A discriminação pode ser vista nos estádios de futebol. Nas partidas contra o Boca Juniors, time com maior torcida da Argentina, os torcedores adversários, pulando nas arquibancadas, costumam cantar: “Hay que saltar, hay que saltar! El que no salta es de Bolivia y Paraguay!”.

Na temporada de 2009, torcedores do Independiente levaram às arquibancadas bandeiras de Paraguai e Bolívia com o número 12 ao centro em alusão à “La 12”, principal barra-brava do Boca Juniors. Na época, o episódio causou mal-estar entre os países envolvidos.

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