Gazeta Esportiva

Corredor de 1,46m desafia bullying e agressões por 10ª São Silvestre

A Corrida Internacional de São Silvestre é especialmente desafiadora para Matheus Freitas. Além de se preparar para enfrentar os 15 quilômetros pelas ruas de São Paulo, o corredor de 1,46m está sujeito a bullying e agressões. Em 2014, participará da prova disputada no último dia do ano pela 10ª vez.

Matheus é chamado constantemente de “anão”, embora o termo seja aplicável apenas a homens com altura inferior a 1,45m. Acompanhado pela reportagem, ele visitou o vão do Masp na tarde de quarta-feira e, como de costume, atraiu olhares curiosos na região de largada da São Silvestre.

“Já me chamaram de baixinho, anão, ligeirinho, camundongo veloz. Eu não levo a sério, até gosto. Se levasse, poderia ficar doente. Na São Silvestre de 2010, quando estava subindo a Brigadeiro, um homem sentado na calçada disse: ‘Está mole, hein, anão!’. Eu parei e respondi: ‘Por que você não levanta e termina a prova comigo?’”, contou.

Do público, Matheus também ouve aplausos e palavras de incentivo ao longo do percurso, principalmente por parte das mulheres. Entre os corredores, há quem não goste de competir com um atleta de baixa estatura, a ponto de responder com agressões.

“É muito raro encontrar pessoas da minha altura nas provas. O pessoal até brinca: ‘Cuidado para não ser atropelado pelos grandões’. Já cheguei a tomar uma cotovelada na largada da São Silvestre. Muitos disseram que foi proposital, mas eu espero que não tenha sido”, contou Matheus, persistente.

Matheus diante do Masp: corredor já disputou provas no exterior e conta ter vencido em sua faixa etária – Credito: Fernando Dantas/Gazeta Press
“Em outra ocasião, um corredor não gostou de ser ultrapassado por mim e me empurrou para fora do percurso no Viaduto do Chá. Na hora, tive vontade de revidar, mas decidi provar no ritmo. No final do percurso, na altura da Brigadeiro, voltei a ultrapassá-lo e mostrei que o que ele fez não adiantou nada”, contou.

Embora trabalhe como técnico administrativo, Matheus tem um calendário intenso de corridas e costuma disputar duas maratonas por ano, sempre na categoria geral. Ao longo do tempo, percebeu que precisa gastar mais energia para acompanhar os concorrentes, já que a amplitude de sua passada é menor.

“Eu corro junto com o povão. Não quero ter o privilégio de participar de uma categoria especial. Sou capaz de disputar entre os normais. A parte mais complicada para mim é manter o ritmo forte na briga com os adversários. Já fiz uma análise e chego a dar cinco passadas a mais que uma pessoa normal para manter o mesmo ritmo”, contou.

Com 1,46m, Matheus se prepara para a 10ª SS – Credito: Fernando Dantas/Gazeta Press
Hoje com 23 anos, Matheus trocou o futebol pela corrida aos 12 e, incentivado pela mãe, começou a treinar ao lado de alguns amigos. Único remanescente do grupo, ele lançou o livro “Tamanho é Documento?” em 2014 e atualmente ministra palestras motivacionais.

“Meu gosto pela corrida é um caso de amor à primeira vista. Hoje, o pessoal me reconhece, mas antes falavam: ‘Você é louco, com essa estatura não vai chegar a lugar algum’. No começo, eu não queria vencer, mas sim provar. Se você tem um sonho, pode alcançá-lo, independentemente das dificuldades”, disse.

Em preparação para disputar a Corrida Internacional de São Silvestre, Matheus percorre um mínimo de dez quilômetros diários como treinamento e investe na estratégia de fazer tiros na subida, seu ponto forte. Na tradicional corrida criada pelo jornalista Cásper Líbero, a filosofia de provar a própria capacidade chega ao auge.

“A São Silvestre é o sonho de todos os corredores, já vi pessoas começarem a correr por causa dela. Quando digo que sou maratonista, todos perguntam sobre a São Silvestre, embora ela não seja uma maratona. É uma prova muito especial. Tento melhorar meu tempo a cada ano e em 2014 quero correr na casa dos 58 minutos”, avisou.

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