Há aproximadamente 2 mil “mexicanos” na Vila Joaniza, humilde bairro da zona sul paulistana. Batizada em homenagem ao tricampeonato mundial, a Escola Estadual México une os países que duelam pelas oitavas de final da Copa do Mundo da Rússia.
Fundada na década de 1960, a instituição mudou de nome para celebrar a irmandade com o povo mexicano em 1970, ano em que a Seleção liderada por Pelé encantou o mundo com partidas disputadas em Guadalajara e na Cidade do México. Em clima de Copa, a escola hoje exibe painéis com as bandeiras dos países que estão na Rússia.
“Por causa da escola, a gente até se acha mexicano”, sorriu Ilka Lippi, vice-diretora da instituição que conta com cerca de 2 mil estudantes, do ensino fundamental ao médio. “Quem é aqui do México, aluno, professor ou funcionário, tem muito carinho pelo país”, completou.
A instituição mantém laços estreitos com o país norte-americano, já que integra o programa “Escolas México”, mantido pela Agência Mexicana de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento. O projeto contempla aproximadamente 147 escolas que levam o nome do país em 17 nações do Caribe e da América Latina.
“Curiosamente, a escola já tinha esse nome antes mesmo da criação do programa ‘Escolas México’. A relação entre México e Brasil é muito fraternal”, observou Bruno César Silva, assistente de Margarita Pérez Villaseñor, cônsul-geral do país em São Paulo.
Os estudantes da Vila Joaniza contam com apoio do Consulado-Geral na capital paulista, além da Câmara Mexicana e da associação Mexicanos em São Paulo – as entidades contribuem com recursos financeiros, materiais e logísticos. Anualmente, alguns alunos da instituição são selecionados para visitar o país norte-americano.
“Na verdade, o contato que mantemos com o México é um privilégio. Muita gente vem para a escola porque sabe que, se tiver um bom desenvolvimento, vai conseguir a oportunidade de conhecer o país”, contou Ilka Lippi, ouvida atentamente pelos alunos Joaquim Azevedo e Danielly Santos, recém-chegados da viagem.
A relação influencia no conteúdo da escola que tem a fachada enfeitada por um painel do renomado artista plástico mexicano Felipe Ehrenberg. Os alunos aprendem o hino nacional, celebram a independência e, em vez do Halloween, estudam sobre o Dia dos Mortos, traço marcante da cultura do país.
Os mexicanos, muitos fãs do cantor Roberto Carlos, de maneira geral têm carinho pelos brasileiros, em parte pela participação da Seleção nos Mundiais de 1970 e 1986. No Brasil, os próprios mexicanos ficam surpresos com a admiração dos locais pela pintora Frida Kahlo e pelo ator Roberto Bolaños, protagonista do seriado Chaves.
“A personalidade do mexicano é muito parecida com a do brasileiro”, apontou Juliana Mizga, responsável pelas relações institucionais da Câmara Mexicana. “Os dois povos são alegres, hospitaleiros e multiculturais”, completou Bruno César Silva, representante da cônsul-geral.
Às 11 horas (de Brasília) desta segunda-feira, as afinidades entre Brasil e México serão colocadas à prova na briga por uma vaga nas quartas de final da Copa do Mundo da Rússia. Na Vila Joaniza, a vice-diretora Ilka Lippi se diverte com o duelo dos dois países.
“Ai, meu Deus… Precisava ter acontecido isso logo agora? Não podia ser na final? Não sei como vai ser, de verdade. Vou te falar o seguinte: meu coração está divididinho, metade Brasil e metade Brasil!”, contou, rindo, perto de uma imensa bandeira mexicana.
DA ZONA SUL PARA A AMÉRICA DO NORTE
Como parte do programa “Escolas México”, criado para apoiar instituições de ensino com o nome do país, dois alunos da Vila Joaniza recentemente passaram uma semana na capital federal. Joaquim Azevedo (12 anos) e Danielly Santos (11 anos) estavam entre o grupo de 32 estudantes contemplados de diferentes nações.
Para celebrar o cinquentenário dos Jogos de 1968, o concurso de desenho criado com a finalidade de selecionar os alunos para a viagem teve o tema “México Olímpico”. “Pensando em representar a união, fiz duas pessoas remando na canoagem”, contou a ganhadora Danielly, que teve ajuda da Câmara Mexicana para tirar seu primeiro passaporte.
Condecorados pela Agência Mexicana de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento, os dois jovens brasileiros conheceram alguns dos principais pontos turísticos locais, como a zona arqueológica de Teotihuacán e o Castelo de Chapultepec.
“O que gostei mais da viagem foi o passeio pelas pirâmides”, contou Joaquim Azevedo, que ganhou a viagem pelo melhor aproveitamento escolar. “Só fui comer tacos no último dia e, sem querer, coloquei ketchup picante. Achei a Cidade do México parecida com São Paulo, até no trânsito”, completou.