Uma braçada por vez - Gazeta Esportiva
Fernanda Silva
São Paulo
12/20/2018 08:00:14
 

Não tinha como ser diferente. O esporte estava no sangue. Filha de um nadador e uma ginasta, Ana Marcela Cunha começou a desbravar as águas ainda antes de completar dois anos de idade. Sem nunca deixar de nadar, o esporte foi se tornando uma responsabilidade. Sonhava em ser uma atleta profissional e conquistar o Brasil. “Mas, talvez, o planeta todo, eu nunca tinha pensando”, brinca ela, em entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva. Só que o não-projeto se concretizou e, em 2019, pela quinta vez, se sagrou melhor do mundo na Maratona Aquática.

Em um ano marcado por pódios, o reconhecimento nacional veio também. Na última terça-feira, Ana foi eleita a melhor atleta no Prêmio Brasil Olímpico. Sem o Campeonato Mundial em 2019, a principal competição da modalidade foi a Copa do Mundo. De lá, saiu campeã. De oito etapa, ela competiu sete e subiu ao pódio em cinco. No Pan-Pacifico, foi a primeira vez na história que a maratona aquática brasileira conseguiu uma medalha — um bronze,  ele veio com Ana. No Sul-Americano, outro feito inédito dela: pela primeira vez uma atleta foi campeã em todas as provas disputadas— 5km, 10 e revezamento.

“Ser pela quinta vez a melhor do mundo aumenta a confiança, mas, ao mesmo tempo aumentam as exigências

E ai, não teve como, a resposta veio também fora das águas. “É você competir com seus próprios resultados e com os dos outros”, destaca Ana. Disputando o título com Marta, do futebol e Ana Sátila, da canoagem, Cunha celebrou o título de melhor atleta do país do ano. “É muito legal ver que, independente do esporte, realmente está todo mundo olhando para o resultado em si”.

A luta pela vitória não é novidade para Ana. Também, segundo ela, está no sangue. Com esforço e talento, bons números aparecem. E, junto deles, vêm as cobranças. “Ser pela quinta vez a melhor do mundo aumenta a confiança, mas, ao mesmo tempo aumentam as exigências”, ressalta Ana. “Então, também temos que seguir fazendo o que fazemos e como a gente faz para pode continuar tendo essas coroações”.

Para ela, ser eleita a melhor do mundo uma, duas ou cinco vezes mostra que está fazendo o trabalho certo. O objetivo é fazer um ano de 2019 consistente para, quem sabe, ser eleita mais uma vez melhor do mundo ou estar no Prêmio Brasil Olímpico novamente. “A gente sempre sai dessas celebrações querendo voltar”, brincou a atleta da Unisanta e da Marinha do Brasil.

SONHO OLÍMPICO

Com apenas 16 anos, nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008, na estreia da modalidade em Olimpíadas, Ana Marcela conseguiu o quinto lugar na prova dos 10km. Agora, dez anos mais tarde, se prepara para Tóquio 2020. Ela, entretanto, acredita que é preciso ter pé no chão e traçar o caminho para chegar lá. Isso porque, antes, tem que mostrar um bom desempenho no Mundial, do próximo ano.

A gente sempre sai dessas celebrações querendo voltar

“A gente não pensa muito em Tóquio ou lá na frente — óbvio que sabemos que nosso sonho, nosso objetivo é a medalha olímpica”, destacou a nadadora. “Mas vamos etapa por etapa porque é assim que a gente gosta de trabalhar”.

Apesar da fala, a vaga para os Jogos é mais que um sonho. Isso porque, para garantir espaço na disputa, é preciso estar entre as dez melhores do Mundial e, na última, ela mira o pódio. “Como a gente pensa em ser campeão no Mundial (ou em uma medalha, pelo menos), teoricamente, não dá para pensar em ficar de fora de Tóquio. Mas vamos que vamos. Uma coisa de cada vez para ir em busca dessa vaga”, finalizou.