Sabe bem o que vem pela frente - Gazeta Esportiva
Felipe Leite
São Paulo, SP
06/06/2023 08:00:15
 

Por Felipe Leite

A base do Palmeiras — seja em qual categoria for — goza de grande sucesso recente. Empilhando títulos e formando talentos na mesma velocidade, o Verdão deixa margem somente para uma questão: por que o clube vence tanto? O que explica?

A reportagem da Gazeta Esportiva tentou buscar respostas dos protagonistas de tais conquistas: as próprias Crias da Academia.

Antes de qualquer sugestão de entendimento definitivo, é preciso enaltecer os números. Impossível desprezá-los, praticamente.

Só nos primeiros seis meses de 2023, o Alviverde conquistou 16 títulos nas categorias de base. O principal deles, claro, a Copinha — mas o sub-20 também levantou, recentemente, dois troféus na Holanda: o do Terborg Toernooi e do ICGT Tournament.

Leila Pereira, presidente do Palmeiras, nas comemorações do título da Copinha de 2023 (Foto: Fabio Menotti/Palmeiras)

No sub-17, triunfos na FAM Cup e Festival TSFC; o sub-15 venceu o Marveld Tournament, também na Holanda, e o Festival TSFC da categoria; o sub-14 garantiu a conquista do Tokyo Youth Football Tournament, no Japão; já o sub-13 ergueu o caneco da Copa Integração; sub-12, Sanca Cup e Laranjeiras Cup (ambos de maneira invicta); o sub-11 triunfou na GO Cup e na Sanca Cup, também ostentando invencibilidade; e, para fechar, o sub-10 conquistou Laranjeiras Cup, Sanca Cup e GO Cup — igualmente invicto em todas as competições.

Ufa.

O sucesso na atual temporada vem na esteira de conquistas nos anos anteriores. Foram 24 títulos ao total em 2022, 7 em 2021 e 7 em 2020. Tem tudo para ser uma ‘escadinha’ que cresce exponencialmente.

Mas, quando falamos em categorias de base, ganhar títulos é secundário. Importante, mesmo, é revelar talentos. E isso também acontece no Palmeiras.

Endrick, Luis Guilherme, Estêvão, Vanderlan, Fabinho, Naves: não são só os nomes recentes que comprovam isso. Mais uma vez, os números e estatísticas servem de subsídio para tal afirmação.

Endrick: a joia palmeirense, já vendida ao Real Madrid, é símbolo do sucesso da base do Verdão (Foto: Fabio Menotti)

Desde 2017, o Verdão se mantém anualmente como clube que mais cedeu atletas às Seleções Brasileiras de base. Foram 13 em 2022; 14 em 2021; 13 em 2020; 17 em 2019; 29 em 2018; 18 em 2017.

Aprimoramento de estrutura, altos investimentos, melhoria de metodologias e processos… tudo isso colabora para a formação de talentos em conjunto com resultados esportivos. O Palmeiras, na verdade, colhe os frutos de uma semente plantada lá atrás.

“O João Paulo (Sampaio, coordenador geral das categorias de base do Alviverde) foi um profissional que eu apostei lá em 2015. Falar dele hoje é fácil. Lá em 2015, tinha trabalhado só no Vitória da Bahia e havia sido demitido naquele momento que o busquei. Eu vejo que não só eu, mas todo mundo que participou do processo, todos que contribuíram têm uma responsabilidade no que vem acontecendo (hoje). Sobre categoria de base, é muito fácil. O plano era de que, em cinco ou seis anos, conseguisse trazer a maturidade dos jogadores. E isso está acontecendo. As pessoas falam às vezes: ‘ah, colocavam menos’. É óbvio. O Palmeiras precisava se resgatar para o mercado primeiro, para ser atrativo também para a categoria de base. Hoje, os meninos querem ir para o Palmeiras — naquele momento, não queriam”, afirmou Alexandre Mattos, em entrevista exclusiva concedida recentemente à Gazeta Esportiva.

A reportagem ouviu, também — igualmente de maneira exclusiva —, três Crias da Academia. A busca? O tal do olhar interno, que importa, e muito, na construção da resposta sobre o sucesso recente do Alviverde na base.

Thauan chegou ao Verdão em 2021. De lá para cá, conquistou três títulos com a camisa alviverde sub-20 — a Copa do Brasil e o Brasileirão de 2022, além da Copa São Paulo de Futebol Júnior neste ano.

“O time investiu pesado na melhoria do Centro de Treinamento, e trouxe profissionais altamente capacitados. O próprio Paulo (Victor Gomes, técnico do sub-20), possui conhecimentos para treinar equipes da elite do Brasileirão, por exemplo. Então não é exatamente um fator específico que causou essa melhora recente, mas sim todo um planejamento e estruturação do clube”, analisou o atacante, que visa se firmar cada vez mais no time titular de PV Gomes.

“Aqui dentro todos trabalham juntos, uma mentalidade de união, onde somos uma família, e queremos o melhor para o Palmeiras e não para si. Acho que a principal diferença é que como somos uma família, não temos tantas saudades assim de casa como em outros clubes. Temos uma boa relação com todos e nos sentimos acolhidos”, completou Thauan.

Também do sub-20, mas com a experiência de ter capitaneado o sub-17 durante toda a temporada de 2022, Gabriel Vareta apontou um outro caminho. Se a base ajuda a abastecer o elenco profissional — o que culmina em títulos, pois —, a via também é, surpreendentemente, inversa.

Thauan, Vareta e Eden falaram com exclusividade à Gazeta Esportiva (Fotos: Cesar Greco/Palmeiras)

“Temos um baita exemplo na equipe principal e a metodologia do Palmeiras de sempre querer mais e ter a fome de vencer em cada torneio. Isso nos leva a mais títulos. A diferença é sempre trabalhar mais que as demais equipes. Ir até o limite no Palmeiras não é o suficiente. Tem que ultrapassar o seu limite e quando estiver dentro de campo, vibrar como um palmeirense de verdade”, sugeriu como resposta o zagueiro.

Nas categorias mais jovens, a percepção é a mesma.

“Além de revelar grandes atletas, o Palmeiras possui um grande planejamento por trás disso tudo. Sabemos que sem planejamento as coisas não dão certo no futebol. O clube colocou isso como prioridade nos últimos anos e hoje vem colhendo o fruto de tudo que investiu. A estrutura que proporciona aos seus funcionários é o grande diferencial. Além disso, a instituição como um todo só pensa em vencer a cada competição e isso influencia no desempenho de cada um”, afirmou Eden, com somente 14 anos de idade — e que já desponta como certo destaque no sub-15.

O jovem atacante, pois, sintetizou as falas de Mattos, Thauan e Vareta: a combinação de planejamento (o que engloba aspectos financeiros também, claro) e mentalidade, que vai da base ao profissional, é ‘fatal’: o Palmeiras empilha títulos na base e revela talentos ‘a torto e a direito’ porque construiu capacidade para tal.