Próxima parada: Catar? - Gazeta Esportiva
Bruno Calió e Felipe Leite
São Paulo, SP
07/13/2018 08:00:33
 

O simples bate papo que está para acontecer já denota a mudança drástica em pouco mais de um ano. O contato com a imprensa foi raro na sala de coletiva e para entrevistas exclusivas ao longo de 2017. Mas Antônio Carlos não é mais o mesmo. Agora, o zagueiro já mostra diante dos microfones o que pouco pôde apresentar no último ano: confiança.

E é essa segurança que faz Antônio Carlos sonhar em estar no grupo que não obteve sucesso na Rússia, mas tentará trazer o hexa do Catar, em 2022. À Gazeta Esportiva, o zagueiro falou sobre o sonho de vestir a amarelinha, sua inspiração em Miranda, as sondagens do exterior e como recebeu a notícia de que teria outra chance para provar seu valor no Palmeiras.

Ano passado você fez apenas 9 novos. Em 2018, já são 31 partidas, como está seu condicionamento físico?

“É um momento importante da minha carreira. No ano passado, trabalhei, me dediquei, ajudei meus companheiros, como sempre falei. Começar jogando em um clube tão grande como é o Palmeiras, esse ano, é o ápice da minha carreira. Vou continuar trabalhando, focado, me dedicando, para que eu possa fazer o melhor dentro de campo e mais uma vez ajudar os meus companheiros”

Ao final de 2017, muito se disse que você não iria permanecer, já que seu contrato de empréstimo estava no fim. Você estava confiante que iria ficar? Como recebeu essa notícia?

“Eu continuei trabalhando, focado. Sou um cara que tem muita fé. Partindo desse momento, eu continuei ajudando meus companheiros e tinha certeza de que alguém ia ver (risos). Então graças a Deus viram e o resultado veio”

Mas como foi que recebeu a notícia?

“O Alexandre (Mattos) me ligou, se não me engano dia 23, antes do Natal. Baita presente (risos). Ele falou que o Palmeiras queria mais um ano de empréstimo, que tinha gostado muito da minha dedicação e ajuda aos companheiros”

Os clubes da Arábia estão tentando a contratação de diversos jogadores brasileiros. O Keno foi embora para o Egito e algumas equipes já sondaram sua situação aqui. Chegou algo pra você?

“Isso (proposta da Arábia) eu deixo para o Alexandre (Mattos) e para o meu empresário. Eu não quero nem falar disso. Meu pensamento hoje é no Palmeiras, continuar essa ascensão e manter o foco no Palmeiras”

Mas você tem um plano de carreira, eu imagino. Na sua visão, jogar em um mercado secundário como China, Ucrânia, Arábia é algo que vale a pena pela parte financeira, ou você sairia do Palmeiras apenas para uma equipe de ponta da Europa?

“Procuro trabalhar bastante, sem pensar no futuro. Quero defender a Seleção Brasileira, sonho com isso, até porque passei pelas seleções de base. Sonho sim, por que não? Estar lá em 2022 vestindo aquela camisa… fico lisonjeado, vou trabalhar. Chegam propostas, mas como falei, deixo para o Alexandre (Mattos) e meu empresário, tudo vai ser decidido do jeito deles. Mas meu foco é aqui. Mas se for para especular algumas coisas aí, é até bom né (risos)? Até agora, não sei de nada e estou focado no Palmeiras”

Como você viu a dupla de zaga da Seleção Brasileira?

“(Thiago Silva e Miranda) foram bem, muito bem. Todos os zagueiros que jogam Copa do Mundo são jogadores fora do normal. Sempre bom aprender um pouquinho, olhar o posicionamento. Por isso que sempre falo: é constante a evolução do jogador, de qualquer atleta, não só no futebol. Mas ele tem que evoluir cada dia mais para que chegue no ápice da carreira. E pode ter certeza que o Thiago Silva, Miranda e Marquinhos ainda têm muito a evoluir”

Você chegou a jogar com o Marquinhos ainda na base do Corinthians. Juntos foram campeões da Copa São Paulo de Futebol Júnior em 2012, contra o Fluminense, e você marcou os dois gols da final. Dá para dizer que foram os mais importantes da sua carreira até aqui?

“Não, pô! Melhor nem falar disso (risos). Acho que os gols mais importantes que fiz na minha carreira foram contra o Santos e o São Paulo, esse ano, jogando pelo Palmeiras. O gol contra o Santos me tocou bastante, fiquei muito feliz de poder fazer meu primeiro gol com a camisa do Palmeiras. Contra o São Paulo então, acho que foi o gol mais bonito da minha carreira”

Ainda no clima de Copa do Mundo, quais zagueiros servem de inspiração para você?

“Tem um zagueiro da Bélgica, que joga como lateral esquerdo, Vertoghen. Tem o Anderweireld, que também é da Bélgica, entre outros. Sérgio Ramos, que é outro zagueiraço. Mas para mim, hoje, o Miranda é um fenômeno, está no ápice. É um zagueiro que eu me espelho, porque joga muita bola.

O Miranda admitiu que o Palmeiras tentou contratá-lo recentemente. Vocês poderiam estar jogando juntos, não deu, então o jeito é mirar a Seleção mesmo?

“Com certeza (risos). Mas se viesse para cá, iria ser adorado por todos, é um fenômeno do futebol, um zagueiro que eu realmente me espelho.”

Você chegou a trabalhar um tempo com o Vitor Hugo. No início da passagem dele por aqui, ele falhou em um Derby e foi bastante criticado por isso, mas depois deu a volta por cima e foi campeão brasileiro no clube. Você também passou por críticas em clássicos e momentos importantes. Serve de exemplo?

“Hoje em dia, qualquer vitória de qualquer pessoa serve para a gente de inspiração. Eu, particularmente, espero que seja assim também (como foi com o Victor Hugo). Como já falei, eu vivo um dia após o outro. Estou focado, vou continuar trabalhando e fazendo aquilo que o professor Roger falar para eu evoluir. Vou tentar ajudar meus companheiros e não cometer mais esses erros, que é muito importante, e continuar com essa ascensão. Os erros a gente deixa para trás, serve de aprendizado. Agora é acertar, acertar, acertar, para que no final do ano, a gente possa comemorar”

Vitor Hugo, ex-Verdão e atual jogador da Fiorentina-ITA, visitou a Academia de Futebol no último mês, durante suas férias (Foto: SEP)

O Hyoran ano passado também jogou pouco, mas está tendo chances nessa temporada. Com vocês lidaram com o emocional de ficar de fora?

“Eu sempre coloquei na minha cabeça, com a ajuda da minha família, minha esposa e minhas filhas, de saber que tinha alguma coisa melhor na minha vida. De que eu tinha que trabalhar mais, para mim, e foi isso que aconteceu. Creio que o pensamento positivo, desde o momento em que eu cheguei aqui, e o sentimento na minha cabeça de que eu poderia mais, assim como o Hyoran e todo mundo que está aqui, que sabem da estrutura que o Palmeiras tem hoje. Por isso tenho certeza que nosso grupo será muito vitorioso”

O Roger Machado já elogiou sua habilidade de abrir as defesas com passes longos, mas isso pode ser perigoso taticamente. Existe um trabalho específico para isso? Como saber o momento certo de arriscar?

“Eu espero meus companheiros aparecem para mim (risos). Mas, no caso disso (passes longos), temos sim trabalhos específicos. No jogo, a gente colhe os frutos desde os anos passados, desde o Eduardo (Baptista) até o professor Roger, que prefere mais que a gente saia com a bola. E isso ajuda muito, não só do meio para o ataque, mas também para os jogadores lá de trás, é importante”

Dá para creditar essa sua evolução como tendo sido primordial para que o Roger te escalasse de titular?

“Nós jogadores, não só os zagueiros, que estão jogando por ser novos, mais o Willian, o Edu (Dracena), que são experientes, todos evoluem. O Zé Roberto também, que jogou em Bayern de Munique, Real Madrid, chegou aqui e falou que evoluiu também. Isso é o que todo jogador busca: evoluir a cada jogo. Então, até antes de consolidar a carreira, vamos evoluir. Sempre no futebol existem coisas para se aprender”