Pressão pelo ouro e susto com atentados: a preparação de Erika para os Jogos - Gazeta Esportiva
Bruno Calió *
São Paulo, SP
07/18/2016 08:00:59
 

A pressão para conquistar uma medalha nos Jogos Olímpicos não é mais novidade para Erika, no entanto, esta responsabilidade ganhará força na edição que se inicia em 17 dias. A zagueira e volante da Seleção Brasileira já disputou disputou Pequim 2008, quando conquistou a medalha de prata, e Londres 2012, mas sabe que o peso de alcançar o ouro inédito para o futebol feminino será ainda maior por jogar em casa.

Defender a camisa brasileira em solo nacional, porém, não é algo inédito para a atleta de 28 anos. Em 2007, Erika conquistou a medalha dourada no Pan-Americano do Rio de Janeiro, batendo os Estados Unidos por 5 a 0 na final. Contudo, a jogadora admite que a tarefa será bem mais complicada desta vez. “A gente até brinca: ‘Vocês estão indo sob pressão?’ Aí tem gente que fala que não, mas estamos sim”, admitiu a zagueira do Paris Saint-Germain em entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva.

O Brasil inicia sua caminha pelo lugar mais alto do pódio nos Jogos Olímpicos no dia 3 de agosto, contra a China, no Estádio Olímpico João Havelange, no Rio de Janeiro. Cabeça de chave do torneio, o Brasil ainda terá a Suécia e a África do Sul como rivais no Grupo E.

Com o futebol feminino sendo apontado pelo COB (Comitê Olímpico Brasileiro) como um das maiores esperanças de medalha para o Brasil, Erika divide sua atenção em mais de nove mil quilômetros. Vivendo na capital francesa desde 2015, a jogadora se mostra apreensiva com os recentes casos de terrorismo na França, e que também são motivo de preocupação para as autoridades brasileiras durante as Olimpíadas.

Confira a entrevista completa de uma das líderes da Seleção Brasileira feminina nesta edição dos Jogos Olímpicos:

Érika deve ser titular da Seleção Brasileira nos Jogos Olímpicos Rio-2016 (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)

Erika deve ser titular da Seleção Brasileira nos Jogos Olímpicos Rio-2016 (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)

Gazeta Esportiva – Como está a expectativa para os Jogos Olímpicos?
Erika –
Estar entre as 18 (convocadas) está sendo o máximo e só isso já é uma grande felicidade para mim. Estou indo para minha terceira Olimpíada então acho que isso se torna ainda mais gostoso. As expectativas para nós são as melhores possíveis, queremos começar a jogar o quanto antes e poder estar na Vila (Olímpica) o mais rápido possível. É uma sensação completamente diferente de todos os outros torneios. Olimpíada é Olimpíada.

Gazeta Esportiva – Você estava na delegação que ficou com o ouro nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007. Quais diferenças pode esperar para as Olimpíadas do Rio?
Erika – É diferente (disputar o Pan-Americano Rio-2007 e as Olimpíadas Rio-2016) mesmo as duas sendo em casa. Sabemos que são competições de extrema importância, mas são muito diferentes uma da outra. Cada uma com sua relevância, mas nos Jogos você participa junto com os melhores atletas e o público é diferente.

Gazeta Esportiva – O grupo está sentindo uma pressão extra para conquistar o ouro inédito para o futebol feminino brasileiro?
Erika – A gente até brinca: ‘Vocês estão indo sob pressão?’ Aí tem gente que fala que não, mas estamos sim. Isso é normal e se não quisermos pressão, e não quisermos sentir essa emoção, é melhor parar de jogar futebol. É gostoso saber que tem essa responsabilidade e que muitas pessoas estão confiando no nosso potencial. Se vamos chegar (ao ouro) ou não, é consequência do trabalho que vamos fazer.

Gazeta Esportiva – Como você vê a iniciativa da CBF de manter uma seleção permanente, que conta com atletas sem clube? 
Erika – Acredito que não podemos queimar etapas. Eu participei de sub-15, sub-19 e Seleção principal, e isso me deu uma experiência muito boa porque eu não saí do nada e fui para o profissional. Hoje, muitas meninas estão passando por isso de sair de uma escolinha ou de um clube e de repente já chegar no principal. Isso faz com que você não tenha muita base, muita essência. Eu, que fiz toda a transição, vi o quanto isso é importante, porque as categorias de base de um clube são bem diferentes das da Seleção, assim como o profissional dos times e da Seleção também muda. O nível precisa ser mais alto. Aqui na Seleção você passa a render mais porque faz os treinos corretos e tem horários regrados para se alimentar. Assim, você cresce e se torna realmente profissional, mesmo que não seja profissional no Brasil.

Érika foi ouro no Pan-Americano Rio-2007 e prata nos Jogos Olímpicos de Pequim-2008 (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)
Érika foi ouro no Pan-Americano Rio-2007 e prata nos Jogos Olímpicos de Pequim-2008 (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)

Gazeta Esportiva – Entre as convocadas para as Olimpíadas, nenhuma atua no Brasil. O que pensa dessa situação?
Erika – Faz parte. Não temos muito o que falar até porque eles (comissão técnica da Seleção Brasileira) estão observando as jogadoras tanto lá fora quanto aqui no nosso país. Quem dita as regras são eles. Claro que gostaríamos que outras meninas estivessem aqui participando e tivessem a chance de servir à Seleção, mas são eles que escolhem.

Gazeta Esportiva – Ao mesmo tempo em que não temos atletas convocadas atuando no Brasil, quatro selecionadas jogam na China. O futebol feminino praticado no Brasil está defasado em relação aos outros países? 
Erika – As meninas foram agora para a China, não estão lá há tanto tempo. Se estivessem, talvez poderíamos dizer que o nível lá está mais alto mesmo. Foi engraçado porque aqui (na Seleção Brasileira) já aconteceu algumas vezes de faltarem meninas e o Vadão (treinador da Seleção) chamar algumas atletas de clubes para treinar conosco. Se elas estivessem muito bem, permaneceriam com certeza, mas vimos que o nível delas realmente estava abaixo do nosso e elas mesmas perceberam isso. Uma até comentou comigo: ‘Caramba! Parece que vocês estão em um padrão mais rápido. Quando vamos na bola vocês já chegaram primeiro’. A importância de a comissão técnica analisar bem isso é fundamental. Somos jogadoras e estou aqui apenas para trabalhar, o resto eles que comandam.

Gazeta Esportiva – Você é jogadora do Paris Saint-Germain e mora na França há mais de um ano. Como vê os atentados terroristas que ocorreram recentemente no país e são motivo de preocupação também no Brasil?
Erika – É muito triste. Hoje sou moradora da França e a primeira vez que vi um atentado fiquei completamente chocada. Até porque estou mais acostumada a tiros e desviar de balas aqui. Agora, quando um cara chega e explode ou atropela todo mundo, não estou habituada e fico assustada. São pessoas completamente diferentes. Aqui você sabe quem são os brasileiros e quem são outras pessoas como bolivianos ou japoneses, por exemplo. Na França você não sabe quem é quem, são todos iguais e todos de outros países. É uma mistura e você fica com medo disso. Espero que dê tudo certo para eles e que possam descobrir quem são essas pessoas para parar com essa maldade.

* Especial para a Gazeta Esportiva