Portas abertas à Seleção - Gazeta Esportiva
Bruno Ceccon
São Paulo, SP
05/21/2018 09:00:59
 

Na tentativa de alcançar a soberania mundial pela sexta vez, a Seleção Brasileira inicia a reta final da preparação para a Copa da Rússia na Granja Comary na manhã desta segunda-feira. O elenco armado por Tite para brigar pelo cetro de campeão conta com a torcida dos descendentes de Dom Pedro II e Dona Teresa Cristina, entre eles o príncipe Dom Gabriel José Gaspar de Orleans e Bragança.

Nascido no Rio de Janeiro, antiga capital do império, Dom Gabriel é sobrinho de Dom Luiz de Orleans e Bragança, atual herdeiro do trono extinto em 1889. O advogado de 37 anos, tetraneto de Dona Teresa Cristina, está orgulhoso pela presença da Seleção em Teresópolis, município batizado em homenagem à imperatriz consorte do Brasil até o fim da monarquia.

“É uma grande honra para toda a família, sem dúvida nenhuma, ter uma cidade com o nome de um antepassado, e Dona Teresa Cristina foi uma pessoa de grandes virtudes. Teresópolis é um lugar muito agradável, gostoso e tranquilo, de modo que me parece conveniente que a Seleção Brasileira tenha lá o seu QG (quartel-general)”, afirmou Dom Gabriel.

Radicado em São Paulo desde 2008, o príncipe integra a ala jovem da família imperial e estima ter mais do que 30 primos de primeiro grau, muitos deles profissionais liberais. Empregado de um renomado escritório de advocacia sediado no Itaim Bibi, ele recebeu a Gazeta Esportiva na sala de reuniões, com uma longa mesa de madeira e paredes envidraçadas que permitiam ver o trânsito caótico de uma sexta-feira à noite.

A tranquila Teresópolis, localizada na região serrana do Rio de Janeiro, recebe os jogadores convocados para o Mundial a partir de segunda-feira. Apenas o atacante Roberto Firmino, o volante Casemiro e o lateral esquerdo Marcelo, envolvidos na final da Copa dos Campeões, não participarão do período de treinamento na cidade nomeada como tributo à “Mãe dos Brasileiros”.

“Como nas Copas anteriores, espero que essa equipe tenha uma boa rotina de treinamentos em Teresópolis. Estamos todos nós, da família e do povo brasileiro, na expectativa de que neste ano a Seleção consiga novamente levantar o troféu de campeã do mundo. Como brasileiro, desejo o maior sucesso ao time”, declarou o príncipe.

Orgulhoso, Dom Gabriel contou que a família imperial, afastada do poder há mais de 125 anos, procura cultivar suas tradições, entre elas torcer pelo Fluminense Footbal Club, algo que ele pretende transmitir aos dois filhos pequenos. No técnico Tite, o tetraneto de Dom Pedro II, último imperador do Brasil, enxerga as características de um grande líder.

“É muito bacana ver o Brasil jogar hoje. Foi nítido: quando o Tite assumiu a Seleção, a mudança para o bem veio em pouquíssimo tempo. Percebemos que os jogadores todos têm admiração e respeito por ele. É isso que se espera de um líder. O líder de uma nação, da mesma forma, se espera que tenha respeito e admiração por parte da população”, comparou.

O príncipe chegou a estagiar no departamento jurídico do Fluminense e, como bom tricolor, elogiou Marcelo, formado nas categorias de base do clube. Ainda assim, questionado sobre a quem daria a coroa na Seleção Brasileira, não citou o astro do Real Madrid nem o atacante Neymar. “É difícil… Teria que ser o líder da equipe”, pensou, antes de arrematar. “A coroa vai para o Tite.”

O fã de Adenor Leonardo Bachi tinha apenas 12 anos em 1993, quando o Brasil realizou um plebiscito para determinar a forma e o sistema de governo do País – na ocasião, o regime monárquico (13,4% dos votos) acabou derrotado pelo republicano (86,6%). Cento e vinte e oito anos após o exílio de Dom Pedro II e Dona Teresa Cristina, a família imperial ainda defende a retomada do regime.

“Nossa bandeira sempre vai ser relacionada à volta da monarquia. É um movimento que tem crescido bastante, inclusive”, afirmou o príncipe, que costuma representar o tio, chefe da Casa Imperial, em eventos e solenidades. “É o momento de começar a aparecer essa atual geração. Eu e outros primos estamos em uma idade de maior amadurecimento, seja político, ideológico e econômico”, explicou.

O príncipe tem o hábito de se apresentar apenas como Gabriel e, “com muito gosto”, explica sua origem apenas quando indagado por pessoas que eventualmente reconhecem o sobrenome. Ele preferiu não entrar em detalhes ao falar sobre a “crise institucional” que vem marcando o 129º ano da República e manifestou confiança na possibilidade de ver o país “se soerguer diante de todos os problemas”’.

Para apostar na coroação de Tite e seus pupilos na Copa da Rússia, no entanto, Dom Gabriel José de Orleans e Bragança foi eloquente. “A Seleção é entrosada, e o Tite está com o time na mão. Tenho certeza de que esse Mundial será muito especial, de que os jogadores farão bonito e realmente mostrarão a força que nosso país tem no futebol”, declarou.