Pelé, uma palavra eterna - Gazeta Esportiva

05/12/2023 05:00:50
 

Por Rodrigo Matuck

Pelé. Antes, o apelido do maior jogador da história do futebol. Hoje, “que ou aquele que é fora do comum, que ou quem em virtude de sua qualidade, valor ou superioridade não pode ser igualado a nada ou a ninguém”. Depois de escrever o seu nome no topo da lista do esporte mais popular do planeta, Edson Arantes do Nascimento conseguiu se eternizar na língua portuguesa.

No dia 26 de abril de 2023, o Rei foi inserido na versão digital do dicionário Michaelis como verbete. As próximas versões impressas também serão atualizadas. A campanha para essa homenagem foi encabeçada pela Pelé Foundation, responsável por cuidar do patrimônio do ex-jogador após a sua morte, por meio de um abaixo-assinado que contou com mais de 125 mil assinaturas.

“É uma consagração de uma vida que transcende ou, pelo menos, estabeleceu o ápice, o máximo que o ser humano pode alcançar e construir em termos de profissão, em nível de excelência. Um motivo de orgulho infinito. Realmente, a consagração de um ser humano que se tornou referência para o mundo inteiro. É uma questão praticamente unânime, algo muito difícil nos dias de hoje. Um consenso universal é que ele é o melhor de todos. A referência máxima que um ser humano pode atingir em uma área específica”, disse Edinho, filho de Pelé, à Gazeta Esportiva.

Essa é apenas mais uma das inúmeras homenagens que Pelé recebeu nos últimos meses. Na visão do ex-goleiro, entretanto, essa pode ser classificada como uma das “mais importantes”.

“Além de perpetuar o seu nome e o seu legado, é uma homenagem acima do futebol, quase acima da razão. É um sentimento da humanidade, uma coisa que confirma. Uma das homenagens mais importantes e mais significativas em termos de o quanto isso vai refletir no futuro. Vai fazer com que ele seja lembrado”, disse o filho do Rei.

Edson Arantes do Nascimento faleceu no dia 29 de dezembro de 2022, aos 82 anos, por conta de complicações decorrentes de um câncer no cólon, descoberto em 2021.

Pelé tornou-se o maior ídolo e artilheiro da história do Santos, marcando época em um dos times mais vitoriosos do esporte. Ao lado de Pepe, Dorval, Coutinho e Mengálvio, conquistou seis Brasileiros, duas Libertadores, dois Mundiais e dez Paulistas, consagrando a “camisa 10” do clube alvinegro.

Além do Santos, Pelé colocou seu nome na história ao vestir a camisa da Seleção Brasileira. Com a amarelinha, conquistou três Copas do Mundo, em 1958, 1962 e 1970.

Em sua carreira, foram 1.283 gols marcados em 1.366 partidas disputadas, média de 0,94 por jogo.

Para o linguista e coordenador do Curso de Letras da Universidade Metropolitana de Santos (Unimes), Sandro Maio, os feitos do ex-jogador podem colocá-lo no patamar de herói nacional, ainda mais pelas dificuldades impostas pela sociedade.

“É engraçado lembrar que o próprio Pelé já tinha uma visão muito clara da dimensão de sua própria personalidade: era comum ele fazer a distinção entre Edson e Pelé. Por isso, a percepção de que a figura de Pelé já traz em si o elemento extraordinário. Ou seja, aquele que é capaz de superar os limites da força humana. Um herói, por excelência, como os antigos. Tanto que podemos pensar em Pelé como uma espécie de herói épico”, analisou, em entrevista à Gazeta Esportiva.

“Pelé é um desses homens que superam não só as dificuldades do esporte e dos feitos coletivos, mas também a capacidade de vencer e permanecer com protagonismo na sociedade brasileira. O que é absolutamente incomum por conta de nossa desigualdade e de nossa estrutura racista. O dicionário tem essa simbologia: fazer perdurar por meio da palavra, o que é fundamental em uma sociedade. Assim, a palavra Pelé, para nós, brasileiros, é eterna e atribui um valor raro. Ele é uma afirmação da nossa identidade”, completou Maio.

Pelé, infelizmente, não pôde ver o seu nome se transformar em verbete no dicionário, mas, segundo Edinho, a homenagem seria muito bem recebida pelo Rei.

“Tenho certeza que ele ficaria extremamente lisonjeado, feliz e orgulhoso. Ia ficar se achando. Sem dúvida, com todo mérito. Ele sempre foi um homem muito humilde e simples, mas também orgulhoso. Se dedicou muito para o seu país, para o futebol, para honrar todo amor e carinho. Ele ficaria muito feliz e grato”, finalizou.