O dono do GPS - Gazeta Esportiva
Tomás Rosolino
São Paulo (SP)
02/01/2019 08:01:03
 

“Pô, ia fazer jogo do Grêmio aqui em São Paulo, em todas as fotos aparecia o Ramiro”, contou Barzaghi, em conversa informal enquanto a reportagem voltava de um jogo em Itaquera, lembrando um dos motivos pelo qual Ramiro foi pedido por Fábio Carille. Ainda que exagerada, a impressão do fotógrafo era justa: na vitória gremista contra o Timão pelo Brasileiro do ano passado, em Itaquera, por exemplo, Ramiro estava em 18 das 70 fotos disponíveis na agência.

“Estou de papagaio de pirata em todas as fotos (risos). Cara, eu tenho como característica essa entrega, força física nos jogos, é o meu estilo de jogo”, comentou o jogador, que impressiona pelo mapa de calor registrado justamente no GPS (Sistema de Posicionamento Global, em inglês) dado pela comissão técnica a cada atleta, com o objetivo de monitorar o desempenho físico de cada um nos treinos e jogos.

A sigla, por sinal, é o mantra também dos seus primeiros passos por São Paulo, uma Porto Alegre “dez vezes maior”, nas palavras do próprio Ramiro. “Só no GPS para me achar”, assegurou o atleta, que se diz apreciador das possibilidades culturais e gastronômicas que a capital paulista pode lhe oferecer. Ainda sem tempo para desfrutá-las, porém, ele sabe que, para ter a paz necessária na hora de desbravar a metrópole, um bom Derby no sábado é fator preferencial.

Gazeta Esportiva – Como tem sido sua adaptação ao Corinthians neste primeiro mês?

Ramiro – Foi uma adaptação muito boa, fui muito bem recebido aqui no clube, funcionários, diretoria. Isso é importante porque a gente sabe que toda mudança gera um pouco de ansiedade, expectativa, até um pouco de nervosismo porque a gente não sabe como vai ser. Mas estou bem feliz, principalmente com a vitória no último jogo, que deu aquele alívio. Na cidade também estou bem instalado, já estou com minha namorada aqui, estou conhecendo aos poucos.

Gazeta Esportiva – E a adaptação em São Paulo, também vai bem?

Ramiro – Já estou morando em uma casa aqui, mas estamos só no GPS. Qualquer lugar que a gente vai a gente coloca no GPS e segue (risos).

Gazeta Esportiva – Essa história do GPS é meio que o motivo da entrevista. Um fotógrafo da Gazeta explicou que sempre que ia fazer jogo do Grêmio aqui em São Paulo, você aparecia em todas as fotos. Aqui está um exemplo, recortamos nove fotos de um jogo contra o Corinthians. Você não fez gol nem deu passe, mas está em vários…

Ramiro – (Risos). Estou de papagaio de pirata em todas as fotos (risos). Cara, eu tenho como característica essa entrega, força física nos jogos, é o meu estilo de jogo. Procuro sempre trabalhar dessa forma e durante o jogo também ajudar dessa forma. Cada um tem a sua função, um é o mais habilidoso, uma é o que marca, outro é o que joga. Eu procuro jogar dessa forma, me doando por todos os cantos do campo para ajudar.

Ramiro abriu um sorriso ao se ver em todas as fotos, aínda como gremista (Montagem sobre fotos de Djalma Vassão/Gazeta Press)

Gazeta Esportiva – Você sempre teve esse estilo de jogo, desde pequeno?

Ramiro – Sempre, sempre. Até por isso que acho que eu joguei por tantas posições. E onde eu me adaptava melhor, gostava mais, era centralizado, quando eu podia estar em contato com o jogo a todo momento. Tanto meia centralizado quanto volante, joguei em função dessa característica de estar dentro do jogo a todo momento.

Gazeta Esportiva – E o seu mapa de calor? Lá dá para ver que você aparece em qualquer canto também, não só no meio.

Ramiro – Falando do trabalho passado (no Grêmio), era uma conversa e o estilo de jogo que a gente tinha que, independentemente do jogador que estivesse na posição, um outro tinha que estar. Então, por exemplo, fiz uma jogada de ataque, acabo pelo lado esquerdo, retorno por ali e alguém retoma no meu setor. Talvez por isso eu apareça em tantos lugares, se foi um ataque de um meia eu posso estar suprindo, fechando o espaço dele, uma subida de um lateral e eu voltando na dele. Dessa forma que a gente trabalhava.

O mapa de calor do meio-campista no jogo de quarta, contra o Red Bull (Foto: Reprodução/FootStats)

Gazeta Esportiva – Falando sobre o que vem pela frente, como está a preparação para o Derby? Já sentiu a rivalidade?

Ramiro – Percebi que aqui é um pouco diferente de Porto Alegre. Aqui, por ter quatro, talvez dissipe um pouco mais, mas a gente percebe que Corinthians e Palmeiras têm uma rivalidade maior. Questão de diretoria, patrocínio, torcida mesmo. Já ficamos sabendo de algumas situações de jogador dentro de campo, clássico é clássico e a gente sente a importância, sim. Qualquer lugar do mundo tem uma importância diferente, tem um sabor especial.

Gazeta Esportiva – Consegue traçar um paralelo com o Gre-Nal?

Ramiro – A gente ouve muito falar, tinha muitos companheiros que já tinham jogado aqui e falavam como a rivalidade aqui era forte, em Minas, no Sul. E que aqui, por ser quatro, deveria ser menor, mas a gente percebe que não é. Que existe e tem bastante competitividade. Então vou ter a oportunidade de, de repente, estar participando do meu primeiro clássico. Espero estar participando bem.

Gazeta Esportiva – Já deu para ouvir alguma cobrança da torcida na rua?

Ramiro – Torcida, digamos assim, não consegui ter muito esse acesso porque estou mais em casa, não consegui interagir tanto. É mais pelos companheiros, diretoria, sabemos da importância que tem para o clube até por serem dois dos dois times que mais ganharam recentemente no futebol brasileiro, a gente vê a dimensão que é vencer em um jogo como esse.

Ramiro quer entender o modo de vida em São Paulo além de se adaptar ao Timão (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)

Gazeta Esportiva – Você tem essa vontade de conhecer mais a fundo São Paulo? Você disse na sua apresentação que qualquer profissional quer vir para cá, independentemente de ser jogador ou não.

Ramiro – Eu gosto bastante de entender a cultura do local em que estou vivendo, conhecer os hábitos. Até comentei com a minha família que aqui é a uma Porto Alegre dez vezes maior. Em determinadas proporções bem semelhante, tem bastante gente que gosta de comer churrasco aqui, por exemplo, lá no Sul isso é muito forte. O que eu vejo, tenho amigos da música que estão aqui, amigos que têm empresa que vêm a São Paulo fazer negócios. De uma forma ou outra, aqui é uma capital do país no sentido financeiro e produtivo.

Gazeta Esportiva – É um caminho que os esportistas querem seguir também? A gente vê nos esportes americanos, por exemplo, com o LeBron James se mudando para Los Angeles, onde tem mais opções fora de quadra para vivenciar. Acontece no futebol também?

Ramiro – Acontece. Por exemplo, no futebol não tenha dúvida de que a dimensão do que acontece em São Paulo é muito maior do que em outros estados. Tanto a parte boa quanto ruim. Era um risco e uma oportunidade que eu queria viver nesse mercado, a dimensão e até onde ele poderia me levar. É esse o motivo de São Paulo ser um centro do futebol.

Gazeta Esportiva – Mas o seu GPS ainda não rodou muito na cidade, né?

Ramiro – Estou mais por casa, conheci lugares mais próximos de casa, no decorrer do tempo eu vou aumentando meu leque de opções.

Gazeta Esportiva – Se ganhar o Derby, ganha mais um motivo?

Ramiro – É, vamos procurar depois do jogo, se der com uma vitória (risos), comemorar com meus amigos.