O craque "novato" - Gazeta Esportiva
Tomás Rosolino
São Paulo-SP
07/14/2017 06:01:00
 

O meia Rodriguinho já defendeu a camisa de seis clubes na carreira e jogou até nos Emirados Árabes Unidos, mas nunca viveu a fase pela qual passa no Corinthians. Grande destaque da equipe, convocado para a Seleção Brasileira e astro em uma final de campeonato, ele comentou, em um bate-papo de cerca de 20 minutos com a Gazeta Esportiva, como é se sentir um “novato” na profissão aos 29 anos de idade.

“Fazia tempo que eu não passava por isso, viu”, brincou o armador, reconhecendo a condição mesmo sendo um dos líderes do elenco e mais velho do que boa parte dos convocados pelo técnico Tite quando foi à Seleção, nos amistosos conta Argentina e Austrália, no começo de junho. Mostrando toda sua descontração para falar do bom momento que vive, atrapalhada apenas na hora de espantar os mosquitos que o incomodavam no CT Joaquim Grava, ele ainda explicou como tem sido lidar com a responsabilidade de ser o craque do líder do Campeonato Brasileiro.

Quase transferido ao Besiktas-TUR no início do ano, em negociação rejeitada pela direção mesmo com sua vontade de sair, que lhe rendeu uma renovação de contrato até o final de 2019, o camisa 26 corintiano assegura que nunca mais pensou no assunto nem se arrependeu por ficar no Alvinegro. Para ele, a boa fase e o bom futebol do Timão fazem com que sua cabeça só pense em mais títulos pelo clube e, quem sabe, em uma “surreal” convocação para disputar a Copa do Mundo de 2018.

“Poder realizar esse sonho, brigar lá. Seria… Não tenho nem uma palavra para dizer. Pode ser até “surreal”. Não sei, mas é algo que eu vou trabalhar muito para conseguir”, comentou Rodriguinho, que confia na ajuda de uma boa performance coletiva do time para superar Diego e Lucas Lima, destaques dos rivais corintianos na briga pelo hepta, Flamengo e Santos, e adversários pessoais na briga por uma passagem à Rússia na metade do ano que vem.

Rodriguinho mostra muita animação ao tratar do bom momento da equipe e das idas à Seleção (Foto: Djalma Vassão/Gazeta Press)

Gazeta Esportiva – Você foi um jogador útil no Brasileiro de 2015, virou titular no ano passado e hoje é o principal nome do Corinthians, jogador de Seleção Brasileira. É diferente jogar com essa pressão?

Rodriguinho – Não levo isso aí como pressão, não. Pelo contrário. Pelo momento, que está sendo bom nesse ano, eu divido a responsabilidade com outros jogadores experientes que a gente tem no grupo: Jô, Jadson, Cássio, Fagner. A equipe como um todo está sendo uma engrenagem muito certinha. Está dando confiança para a gente jogar. Isso aí me motiva que a gente possa estender por mais tempo.

Gazeta Esportiva – Tem sido mais difícil se livrar da marcação? Todo mundo deve estar de olho em você…

Rodriguinho – São coisas que a gente tem que lidar. Assim como a gente estuda as outras equipes, eles fazem o mesmo com a gente. Todo mundo estuda, recebe vídeos. Quando a gente se destaca um pouco mais é normal que a gente seja mais bem marcado, que o adversário repare mais em você. É algo natural.

Gazeta Esportiva – Em algum momento você se arrependeu de não ter saído (o atleta teve proposta do Besiktas-TUR, em janeiro, mas a diretoria recusou)? Ficou pensando em como poderia ser sua vida lá fora?

Rodriguinho – Não, até pelo fato de o time estar ajudando muito, ter conseguido ser campeão paulista, começamos o Brasileiro muito bem.

Gazeta Esportiva – Nem nas derrotas? Na eliminação para o Inter, quando você não bateu o pênalti?

Rodriguinho – Não, não, isso não passou pela minha cabeça. Foram poucas derrotas nesse ano (risos), então estava difícil de ter um sentimento como esse. Até por a gente ter um ambiente tão bom de trabalho como esse, isso aí ajuda a tomar uma decisão importante. Facilita para que você não se arrependa.

Armador perdeu um gol e não bateu pênalti na eliminação frente ao Inter (Foto: Djalma Vassão/Gazeta Press)

Gazeta Esportiva – Mas aquela eliminação para o Internacional foi o que te deixou mais triste?

Rodriguinho – Fiquei muito chateado, principalmente pelo fato de a nossa equipe ter jogado muito bem dentro de casa. Podíamos ter ganhado já fora e aqui, se não me engano, tivemos umas quatro oportunidades de gol claras. Eu tive uma, o Jô umas duas, o Clayton uma. Então, se a gente tivesse sido efetivo naquele dia, a gente teria ganhado o jogo e classificado de uma forma boa. Mas já teve que virar muio rápido a página para jogar a semifinal do Paulista.

Nota da Redação – O Timão empatou os dois jogos por 1 a 1 contra os gaúchos e perdeu por 4 a 3 nos pênaltis, em Itaquera, caindo na quarta fase da Copa do Brasil.

Gazeta Esportiva – E como o time se recuperou tão rapidamente para jogar as semifinais e as finais do Paulista?

Rodriguinho – É, então, tem males que vem para o bem. Sendo eliminado naquela fase a gente conseguiu se focar na disputa do Paulista, que já estava no final, conseguimos ganhar o título, passamos na Sul-Americana. Viramos a chave muio rapidamente e conseguimos levar para esse lado, de ter mais tempo para se preparar nas decisões.

Gazeta Esportiva – E desde então o time soma 13 vitórias e quatro empates. Já são 27 jogos sem perder. Como tem feito tudo isso?

Rodriguinho – Eu acho que o maior segredo dessa nossa equipe é a humildade de estar focado, não só pelo pensamento de pensar jogo a jogo, mas de manter a cabeça no lugar e os pés no chão. A gente busca se dedicar ao máximo para o próximo jogo. Assim como nós fizemos contra a Ponte. Conversamos e falamos: “Vamos focar ao máximo na Ponte e só depois começamos a falar do Palmeiras”. Mesmo sendo um clássico. É assim que a gente vai buscar fazer sempre.

Gazeta Esportiva – Hoje você consegue dizer que vai terminar o Brasileiro no Corinthians?

Rodriguinho – Consigo dizer, sim. Por dois fatores: um é que não apareceu nada ainda (risos), e, se aparecer, teria que ser algo realmente muito bom, que fosse suficiente para o Corinthians e bom para mim. Tem o fato de a equipe estar muito bem também. Estamos dando sequência e queremos continuar nesse ritmo.

Gazeta Esportiva – E o outro?

Rodriguinho – O outro fator é pela vontade também de continuar representando a Seleção, se eu tiver a oportunidade. Já como eu estou adaptado aqui e a equipe está ajudando muito, facilita o trabalho. Se você tiver de sair para um lugar, corre o risco de perder um tempo para a adaptação e atrapalhar um plano futuro.

Gazeta Esportiva – Como foi, aos 29 anos, ser um novato na Seleção?

Rodriguinho – Fazia tempo que eu não me sentia um novato (risos). Foi legal… O começo é difícil porque a gente passa algumas vergonhas, alguns trotezinhos (sic), mas foi um momento de privilégio, de sonho realizado, trabalho reconhecido. Espero continuar na pegada para voltar outras vezes e estar sempre buscando para estar lá sempre. Me deu mais ambição de manter uma boa performance e seguir indo para lá.

Gazeta Esportiva – O Tite já disse que os seus rivais pela vaga são, principalmente, o Diego e o Lucas Lima, que defendem dois adversários diretos na briga pelo título. Acha que a boa campanha do Corinhians contra Flamengo e Santos pode ser um diferencial para você ser convocado?

Rodriguinho – Lógico que ajuda o seu time estar bem, mas tem mais a performance individual. Não adianta o Corinthians estar bem e eu não, aí ele não vai me convocar. O Tite sempre falou que a performance que você tiver no seu clube é a que vai ter levar para a Seleção. Tenho que estar bem, ajudando meus companheiros, mantendo um nível de competitividade alto para ser chamado mais vezes.

Gazeta Esportiva – Você acha que vai para a Copa do Mundo na Rússia?

Rodriguinho – Olha, espero que sim (risos). Vou trabalhar e me dedicar cada vez mais para poder realizar esse sonho, brigar lá. Seria… Não tenho nem uma palavra para dizer. Pode ser até “surreal”. Não sei, mas é algo que eu vou trabalhar muito para conseguir.

Gazeta Esportiva – E no Brasileiro, quem são os principais adversários?

Rodriguinho – É difícil falar porque está meio embolado. Flamengo parece que está se desenhando para brigar, o próprio Palmeiras, atual campeão, Grêmio, muio bom, competitivo, forte em casa. São esses que eu me lembro agora.