“Não vai cair” - Gazeta Esportiva
Tiago Salazar e José Victor Ligero
São Paulo - SP
09/07/2017 09:00:50
 

Dorival Júnior assumiu o São Paulo no 19° e penúltimo lugar. Dois meses depois, com três vitórias, três empates e quatro derrotas, o clube ocupa exatamente a mesma posição na tabela de classificação do Campeonato Brasileiro. O momento é preocupante, mas nada tira a convicção do sucessor de Rogério Ceni no cargo. Em entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva, Dorival Júnior é enfático quando questionado sobre a luta contra o rebaixamento à Série B.

“Não vai cair, porque tem seriedade no trabalho, tem dignidade aqui dentro, tem profissionais de altíssimo nível e pessoas interessadas”, garante o treinador, acostumado a encarar esse tipo de desafio, como foi nos casos de Fluminense, Vasco, Palmeiras e Santos, por exemplo.

Apesar do pouco tempo no comando da equipe tricolor, Dorival já tem problemas de sobra para resolver e algumas polêmicas para explicar. Na entrevista, ele admite que o camisa 10 do time, o peruano Cueva, deve ir para o banco de reservas, deixa claro que o afastamento de Cícero pouco teve relação com a comissão técnica e ainda comenta suas escolhas por Militão e Sidão.

Gazeta Esportiva – Como você avalia esses dois primeiros meses à frente do São Paulo e por que trocou o traje esportivo pelo social nos jogos?

Dorival Júnior – Uma mudança em razão de um patrocinador sério (Aramis). Pessoas que estão interessadas realmente. Acho que é legal, um processo apenas, uma melhoria. Você não muda a essência e isso que é importante.

Dois meses passados, as primeiras três semanas de treinamentos. Já vi uma evolução muito boa na partida contra o Palmeiras, fizemos uma partida muito segura com o Avaí, fizemos um jogo não tão bom contra o Cruzeiro. O resultado com o Palmeiras encobre um pouco aquilo que a equipe tenha conseguido evoluir neste processo, temos de ter essa tranquilidade de encontrar esse caminho, eu não tenho dúvidas que daqui a pouco as coisas vão acontecer de forma mais natural, porque elas ainda estão acontecendo de uma maneira um pouquinho forçada, o que não é bom principalmente num momento como esse que estamos vivendo. Mas não temos de ter aquela preocupação excessiva, mas naturalmente que tem incomodado bastante, ainda assim acredito muito por aquilo que esteja observando dentro do clube, o comportamento de todos e o interesse de saírem dessa situação.

Gazeta Esportiva – Por que o São Paulo está passando por esta situação?

Dorival Júnior – É difícil. Muitas coisas aconteceram com o São Paulo nos últimos anos. Querendo ou não, isso acaba desarticulando um pouco o trabalho. Não é normal um clube como o São Paulo, que sempre foi uma referência, ter tido um número de treinadores que teve, passando pelos momentos que passou, deixando de brigar como sempre brigou nos campeonatos. É um processo que todo clube tenha vivido, aconteceu isso com o Palmeiras, Corinthians, o Santos passou um tempo sem disputar campeonato. Espero que o São Paulo possa estar deixando esse momento para trás, primeiro buscando uma recuperação no Brasileiro, mas começando a preparar daqui a pouco para 2018.

Gazeta Esportiva – Quando você assumiu o São Paulo, em termos emocionais e táticos, a situação estava mais feia do que imaginava?

Dorival Júnior – Isso sempre vai servir como justificativa e não gosto de agir desta maneira. Você tem de ter conhecimento daquilo que esteja assumindo. Naturalmente não o conhecimento total, mas a partir daí você passa a se responsabilizar. Jamais começaria a atirar flechas porque depois de 10 jogos as coisas não estejam acontecendo como gostaríamos. A partir do instante em que você assume uma condição, tem de ter conhecimento daquilo que esteja recebendo nas mãos. Natural que terá uma percepção muito maior a partir do momento em que esteja convivendo, que é o que tem acontecido, mas jamais você vai sentir ou perceber que eu esteja pontuando situações que tenha observado ou encontrado e, dentro disso, querer justificar o momento do clube. Respeito muito os profissionais que passaram pelos clubes anteriores a minha chegada. Problemas todos têm, senão não teriam ocorrido mudanças. Cabe a quem esteja chegando ter essa condição de trabalhar para reverter esse quadro. Às vezes acontece rapidamente, às vezes não. Você precisa ter essa paciência de poder encontrar o caminho.

Gazeta Esportiva – Com você no comando, o São Paulo sofreu 19 gols em dez jogos. O time vai fechar a “casinha” para os próximos jogos?

Dorival Júnior – Toda a preocupação que nós temos é justamente isto: tentar acertar o nosso sistema defensivo. A grande maioria dos nossos trabalhos foi voltada para isso. A cada semana estamos tentando uma colocação nova, que é para ver se encontramos esse caminho. Não é normal um time tomar o número de gols que tomamos, e isso é uma realidade, temos de aceitá-la e trabalhar para que isso diminua. Em apenas uma partida saímos sem que tomássemos gols (vitória sobre o Vasco). Já tivemos que reverter resultados muito difíceis de acontecerem em outros momentos. O time mostrou que tem esse poder de reação, coisa que era questionável até então.

Queira ou não alguns detalhes importantes em momentos oportunos não nos favoreceram. Foram detalhes que trabalharam contra a nossa equipe e a favor das equipes adversárias. Talvez se, nesses momentos um ou outro desses detalhes estivessem ao nosso lado, estaríamos numa condição um pouco melhor nesse momento. Em nenhuma dessas derrotas fomos inferiores aos nossos adversários a ponto de merecermos derrotas. Concordo também que uma ou outra vitória não tenha tido esse merecimento todo, mas haveria um equilíbrio um pouco melhor e o número de derrotas um pouco menor.

Por questão comercial, Dorival Júnior trocou abrigo esportivo por traje formal nos jogos do São Paulo (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)

Gazeta Esportiva – O São Paulo tem convivido com muitos problemas pela direita de sua defesa. Contra o Palmeiras, foram três gols sofridos em que a jogada se deu por ali, onde estava o Buffarini. Você tem testado o Militão no setor…

Dorival Júnior – É uma possibilidade que eu estou vendo, o Militão tem uma ótima característica. Quando eu coloquei o Militão no lugar do Jucilei, em termos de consistência, de marcação, o time ganhou muito. É que ele foi infeliz em algumas entregas de bola e para um volante isso tem um peso muito grande. É um jogador que me passa confiança, tem uma força de marcação muito boa e, de repente, encontremos um caminho. O Buffarini não pode ser culpado de lance nenhum e futebol é coletivo. Futebol você não pode fazer questionamentos individuais.

Gazeta Esportiva – De novo você encara o desafio de assumir um time na parte de baixo da tabela. É sempre um risco grande. Você pensa, no futuro, em reajustar o rumo da sua carreira e programar um início de trabalho do zero?

Dorival Júnior – Não, não penso. No Brasil não dá para você fazer isso. Você não tem o que pensar. O que eu pensei quando assumi o Santos é que eu teria duas, três semanas de trabalho e conhecia muitos dos jogadores que ali estavam e vários já tinham trabalhado comigo. No São Paulo, eu teria oito jogos e essas semanas de trabalho. E é natural que me abriria uma possibilidade de um ajuste da própria equipe.

Com relação a carreira, eu sou muito feliz com a minha carreira, tenho dez, 11 conquistas de campeonatos e sempre montando as minhas equipes, nunca peguei um trabalho pronto, sempre falo isso. Poucas foram as vezes que eu tenha pego um trabalho já iniciado, foi o caso do Santos, que nós tivemos que refazer a equipe, estava em zona de rebaixamento. Mas assim aconteceu com o Atlético-MG, que vivia 24 rodadas em zona de rebaixamento, assim foi com o Flamengo, assim foi com o Vasco…E a grande maioria dos resultados foram alcançados.

O São Paulo foi um fato diferentes porque muitos jogadores ainda estavam chegando ao grupo. Quando eu cheguei, nós tínhamos jogadores chegando há 20 dias. É uma equipe que está sendo formada dentro da competição. É natural que você vá pagar um preço mais alto, mas nós vamos encontrar um caminho, não tenho dúvida disso. Eu não tenho receio.

Gazeta Esportiva – Com o Cueva em má fase, o Lucas Fernandes vai ter a chance dele? Até quando a situação do São Paulo pode esperar o Cueva voltar a ser o que ele foi no passado?

Dorival Júnior – Tem duas situações. Primeiro, o crescimento do Lucas e a busca por um espaço. Segundo, não que especificamente seja na função do Cueva, mas é um jogador que está pedindo uma passagem. Fatalmente terá uma oportunidade. O Cueva é um jogador importante, sim. Precisa melhorar e ele tem consciência disso, todos sabemos e estamos interessados. Jamais vou abrir mão de um jogador como o Cueva, mesmo que entenda que ele não viva um bom momento, mas é muito importante para o elenco. Recuperado, ele fatalmente vai acrescentar e muito ao São Paulo.

Gazeta Esportiva – O Lucas Fernandes vai ser titular contra a Ponte Preta, então?

Dorival Júnior – Nós temos definido. Possivelmente (risos).

Gazeta Esportiva – Em que posição exatamente o Lucas Fernandes poderá ser utilizado e como ele vai cumprir com as obrigações defensivas?

Dorival Júnior – O Lucas tem um dos melhores condicionamentos físicos da equipe. Jogar pelo lado é apenas uma posição inicial. O próprio Cueva tem toda a liberdade. Não o quero aberto no lado de campo, quero que flutue jogando com a inteligente que possui, e principalmente na função que ele gosta de executar. Com o Lucas é a mesma coisa. Um posicionamento inicial é necessário, mas jamais vou querer um jogador com a capacidade que eles têm de definição, de último passe, fora do seu habitat, de sua área de atuação. É uma condição que o próprio atleta vai encontrar.

Com três vitórias, três empates e quatro derrotas, Dorival tem aproveitamento de 40% à frente do São Paulo (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)

Gazeta Esportiva – Por que o Cueva arrebenta nos treinos, mas não consegue repetir o mesmo desempenho nos jogos?

Dorival Júnior – É difícil de entender e de explicar. Espero que consigamos encontrar um caminho e que ele passe a desenvolver sua melhor condição e que a equipe dê essa possibilidade ao Cueva. Às vezes não é só atleta, mas a própria equipe também tem de facilitar para que o atleta possa desenvolver sua melhor condição. Tem que haver esse equilíbrio, esse encaixe. É isso o que nós buscamos. Por isso, o futebol te faz ter um quebra-cabeças nas mãos. É onde você tem de buscar peças que se encaixem e que produzem dentro de uma boa dinâmica.

Gazeta Esportiva – Após a partida contra o Cruzeiro, você disse que o Jucilei não havia deixado de ser titular e queria mostrar a ele algumas coisas. O Jucilei entendeu o recado?

Dorival Júnior – Entendeu. Uma preocupação maior, uma intensidade maior, querendo cumprir uma função. É necessário que todos cumpram uma função em campo. Os grandes jogadores fazem isso. O Jucilei tem, sim, que pensar futuramente, não só na titularidade do clube em que esteja, mas acima de tudo numa Seleção Brasileira. Por que não? Ele está percebendo que, em determinados aspectos, precisa de uma mudança, e tem trabalhado muito para isso. Saiu do time, um fato natural, uma opção tática, como foi no caso, e ele sentiu o motivo, fui muito claro com ele. Procuro colocar ao jogador sobre o que está acontecendo, e eu deixo as tomadas de decisões para os próprios. Participo alertando, mostrando, tentando uma correção, incentivando nos momentos em que estejam corretos, mas preciso que, em contrapartida, exista um retorno. E foi isso que eu tentei falar. O Jucilei em momento nenhum deixou de ser titular, mas é natural que uma função diferente do que vinha sendo desenvolvida era necessária, e espero que ele continue assim.

Gazeta Esportiva – Depois que assumiu a titularidade no gol, o Sidão apresentou falhas, mais com os pés, que por pouco não resultaram em gols do time adversários – no caso, Avaí e Palmeiras. Por que a saída do Renan Ribeiro?

Dorival – Eu falei para o Renan que não estava acontecendo o que eu queria ver. Não me sentia confortável em ver o que estava acontecendo. Em todos os jogos acabávamos tomando gols. Os questionamentos que estão acontecendo com o Sidão no momento foram com jogadas com os pés, não com as mãos. Isso eu computo muito em razão do período de inatividade dele. Temos de dar um tempo também. Se o Sidão veio para cá solicitado por um especialista da função, um dos grandes goleiros do país, como o Rogério, não é por acaso. É um jogador que tem capacidade, tenho que pecar às vezes pelo excesso, não pela omissão. É uma situação que não vinha me agradando, falei para o Renan. Foi isso que o fez entrar na equipe do Atlético-MG um tempo atrás, fui eu que lancei o Renan, eu o conheci muito bem, sabia o que ele podia fazer e o que não podia. Vinham acontecendo alguns gols que não vinham me agradando. A posição foi essa.

Gazeta Esportiva – O afastamento do Cícero causou surpresa em todos. A informação é que a decisão não foi tomada por problemas dele com o elenco e que você teria pouca influência nela…

Dorival – Nós (comissão técnica) nunca tivemos nenhum problema com ninguém. Quando falo em tomada de decisão, eu jamais vou me omitir. Se a decisão tomada após a minha chegada, se eu tive 1 ou 99% de participação, não importa. O que importa é que no momento em que tomamos a decisão, eu passo a ter metade da responsabilidade e a diretoria a outra metade. Alguma coisa deve ter acontecido. Quando você pode explicitar, é natural que você fale. Quando não, prefiro não abrir nada.

Gazeta Esportiva – Como você vê a situação do Lugano, que ainda não jogou com você. Ele está abaixo dos demais?

Dorival – Eu jamais vou comentar alguma coisa individualmente sobre algum atleta. Eu trabalhei com todos eles ao longo das duas semanas e vou tomar uma posição até amanhã, naturalmente. Trabalhei com Bruno (Alves), trabalhei com Aderlan, trabalhei com Lugano. Tomo uma posição amanhã, vou perceber uma posição com o Rodrigo (Caio) e amanhã eu defino a equipe.

Auxiliado pelo filho Lucas Silvestre, Dorival Júnior mudou o esquema de jogo do 4-2-3-1 para o 4-1-4-1 (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)

Gazeta Esportiva – Você e o Lucas Silvestre (auxiliar e filho) tiveram alguns problemas com os auxiliares da comissão permanente do Santos. Quando você chegou ao São Paulo, o Pintado deixou o clube. Foi um pedido seu?

Dorival – Não. O problema do Santos foi comigo, e com mais ninguém. Eu percebi uma situação ou outra que não vinha me agradando e houve uma tomada de posição sem desrespeito ao profissional que lá estava. Quando eu comecei a conversar com o Vinicius (Pinotti), sem ter acertado nenhuma situação, eu apenas disse que eu queria uma comissão enxuta, que trabalhasse no campo e fosse especificamente dentro daquilo que nós estávamos observando e fizemos, porque quando nós tivemos uma comissão enxuta dentro do Santos os resultados aconteciam.

É natural que cada clube tenha seu momento, sua situação, seu histórico, e eu respeito todos, mas eu vou sempre procurar trabalhar com um grupo enxuto dentro das possibilidades que me convém. Não pedi a saída do Pintado, ao contrário, acho que foi oferecido uma condição dele trabalhar entre a base e o profissional, não sei se não houve o aceite, enfim, mas jamais ele foi desrespeitado, ele tem uma história dentro do clube. Foi apenas uma colocação minha anterior a minha contratação, sem saber quem ficaria ou não. A própria diretoria me colocou que algumas posições seriam tomadas antes da nossa chegada. Coube a diretoria algumas posições, não foi o caso do Pintado.

Gazeta Esportiva – Recentemente vimos Lucas Pratto e Petros falando sobre comportamento fora de campo e comprometimento nesse momento delicado do São Paulo. Mesmo assim, alguns jogadores já foram fotografados em festas noturnas. Você já precisou ter alguma conversa com o elenco nesse sentido?

Dorival – Eu dificilmente abordo esse tipo de assunto, não me preocupo muito com isso. Eu quero ver um comprometimento aqui dentro. Eu prezo muito pelo lado profissional e, caso aconteça um fato ou outro que você tome conhecimento, é natural que o jogador será chamado para esclarecimento. Do contrário, sinceramente, eu não me envolvo muito, porque nossas preocupações já são muito grandes e você tem de estar focado.

Gazeta Esportiva – Depois de treinar tantos clubes da Série A, a estrutura do São Paulo é diferente de tudo que você já viu?

Dorival – Tudo o que o São Paulo proporciona aos seus profissionais é uma coisa que impressiona. Eu não tinha visto ainda em nenhuma dos clubes que eu trabalhei.

Gazeta Esportiva – Por que o São Paulo não vai cair?

Dorival – Não vai cair porque tem seriedade no trabalho, tem dignidade aqui dentro, tem profissionais de altíssimo nível, tem pessoas interessadas, pessoas que estão muito focadas e vivendo o dia a dia do clube e, quando isso acontece, pode ter certeza que às vezes demora, você dá algumas voltas, mas você encontra um caminho.

Gazeta Esportiva – Você garante para a torcida que o time não cai?

Dorival – Eu tenho certeza, pelo trabalho que tem sido desenvolvido.

Amante da ofensividade, Dorival tem enfrentado problemas defensivos no São Paulo, quarto time mais vazado no Brasileiro, com 33 gols sofridos (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)

Gazeta Esportiva – Como você está lidando com toda essa pressão por resultados?

Dorival – Você tem de ser comedido, saber diferenciar os resultados que sejam ou não alcançados, tem que ter um ponto de equilíbrio, não adianta você estar envolvido com esse movimento externo. Você tem de estar preocupado em estar melhorando e acreditar no trabalho que está sendo desenvolvido. E eu acredito piamente que encontraremos um caminho e estamos muito próximos disso. Não estamos longe disso. Agora, muitas coisas aconteceram com o São Paulo esse ano, como muitas coisas aconteceram com o Internacional e, de repente, as pessoas não percebem e quando despertam já é tarde. E o São Paulo está desperto há muito tempo, por isso eu não tenho dúvida que nós vamos tentar o máximo possível para que evitemos essa situação.

Gazeta Esportiva – Você tem acompanhado o trabalho do Tite na Seleção Brasileira?

Dorival – É um trabalho de resgate acima de tudo. Tite é hoje um dos melhores treinadores do futebol mundial, um cara que se preparou muito, tem mais de 20 anos de carreira consolidado, não só de campeonatos, mas de grandes trabalhos. Ás vezes as pessoas ignoram os grandes trabalhos, às vezes avaliam só os títulos conquistados, e não é assim. Pelo menos nós (treinadores) vemos muito por esse lado.

Gazeta Esportiva – Faltou a você promover um pouco mais seus trabalhos para a avaliação não ficar em cima apenas de títulos?

Dorival – Não, eu não me preocupo muito com isso, não. Me preocupo muito mais com o desenvolvimento de um trabalho. Me preocupo com um ano como o de 2011, por exemplo, que eu vi duas equipes que eu trabalhei em 08 (Coritiba) e 09 (Vasco) jogando as finais da Copa do Brasil com cinco jogadores que haviam iniciado a montagem naquele ano, em 08 e 09. E a terceira equipe (Santos), que eu trabalhei em 2010, jogando a final da Libertadores com dez jogadores que estavam comigo há uns meses atrás. Isso para mim é prazeroso.

Gazeta Esportiva – O Santos não figurava sequer no G4 há quase cinco anos, mas a lembrança de muitos foi o jogo contra o Coritiba em que você escalou os reservas por causa da Copa do Brasil e o time acabou deixando o pelotão de cima.

Dorival – Infelizmente, no Brasil é assim. Nós vivemos em um país onde a falta de memória aparece quando necessário. A memória é valorizada quando intencionalmente as pessoas precisam daquele detalhe. Agora, quando não precisam, esquecem muito rapidamente e aí direcionam para aquilo que eles querem.

Nós estávamos decidindo uma Copa do Brasil na quarta-feira seguinte e jogávamos em um domingo, onde sábado de manhã, após um treinamento tático, os próprios jogadores encostaram, aliás era a 12ª partida com muita chuva, muita lama, e jogaríamos também com o Coritiba debaixo de um pé d’água. E jogaríamos na quarta-feira a decisão da Copa do Brasil.

É assim, se nós tivéssemos ganho a segunda partida contra o Palmeiras, que houve uma mudança de data, enfim, ninguém falaria nada. Aí o Dorival seria até exaltado, coisa que eu nunca quis. Mas, aquela equipe que estava na zona de rebaixamento estava disputando a final da Copa do Brasil. Isso aí ninguém se lembrou. Apenas se lembraram que eu coloquei uma equipe mista em Coritiba. Então, é assim. É o futebol brasileiro, os detalhes são importantes quando lhe convém. Eu acho que você sair e ver uma equipe toda ela supervalorizada, jogador que estava prestes a ser entregue de graça sendo vendido, o Gabigol, por 30 milhões de euros, e um jogador como o Zeca, que estava para ser emprestado, alguns meses depois sendo campeão olímpico e valer o que ele vale hoje no mercado… Isso é prazeroso para qualquer profissional, mostra que pelo menos alguma coisa de bom a gente tem.