Croácia verde e amarela - Gazeta Esportiva
Marcelo Baseggio
Rijeka e Split, Croácia
09/18/2018 09:00:30
 

Um é de Colorado do Oeste, interior de Rondônia. O outro, de Cantagalo, pequena cidade do estado do Rio de Janeiro. Os atacantes Heber, do Rijeka, e Jairo, do Hajduk Split, tiveram de cruzar o Atlântico para, enfim, despontarem no futebol. Sem se esquecerem do Brasil, os dois jogadores vêm fazendo sucesso na Croácia, país que se sagrou vice-campeão do mundo em 2018 e dono de uma das ligas de maior visibilidade na Europa.

Do mesmo campeonato que Heber e Jairo disputam saíram nomes como Luka Modric, Mario Mandzukic, Sime Vrsaljko e Dejan Lovren, todos vice-campeões do mundo na Rússia e estrelas em seus respectivos clubes. Hoje, não é exagero algum dizer que parte da atenção das principais equipes europeias está voltada para a liga croata. E é justamente esse um dos motivos pelos quais os dois atacantes brasileiros resolveram se transferir para o país banhado pelo Mar Adriático.

“O campeonato é muito bom, tem bastante visibilidade, não é chato de assistir, porque o tempo todo a bola não para, todos os times tentam jogar, não é aquela coisa de um time ficar lá atrás. O país é sem comentários. Tanto é que uma das séries mais famosas do momento foram gravadas aqui, que é o Game of Thrones. Temos lugares fantásticos, clima maravilhoso, então, para mim, como brasileiro, isso é um ponto muito alto. Muito feliz de ficar aqui, minha família também gostou muito. Para mim, isso é o mais importante”, disse Jairo, atacante do Hajduk Split, segundo maior clube da Croácia.

“É uma liga muito boa, porque é uma porta de entrada para outros lugares da Europa. É uma liga que vende muito, há bastante negociações. Em todas as janelas saem cinco, seis, sete jogadores para grandes ligas”, completou Heber, camisa 9 do Rijeka e eleito o melhor jogador do campeonato croata na temporada passada, além de terminar a competição como vice-artilheiro.

Apesar das escolhas semelhantes, Jairo e Heber trilharam caminhos bem diferentes no futebol. O primeiro praticamente não jogou no Brasil como profissional, entrando em campo pelo Madureira pouquíssimas vezes antes de ser comprado pelo Trencin, da Eslováquia. De lá, foi para o Paok, da Grécia, e, posteriormente, emprestado ao PAS Giannina, do mesmo país, e ao Sheriff, da Moldávia, antes de desembarcar em Split. Acostumado com o Rio de Janeiro, Jairo teve de se desdobrar para conseguir se comunicar por onde jogou.

“Foi tudo na marra, o inglês que eu sabia era de videogame, de clipes que eu gostava de assistir legendados. Mas, não demorou muito. Com seis meses de Eslováquia me vi na necessidade de aprender. Tinha um brasileiro que me ajudava, mas não era muito bom no inglês. Com seis meses já conseguia entender bastante, falar nem tanto. Depois de um ano e meio já conseguia conversar tranquilo e depois disso só foi melhorando”, lembrou Jairo.

Heber, por sua vez, teve uma pitada maior de sorte. Vindo de Rondônia, distante de qualquer grande centro do futebol, o atacante foi “apadrinhado” por um empresário que tinha o desejo de montar um clube. O projeto não durou muito, mas foi suficiente para que o atacante pudesse realizar seu maior sonho.

De origem humilde e apostando no futebol como único meio possível para ascender socialmente, os dois não escondem que o maior objetivo que possuem é continuar melhorando a vida de suas respectivas famílias. Apesar de seus pais preferirem permanecer ondem sempre moraram, recusando o luxo que muitos almejam, Jairo e Heber não se arrependem de todos os sacrifícios aos quais se sujeitaram para dar uma vida mais digna aos seus parentes.

“A primeira coisa que todo jogador sonha é dar uma casa para a mãe. Hoje moro em Porto Alegre, minha mulher é de lá, também gosto da cidade, decidi morar lá. Ofereci para a minha mãe uma casa lá, queria tirar minha mãe de lá [Cantagalo], hoje está um pouco mais perigoso, estão limpando o Rio e esquecendo das cidades pequenas. Ofereci essa oportunidade para ela, mas ela gosta muito de lá, não quer sair de lá. Hoje o que eu faço é ajudá-la a renovar a casa dela, está tudo melhor. Me sinto muito orgulhoso disso e assim que ela quiser mudar de lá ela vai ter essa condição, graças a mim e ao futebol”, revelou Jairo.

“Se não fosse o futebol, não sei como minha família estaria hoje. Através do futebol, pude dar uma casa para os meus pais. Quando ganhei meu primeiro dinheiro, foi isso o que eu fiz. Me sinto muito honrado disso também, sei que eles sentem muito orgulho de mim. Por isso que eu não paro, estou sempre buscando mais e mais. É por eles que estou aqui hoje”, concluiu Heber.



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