Ofuscada por All Blacks, melhor do rúgbi empolga clã por chance nos Jogos - Gazeta Esportiva
André Sender
Barueri
02/22/2016 10:00:44
 

Uma das novidades dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016 será a disputa do rúgbi, modalidade ausente do programa da competição desde 1924. Favorita à medalha de ouro, a seleção feminina da Nova Zelândia é liderada por Portia Woodman, atleta que conta os dias para as Olimpíadas e tem certeza que é mais famosa no Brasil do que em seu país.

Portia recebeu o prêmio de melhor jogadora do mundo do rúgbi de sete, versão olímpica da modalidade, pela federação internacional do esporte em 2015. Mas isso não lhe garantiu fama na Nova Zelândia, onde as principais atenções estão voltadas para a equipe masculina, os famosos All Blacks. Isso apesar do grande sucesso do time guiado pela jogadora cuja família faz parte da história da modalidade.

A Nova Zelândia venceu as três edições já realizadas do Circuito Mundial feminino de rúgbi de sete, que a Seleção Brasileira também joga como parte de sua preparação para as Olimpíadas. Foi em etapas da competição que Portia conheceu o Brasil e se impressionou como sua barulhenta torcida, como explica nesta entrevista à Gazeta Esportiva.

A experiência nas etapas nacionais do Circuito Mundial aumentou a expectativa de Portia para jogar as Olimpíadas, uma chance que seu pai, mãe e tio – todos ex-atletas da seleção da Nova Zelândia – não tiveram. Foi em um desses eventos, no último fim de semana em Barueri, que a equipe de camiseta negra sofreu uma rara derrota e acabou o campeonato com a terceira colocação – o título ficou com a Austrália, que superou na final o Canadá, algoz neozelandês na semi.

Gazeta Esportiva: Essa é a terceira vez que você vem jogar em São Paulo. Já está ficando acostumada com as coisas aqui?
Portia Woodman:
É ótimo estar aqui, muito diferente do que eu esperava. Estivemos no Rio antes, lá é muito mais turístico e aqui você pode ver o lado da cultura, o que é muito bonito. Em termos de rúgbi, o Brasil está evoluindo muito bem. As meninas melhoraram os fundamentos, a preparação física, a força. São muito persistentes no campo, só precisam continuar trabalhando.

Gazeta Esportiva: Não foi sua primeira passagem pelo Rio de Janeiro. Conseguiu conhecer as instalações olímpicas?
Portia:
Estive no Rio duas vezes já, sou bem sortuda. Fomos às instalações olímpicas, vimos o campo onde vamos jogar, o que é muito animador. Ainda não tem o estádio lá, mas tudo bem. E pudemos fazer também todas as coisas turísticas, visitamos a praia de Copacabana, o Pão de Açúcar, o Cristo Redentor…uau!

Gazeta Esportiva: Acha que já existe um clima olímpico na cidade e na seleção da Nova Zelândia?
Portia:
O tema Olimpíadas sempre aparece quando a gente vem para o Brasil e tem muito a ver por ser o país-sede, mas também porque a mídia brasileira apoia muito mais o rúgbi do que a de outros países. É ótimo sempre que a gente vem porque há mais exposição do que em qualquer lugar.

Gazeta Esportiva: Participar das Olimpíadas será algo novo para todos os jogadores de rúgbi do mundo – o esporte ficou fora do programa por 92 anos. Imagino que esteja ansiosa…
Portia:
Será uma ótima experiência e um grande privilégio para quem for escolhida para o time. Só por representar a mim, meu país, minha família e todas as pessoas que já vestiram essa camisa no passado e construíram o caminho para estarmos aqui hoje. Sem eles nós não estaríamos aqui. E a possibilidade de jogar na frente dos meus pais nas Olimpíadas, em um palco mundial, será lindo.

Gazeta Esportiva: É a chance de você encontrar atletas de outras modalidades também. Já sabe com quem quer tirar uma foto?
Portia:
Usain Bolt! Ele é o homem mais rápido do mundo. Seria uma grande honra só poder encontrá-lo. Vamos ver se consigo.

Gazeta Esportiva: A Nova Zelândia é a favorita a ganhar o ouro nas Olimpíadas. Como lidar com essa pressão antecipada?
Portia:
Nós temos o nosso jeito, pensamos pouco nisso. Se pensarmos o tempo todo, vamos perder a cabeça e não jogar do jeito que queremos. É jogo a jogo, torneio a torneio. Enquanto estivermos nos divertindo e fazendo o que treinamos, os resultados virão. E se perdemos, mas sentimos que jogamos o melhor possível, ficamos felizes com isso. Os resultados vêm quando jogamos bem.

Gazeta Esportiva: Jogar diante da torcida brasileira não será algo novo para vocês.
Portia:
A torcida é linda aqui, tão barulhenta. Se você a ouve sem ver, parece que o estádio está sempre cheio. É com certeza a torcida mais participativa que temos no mundo. Com o futebol sendo o esporte principal, você poderia pensar que não haveria muita participação, mas acho que os brasileiros amam o rúgbi. Eles amam a paixão e a agressividade do esporte, então a atmosfera que eles criam é ótima.

Gazeta Esportiva: Nas Olimpíadas provavelmente será ainda melhor.
Portia:
Eu sei, eu sei! Mal posso esperar para jogar lá.

Portia Woodman foi eleita melhor jogadora do mundo em 2015 (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)
Portia Woodman foi eleita melhor jogadora do mundo em 2015 (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)

Gazeta Esportiva: Você vem de uma família muito conectada ao rúgbi, seu pai e seu tio jogaram pelos All Blacks. Sua mãe também foi jogadora. Como é continuar no negócio da família?
Portia:
Como eles jogaram rúgbi por toda a vida, sempre foi uma coisa grande na nossa família. Eu sabia que um dia eu jogaria, só não sabia quando. E assim que o esporte virou olímpico, tornou-se uma opção de carreira para nós. Eu saí do netball para o rúgbi e isso é ótimo. E como minha mãe, meu pai e meus irmãos todos jogaram, têm dado um grande apoio para mim. Eles me dão dicas sempre que vou para casa ‘por que você não faz isso?’, ‘tente aquilo’, ‘por que você fez isso?’, ‘você errou aquele tackle’. É incrível.

Gazeta Esportiva: Isso não cria uma pressão extra?
Portia:
Eu não me coloco essa pressão, para mim há mais pressão só de estar com esta camisa negra. Meu pai jogou faz muito tempo, então não me pressiona tanto, mas é meu torcedor número 1 e está muito feliz, muito mesmo, que vou jogar pela Nova Zelândia.

Gazeta Esportiva: Estamos falando de um país que tem o rúgbi como principal esporte. O sucesso dos último anos já transformou vocês em celebridades locais?
Portia:
Para ser honesta, tenho mais fãs fora do país do que em casa. Porque o time principal dos All Blacks têm muito sucesso, então se você não está nele, não é tão reconhecida. O rúgbi feminino ainda está em crescimento, não é tão televisionado, não recebemos o mesmo salário que os homens. É completamente profissional, mas não é o mesmo que o masculino. Então há mais apoio pelo mundo do que em casa, o que é um pouco engraçado.

Gazeta Esportiva: Nos Jogos Olímpicos, um dos possíveis adversários é o Brasil. Como avalia o desenvolvimento das jogadoras da Seleção nos últimos anos?
Portia:
No primeiro torneio delas, ainda eram novas no esporte. Os fundamentos ainda não estavam bem lá, mas tinham paixão e eram jogadoras persistentes, que continuavam trabalhando no campo. Agora a habilidade é muito mais apurada, o tackle, o passe… o entendimento do jogo de rúgbi é muito melhor também. Então elas tiveram um longo caminho e mal posso esperar para vê-las jogar no Rio.

Gazeta Esportiva: Elas têm um técnico neozelandês também, Chris Neill, o que auxilia.
Portia:
Isso ajuda bastante e ele se mantém muito em contato com a nossa comissão técnica e com a de outros times também, Austrália e Canadá, se não me engano. Eles estão sempre conversando e é importante que essa comunicação continue acontecendo.