Lágrimas de despedida - Gazeta Esportiva

01/04/2023 06:00:22
 

Por Rodrigo Matuck – Santos, SP

Pareceu obra do destino. Bastou Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, entrar no Memorial Necrópole Ecumênica, na cidade de Santos, e a chuva veio.

A água que caiu do céu pareceu representar o choro de uma multidão pela perda do maior jogador de todos os tempos. Mais de 250 mil pessoas passaram pela Vila Belmiro em 24 horas de velório.

Desde que foi confirmada a morte de Pelé, na quinta-feira de 29 de dezembro de 2022, as ruas da cidade do litoral paulista foram tomadas de emoção.

O clima de despedida ficou ainda maior na segunda-feira seguinte, quando começou o velório do craque no lugar que foi sua segunda casa. Familiares, amigos, jogadores, autoridades e jornalistas compareceram em peso para o último adeus ao Rei.

A emoção foi evidente, aparecia em qualquer lugar onde os olhos pousavam. Antes mesmo de entrarem no gramado, as pessoas já caíam em lágrimas, que só aumentavam ao lado do caixão do ex-jogador.

Foto: AFP

O velório, aliás, ocorreu em perfeita harmonia. Os torcedores não se incomodaram com a fila de mais de duas horas. “O Rei merece”, diziam.

Dentro do estádio, muitos aproveitavam para registrar o momento histórico em vídeo ou foto, apesar de receberem broncas dos seguranças: “Vamos, gente, andando. Não para, agiliza a fila”. Mas era muito difícil respeitar. Estar ao lado do Rei do Futebol foi uma sensação indescritível.

Na terça-feira, mais emoção. Durante todo o cortejo do corpo de Pelé, uma multidão acompanhou o caminhão de bombeiros.

Torcedores da principal organizada do Santos, jogadores e fãs: todos juntos, saudando e cantando por Pelé. Nem mesmo o calor de 30º C intimidou.

Ao longo dos 13 quilômetros, houve apenas um momento de silêncio total, na casa da Dona Celeste, no Canal 6.

Foi difícil segurar as lágrimas ao ver a família se despedindo do ex-jogador, que também era filho, irmão, pai e avô.

O caminhão de bombeiros parou bem em frente ao humilde e desgastado portão da mãe do craque, que, aos 100 anos, não reuniu condições para ir à sacada dar adeus.

Família de Pelé se despede do Rei durante cortejo na cidade de Santos (Foto: CAIO GUATELLI / AFP)

Na varanda, quem chamou atenção foi Maria Lúcia, irmã de Pelé. Com uma bandana na cabeça e um lenço na mão, lenço este que, inclusive, quase não saía do seu rosto, a senhora de 78 anos chorou muito.

Antes de o caminhão partir para o cemitério, o momento mais silencioso do cortejo: Maria Lúcia orou por quase um minuto. Todos ficaram imediatamente quietos. Na sequência, o silêncio deu lugar a uma salva de palmas.

Em frente ao Memorial, Edson Arantes do Nascimento, o eterno Rei Pelé, foi recebido pela sua família e entrou para descansar.

Do lado de fora, restou o choro dos súditos e a água que caiu do céu.