Jornal que virou bandeira - Gazeta Esportiva
Pedro Nascimento
São Paulo, SP
02/06/2022 06:00:19
 

Em jogos do Verdão no Allianz Parque, é possível encontrar uma bandeira estampando uma capa do jornal “A Gazeta Esportiva” na parte inferior do setor Gol Norte. A edição, publicada no dia 23 de julho de 1951, tem a seguinte manchete: “Palmeiras campeão do Mundo!”.

O responsável por levar a bandeira ao estádio do Palestra é Fabio Yamaji, diretor de animação e fanático pelo clube alviverde. O torcedor encomendou o artefato em agosto de 2020 e, desde então, leva a capa do jornal em tamanho maximizado para todos os jogos do Verdão.

(Foto: Arquivo pessoal)

Em entrevista à Gazeta Esportiva, Fabio voltou ao passado para explicar a relação que construiu com a Copa Rio de 1951. O título intercontinental era um grande trunfo nas discussões futebolísticas que teve durante sua infância.

“Eu sempre fui muito ligado na história do Palmeiras, até porque sou filho da fila. Entre 1976 e 1993 o Palmeiras não ganhou nenhum título, foi quando eu era moleque. Quando era criança, datilografava todos os títulos do Palmeiras. Porque todo ano era a mesma coisa, não ganhava título e era zoação de primos e amigos”, disse o torcedor.

“Então, eu falava: ‘Mas o Palmeiras já ganhou o Mundial em 1951! E o seu time?’. Eles não sabiam. ‘O Palmeiras ganhou três Ramón de Carranzas, seu time ganhou o que?’. A conversa acabava aí. Então, eu me apoiava na história do Palmeiras, porque não tinha como comemorar os títulos. Depois, veio essa coisa de ‘o Palmeiras não tem Mundial’. E tem gente que acredita que nem existiu campeonato, que a gente inventou tudo”, completou.

Liminha marca o segundo gol do Palmeiras contra a Juventus (Foto: Divulgação/Palmeiras)

A Copa Rio de 1951 contou com a presença de oito clubes: Palmeiras, Vasco, Juventus (Itália), Sporting (Portugal), Áustria Viena, Estrela Viena (Sérvia, então Iugoslávia), Nacional (Uruguai) e Nice (França). Depois de três partidas pela fase de grupos, o Verdão eliminou o Cruz-Maltino na semifinal e encarou a equipe italiana na grande decisão.

A final foi disputada em duas partidas, ambas no Maracanã. O Palmeiras venceu o primeiro jogo por 1 a 0, com gol de Rodrigues. No segundo duelo, as equipes empataram por 2 a 2, e o Palestra ficou com o título. Os tentos alviverdes foram anotados por Rodrigues e Liminha.

Para que o título de 1951 fosse homologado pela Fifa, o Palmeiras enviou um longo dossiê à entidade em 2006. Produzido com apoio de Roberto Frizzo, ex-vice-presidente do clube na gestão de Arnaldo Tirone (2011-2013), o material foi publicado em quatro línguas, além do português, e ouviu importantes nomes ligados à competição. Dentre eles, destacam-se o palmeirense Jair Rosa Pinto, o ídolo da Juventus Giampiero Boniperti, e o brasileiro Yeso Amalfi, que defendia o francês Nice em 1951.

A Gazeta Esportiva, inclusive, foi utilizada diversas vezes durante o dossiê para sustentar a tese do clube. Fabio acredita que a edição do jornal publicada no dia seguinte à conquista do título sobre a Juventus é um elemento importante para a legitimação do feito do Palmeiras.

“Quando a gente vai atrás de uma história, vai trás de registros históricos e jornalísticos. A capa do jornal diz que o Palmeiras é campeão do mundo, vou fazer uma bandeira disso e colocar lá. Foi o campeonato que teve mais público dentre todos os Mundiais, que teve mais times, ida e volta na final. São muitos detalhes que tornam esse título ainda mais difícil do que os que vieram depois”, afirmou Fabio.

“Se foi publicado no jornal, é o que temos para provar que aconteceu. Claro que tem também quem viveu aquilo, tem registros de vídeos, a narração do jogo inteiro no YouTube. Agora, no jornal tem a renda, o público, tudo isso na capa mesmo. Se você contesta o título, primeiro explique o que é isso aqui. Por que isso foi publicado no dia seguinte?”, adicionou.

O capitão Jair Rosa Pinto com a taça (Foto: Divulgação/Palmeiras)

Fabio, inclusive, acredita que não há espaço para debate em relação ao título da Copa Rio ser considerado equivalente às taças conquistadas por outros clubes brasileiros nas décadas posteriores: “Quem contesta o Mundial do Palmeiras, eu chamo de terraplanista. As provas estão lá, basta ver”.

O título de 1951 consta no estatuto do clube palestrino. O artigo 139, localizado no Capítulo X do documento, estabelece os parâmetros para a confecção de “uma estrela vermelha, alusiva à conquista da Copa Rio”.

Palmeiras abraça a capa

A emblemática edição do dia 23 de julho de 1951 da Gazeta Esportiva está materializada em dois importantes espaços do Palmeiras. Um deles é o corredor do vestiário do Alviverde no Allianz Parque, local que foi eternizado pela preleção de Zé Roberto antes do jogo contra o Grêmio Osasco Audax, pela primeira rodada do Campeonato Paulista 2015

A Gazeta Esportiva está no vestiário do Allianz Parque (Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

A capa do jornal, inclusive, inspirou o famoso discurso do jogador veterano. Posteriormente, Zé Roberto concedeu entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva no local e comentou sobre o momento que antecedeu a final: “O que me abriu os horizontes quando cheguei ao Palmeiras foi saber que estou em um grande clube, com um passado glorioso. Na preleção, procurei frisar essa marca para que todos pudessem incorporar o espírito que existe ali dentro”.

Capa também está na sala de troféus (Foto: Pedro Nascimento/Gazeta Esportiva)

Em agosto de 2021, o Palmeiras inaugurou sua nova sala de troféus, localizada no Allianz. A conquista da Copa Rio ganhou um nicho próprio no espaço, e a capa da Gazeta Esportiva que noticia o título foi exposta ao lado do troféu do torneio.

O torcedor alviverde pode adquirir a célebre edição da Gazeta Esportiva na loja oficial do Palmeiras. De acordo com a descrição do produto, “o jornal foi reimpresso na íntegra, exatamente como foi às bancas no dia seguinte ao título mundial do Verdão”.

Bandeira estará em Abu Dhabi

Fabio não conseguirá viajar para Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, mas a capa da Gazeta Esportiva marcará presença no Mundial. O torcedor faz parte de um grupo de palmeirenses que têm o costume de levar bandeiras ao Allianz, e sua peça viajará com outro aficionado palestrino.

Em foto publicada por Gómez, a bandeira de Fabio aparece ao fundo (Foto: Reprodução/Instagram)

Fabio admite que o torneio será desafiador para a equipe comandada por Abel Ferreira, mas acredita que o Verdão tem plenas condições de conquistar o título.

“As chances são difíceis. Mas, chegando na final, acho que é 50/50. É difícil, mas é o que vai valorizar mais ainda a conquista. Eu estou muito confiante, acho que vamos trazer o bi Mundial. Não é uma confiança totalmente louca, é vendo o time, sabendo como o time joga, tendo confiança total no técnico. Estou confiante, mesmo sabendo que o Chelsea é um time muito forte, tem um técnico que é um dos grandes nomes dos últimos anos. Vai ser muito difícil. Perder não é nenhum resultado surpreendente. Inclusive, é o que se espera, mas acho que a gente vai trazer”, projetou.

A estreia do Palmeiras no Mundial será na terça-feira da semana que vem, às 13h30 (horário de Brasília), no Estádio Al Nahyan, contra o Al Ahly, do Egito.

Homenagem a um subestimado
Fabio e sua bandeira que homenageia Jorginho (Foto: Arquivo Pessoal)

Além da bandeira com a capa da Gazeta Esportiva, Fabio leva às partidas do Palmeiras uma em homenagem a Jorginho, meio-campista que atuou pelo clube palestrino entre os anos de 1979 e 1986. O ex-jogador é um ídolo de infância do torcedor, que acredita que o atleta não foi devidamente valorizado pelo que fez em campo, devido à seca de títulos em sua passagem pelo Verdão.